sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cíclico

Ela não sabia ao certo quando, nem como, nem por que, mas tinha certeza que já não sentia da mesma forma. As piadas não tinham mais a mesma graça. O beijo não tinha mais o mesmo gosto. O abraço já não era tão apertado.

Ela não sabia quando, nem como, nem por que, mas sabia que algo estava diferente. E era o sentimento. Aquilo que ela já não sentia mais. Algo que ela precisava voltar a sentir e, com certeza, não era mais com ele.

Ela sabia que precisava dizer tchau. Só que também não sabia como, nem quando. Sabia por que. E acabou por fazer da forma mais simples e direta: “Não te amo mais. Pra mim já acabou.”

O peito doeu. Os olhos choraram. A cabeça girou. O sentimento de perda foi inevitável. E a cada lembrança o coração palpitou. Mas depois de um tempo a leveza voltou a tomar conta dela. Aquela leveza de quem anda nas nuvens, de quem canta sozinho, de quem ri de tudo.

Não sabia como, não sabia quando, não sabia por que. Mas sabia que era uma nova paixão.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

CLIPPING

Pois então, tem uma rádio bem bacana na Internet chamada Elo FM. Lá, o Alexandre Lanna Lins tem um programa chamado Blog da Vez, que nas palavras do próprio é um "espaço para quem produz conteúdo de qualidade na internet." O programa apresenta, diariamente, um blog legal.

E nós, aqui do Historias de um Momento, fomos protagonistas de um programa na semana passada. Pode entrar lá e ouvir o que ele diz. Bom proveito!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Arco-Íris dos relacionamentos

É difícil relacionar-se com outras pessoas. Fica ainda mais difícil quando você gosta de alguém que não gosta de você. E por que ela não gost de você? Por que gosta de outra? Dizem que é a diversidade. Que gosto cada um tem o seu. "O que seria do vermelho se todos gostassem do azul?" é o que dizem alguns.
Bobagem. Bom mesmo seria se todos gostassem do azul. Assim não haveria tantos traumas, tantas dores, tantas desilusões. É azul? Gosto! Não é? Não gosto. Fácil e simples. Mas a vida não é assim. Há, claro, os que gostam do azul. Mas também há os que preferem o verde, o vermelho, o amarelo, o preto com listras rosas, o lilás com bolinhas douradas...
E para sobreviver nessa brincadeira de caixinha de lápis de cor o mais importante é descobrir a variedade de tons. Porque pode acontecer de você gostar do vermelho sangue, vivo, forte, aquele que chama muita atenção e ele não gostar do seu azul-céu (por mais sentimentos de paz e infinitude que ele possa trazer).
E é aí que vale buscar por outro tom: um vermelho mais claro, mais escuro, com bolinhas, xadrez, mais puxado para o rosa, puxado para o salmão. Enfim, a aquarela é enorme e há uma imensidão de tonalidades possíveis para se criar no mundo das cores. Com certeza uma vai te agradar. E você também agradará alguém. Mesmo que esteja em um daqueles seus dias desbotados.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

porra! tô puto!

vou contar uma história. outro dia fui a casa de amigo. rolava lá um samba, pagode, quebradeira... sei lá! sei que tinha banda. com tan tan, cavaco, pandeiro, microfone... essas coisas. o som estava legal. minha galera do colégio, como sempre, gente boa e animada. tocavam todo tipo de samba e pagode. ai, o vocal puxou um... "Deus está aqui nesse momento..."

ao som do do cavaco ficou interessante. gosto dessa música há pelo menos uns quatro anos. achei estranho, inadequado (os chicleteiros que me perdoem) para aquele momento, mas... "beleza, é festa, uuh!!". Ele prosseguiu na "pregação": "Deus te trouxe aqui/ Para aliviar os seus sofrimentos ô ô ô". eu até cantava junto. chegou o refrão, cantei de novo (é a parte mais bonita da música).

mas o foda começa agora: o bicho esqueceu o resto da letra e começou a solfejar e inventar uns trechos lá: "fulano de tal, me traz um cervejaaaaa ô ô ô". ah! não.. perai! ai eu fiquei puto. pô, tudo bem que o cara toque uma música religiosa num antro de cachaça, pagode e, acidentalmente, onde a putaria comportamental pode rolar solta (leia-se pegação). mas zombar da palavra de Deus já é sacanagem.

explico. não sou um exemplo de conduta. mas costumo ir a igreja quando posso. não sei explicar por que. mas gosto de estar lá. essa música é um símbolo. mas, bonita e triste, teve a infelicidade de ser alçada pela galera do chiclete com banana (acho que foram os caras que gravaram). ai, banalizaram a coitada e reverteram totalmente a função social que ela se propunha.

no meu carnaval, por exemplo, fui comprar uma cerveja numa conveniência e lá tinha um carro parado, com a mala aberta, escutando essa música. ao redor dele, um monte de bêbados, cantando e dançando. o motorista dava tavas na bunda da namorada enquanto entoava "ô ô ô". minha silenciosa indignação começou ai.

e ela se traduz num lado quase-religioso-social e noutro pessoal. mais uma vez, explico: a primeira vez que escutei essa música ao som do violão, eu acompanha o cortejo que levava o corpo da jovem maria clara (cês lembram dela) até o local onde seria enterrado. naquele momento, mesmo lá como repórter, não tive como não me comover, sobretudo, com essa parte: "e ainda se vier noites traiçoeiras/ se a cruz pesada for/ cristo estará contigo/ e o mundo pode até fazer você chorar/ mas Deus lhe quer sorrindo".

por isso adquiri um carinho especial por ela. de lá pra cá, a escuto sempre com muito respeito. ai vem o chiclete com banana (demolidor que me perdoe) e esculhamba com tudo. agora, a música virou um hit para animar as cachaçadas. repito: não sou um poço de religiosidade, muito menos sei interpretar a palavra de Deus como se deve, como meu amigo dieguito amorim. mas acho um desrespeito. e tô puto!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Tudo azul

Conheci uma dama que nunca aprendia. Saia, se exibia e, todo dia, encontrava aquele que lhe queria. Não era bem um gatão. Nem lhe servia muito bem. Mas, pra uma noitada na cama, àquela hora tudo caia bem. Foi-se um dia, depois outro. Alegria, alegria, não era bem o que a moça sentia. Mas a satisfação do momento lhe dava forças pra levantar e ir trabalhar. O máximo que conseguia, era pensar, sempre com nostalgia.

Foi quando, num belo dia, a noite, que já era escura, ficou confusa. E ela pegou-se olhando uma blusa azul, no meio de uma festa toda vermelha e preta. Baile de tradição. Coisa de gente que gosta das mesmas coisas e das mesma gente. Não era bem o caso dela. O que será aquele ponto azul no meio daqueles espantalhos? Não sabia. Aproximou-se. Não devia. O azul sumiu. Ela ficou sem saber aonde ia.

Esperou e nada! Resolveu embrenhar-se por pensamentos vermelhos ou pretos. Era bem mais fácil se dar bem. Parou, bebeu, sorriu, dançou, sentou e... sentiu um braço forte por trás a abraçá-la. Beijaram sua nuca. Ela avistou o braço, a camisa azul. Sorriu, cerrou os olhos, passou o queixo naquela pele delicada, mas forte. Entregou-se, de olhos fechados. Sentiu uma força a virar-lhe o rosto. Entregou-se mais ainda. Sentiu lábios. Primeiro no rosto, depois na boca. Beijou. Beijo demorado. Isso é coisa de homem apaixonado, imaginou.

Olhos ainda fechados, estendeu o beijo a um abraço. Resolveu acordar. Viu, apertou os olhos. Pra que? Não era o que imaginava. Aquilo era uma mulher. Não tinha nada com nada. Asfastou-se. Recebeu um sorriso malandro de uma mulher sem muito a perder. Viu o azul desaparecer. Estava chocada, revoltada, evergonhada. Mas encantada. Nunca receberá um abraço daqueles. Bebeu pra esquecer. Dormiu e acordou. Tudo estava azul.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Não deu valor

Doía como costumam doer as grandes perdas, mas aquela tinha algo de diferente. Não sabia se pelo fato dele nunca ter sido realmente dela, ou se pelo fato dela nunca ter sido realmente dele. Mas é certo que doía ainda mais pensar que ele queria ser dela e ela não quis. Brincou, usou, deixou em stand by, desprezou e acabou perdendo. Talvez doesse também por conta da triste melodia que tocava no rádio do carro. E mais ainda pela letra da música que dizia tudo que ela deveria ter dito.

E agora, o que eu vou fazer?
Se os seus lábios ainda estão molhando os lábios meus?
E as lágrimas não secaram com o sol que fez?

Doía como costumam doer as grandes decepções, mas aquela tinha algo de diferente. Porque ela é quem havia se decepcionado. Ela tinha jogado contra ela própria, achando que o teria no momento em que quisesse. “É um guri bobo. É só chamar que vem correndo”, pensava. E assim fez por várias vezes. Chamado atendido, ela recebia o afago que queria, divertia-se com o rabo abanando do seu cachorrinho e depois o botava para dormir do lado de fora. E a música ainda trepidava as caixas de som do seu veículo.

E agora como posso te esquecer?
Se o seu cheiro ainda está no travesseiro?
E o seu cabelo está enrolado no meu peito?

Doía como costumam doer os choros silenciosos, mas aquele tinha algo diferente. Porque o silêncio de suas lágrimas era rompido por um leve soluçar e pelo eco de seu próprio pensamento que gritava “Burra! Burra! Burra!” a cada lembrança de um bom momento vivido ao lado dele. Momentos que não se repetiriam mais. Porque agora ele havia achado um lar. Alguém que o queria de verdade. Alguém que não o via como um brinquedo para horas de monotonia.

Espero que o tempo passe
Espero que a semana acabe
Pra que eu possa te ver de novo

Doía como costumam doer as despedidas inesperadas, mas aquela tinha algo diferente. Porque ela poderia tê-la evitado, mas não o fez. E agora sabia que não o veria de novo, mesmo após acabar a semana. E no carro, foi-se embora. Sem saber como não percebeu que ali estaria sua alegria, que ali poderia repousar seu futuro.

E agora como posso te perder?
Se o teu corpo ainda guarda o meu prazer?
E o meu corpo está moldado com o teu?


(Música: N, de Nando Reis)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ficou pra trás

Continuo te acompanhando, sabe? Mesmo à distância eu sigo teus passos. Sei de cada movimento seu, cada lugar que freqüentas, enfim. Mesmo que pelos outros, eu ainda consigo ter alguma noção de como anda teu desenvolvimento.

Ontem, por exemplo, te vi entrando naquele café e pedindo o mesmo chocolate quente acompanhado de biscoitos. Outro dia te vi na porta da banca de jornais, com o dedo a enrolar o cabelo – o maior indício de sua dúvida – analisando duas capas de revistas daquelas que prometem dar dicas de como enlouquecer o homem na cama, ou alguma dieta mágica que te faça perder 10 quilos em dois dias.

Sei também das festas que você vai. Sei dos porres que toma. Das surras que leva da vida e até das alegrias que tem tido. Teu gato novo, aquele angorá, é bem bonito, por sinal.

Vejo tudo. Acompanho cada etapa do seu dia. De o seu espreguiçar nas primeiras horas da manhã, ao seu adormecer nos últimos minutos do dia. Vejo tudo do meu retrovisor, como quem enxerga o caminho que ficou para trás numa longa viagem.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Obrigado

- Obrigado por te esquecer.

- O que? Como assim?

- É. Obrigado por te esquecer. Foi melhor assim mesmo.

- Que mesmo? Que assim?

- Obrigado por não pegar na minha mão quando precisei, por calar quando queria te ouvir, por dançar quando te queria ao meu lado e por parar quando eu queria dançar. Obrigado por fugir, por só ficar, por não estar. Obrigado por nunca me agradecer, nem sorrir e me chamar para sair. Valeu mesmo por me atender e me despistar com aquela desculpa sorridente. Obrigado por me levar a sério só quando lhe foi conveniente. Por gostar de mim apenas nas tuas noites vazias e saber fazer só o que pra mim você não devia. Obrigado por ser assim. Agradeço-te pela falta de carinho, de consideração. Ter-te é um espinho. Obrigado por não teres flores na mão. Com você, aprendi qual o meu caminho. Falta agora ensinar a meu coração.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Parceria

A amizade entre os dois era evidente. Impossível não notar. Bastava passar em frente ao prédio em que moravam para vê-los, diariamente, sentados no banquinho. De manhã cedo, na hora do almoço, no fim da tarde. Sempre que possível lá estavam os dois. Inseparáveis.

Mesmo em silêncio era possível notar a cumplicidade entre eles. Sentados, um ao lado do outro, trocando carinhos. O papo devia variar entre o clima, a vida, as notícias do jornal que ele carregava debaixo do braço. Enfim, aquilo não interessava. O importante para os dois era estar lado a lado.

Vez ou outra levantavam-se do banco e davam um passeio. Esticar as pernas era importante para os dois. Não estavam mais em idade de muitas aventuras e uma breve volta pelos arredores já devia cansá-los. Por isso a brevidade das caminhadas

Mesmo com todo esse ambiente de alegria e cumplicidade, ao vê-los, meu maior pensamento era sobre a morte. Sobre qual dos dois ela visitaria primeiro. Qual dos dois ficaria sozinho. Qual deles tentaria levantar e sentar no velho banco sem a companhia do companheiro.

Cumplicidade, amizade, parceria, companheirismo, amor. Tudo isso faz parte de um relacionamento. Ainda que seja como a dos dois. A bela relaçãao entre um velho homem e um velho cachorro.