sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Cartão de Natal

Coração fechado,

Você sabe que não acredito em frases radicais do tipo “nada é para sempre”. Também não sou ingênuo para acreditar que todos os seres humanos são puros. Mas mesmo com essa impureza, uma característica deve ou deveria ser sentida para sempre: gratidão e reconhecimento.

Acredito, sim, no tal “não cuspa no prato que comeu”. O famoso dito não serve apenas para relacionamentos. Serve para que você não saia falando mal da sua amiga, chamando ela de gorda – quando na verdade o seu sonho era entrar nas calças que ela entra – porque discutiu, por algum motivo imbecil, com ela. Não tente humilhar seu irmão porque ele fez alguma coisa que você não gostou. E, logicamente, também vale para namoros, casamentos e afins. Não queira jogar em cima de mim uma culpa que é única e exclusivamente sua. A terapia está aí, por que você não tenta?

Quando uma relação se esgota, mesmo que não tenha sido você a motivadora do fim, não fale mal do seu passado. Certamente muitas alegrias ele te deu. Você é hoje o que aprendeu dele. Mas a cada dia vemos mais e mais o contrário. As pessoas renegam o que viveram. Destroem-se, destroem o coração e a dignidade de seu parceiro. E depois ela sai por aí dizendo que a culpa do fim foi o fato dele ter feito alguma besteira. A morte de Tiradentes revivida no amor. Atira no ex e sai jogando seus restos mortais para o resto da população.

O ano está acabando e, como sempre, é importante colocar na balança os feitos positivos e os negativos. Valorize sempre as coisas positivas. Amizades fortes que só dependem de ti para serem duradouras. Uma conversa franca com sua mãe, pai, irmão, avô. Os momentos de risadas, de prazeres, de conhecimento.

E aprenda com as coisas ruins. Por favor, aprenda. Não volte a errar o que você está errando agora. O que você errou comigo. Particularmente, aprendi muito este ano. O maior ensinamento que recebi foi: "Não adianta amar quem não quer, nem merece, ser amado". Perda de tempo. Apenas isso. Então não volte a parecer disponível para os outros enquanto você está indisponível para você mesma. Não se iluda com a ideia de que é amada por alguém quando nem você mesma se ama.

Para terminar, digo que é importante planejar o seu próximo ano. Ponha no papel todos os feitos que você quer realizar. Suas metas, seus sonhos. Mas não se esqueça de pensar no que fará assim que acabar de ler este texto. O agora é a mão que abre a porta do amanhã. De que adianta focar apenas na próxima temporada, se a qualquer segundo pode ocorrer um fato novo que mude sua vida? Esteja preparada.

Feliz Natal. Feliz Ano Novo. Boa sorte.

De um coração partido

domingo, 18 de dezembro de 2011

Carta de (des) amor II

Fernanda,

Eu to cagando pro seu papel bonito e perfumado. Igual a esse eu tenho uma dúzia de rolos no banheiro que me servem pra limpar a bunda.

Sua história? É isso que você quer? Sua história é a de uma menininha burra que nunca tinha saído do mundinho de proteção que os pais criaram. A de uma menina sem vida, sem conhecimento, sem vivência. A virgenzinha que sonhava em casar com o príncipe encantado, ter filhos e cuidar da casa até morrer. Essa ERA a sua história até eu aparecer e te mostrar a vida.

Não fosse por mim você estaria casada com algum daqueles merdas de vizinho que sua mãe tem e vive achando que são os homens ideais pra sua vida. Não fosse eu você teria perdido a virgindade no escuro, com um barrigudo de meia social preta que teria bombado até gozar e saído de você. E você acharia até hoje que isso é sexo. Ou melhor, acharia que isso é amor. Essa é a sua história, “Fê”!

Não fosse eu você não teria estudado, não teria aprendido idiomas, não teria viajado o mundo. Não fosse eu você não teria comprado um carro, não teria um diploma, não teria sonhos. E agora você vem com esse papo de viver a SUA vida?

Quais são os seus desejos? Por que nunca os dividiu comigo? Por que fingiu por tanto tempo que estava tudo bem? Por que aceitou tão passivamente as minhas opiniões e certezas? Não era pra ser assim. Eu sempre te quis independente, mas me parece que você não entendeu assim. Você se livrou da cidade interiorana, mas a cidade interiorana não se livrou de você, né? Seu pensamento mínimo ainda está aí, cravado na sua cabeça. E eu só posso sentir pena.

Os meus sonhos são realmente meus. Os meus sonhos são o que busco realizar. Você estava encaixada em vários deles. Outros muitos foram sonhados pra você. Mas há tempos parece que você se colocou fora de tudo. Dos meus, dos seus e dos nossos sonhos, planos e vidas. E agora quer dizer que vai viver? Viver o quê? Duvido que você dê conta de alugar um apartamento. Até pensei que sim, mas depois disso tudo, duvido.

Mas você que se foda. Você que se vire. Você que busque seja qual for a merda que tiver na cabeça. Eu não to nem aí. Vou é viver minha vida patética com a piranha que acha que sou rico, bonito e poderoso. Ela, pelo menos, não se priva de dizer o que pensa olhando na minha cara.

Boa sorte. Mas quando quebrar a cara no mundo, por favor, não volte chorando. A porta não vai estar aberta.

PS: cheire esta carta. Esfreguei a bunda nela.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Carta de (des) amor

Pedro,
Me desculpe se, pelo envelope bonitinho e a folha perfumada, você está pensando que essa será mais uma das minhas cartinhas de amor para você. Não é. E já te aviso logo porque não há o menor problema se você quiser parar de ler por aqui. O recado já está dado: não é uma carta de amor, sim de despedida.





Se você partiu para esse segundo parágrafo só posso dizer uma coisa: agora é por sua conta e risco.

Estou indo embora, Pedro. Estou deixando você para não deixar a mim mesma. Estou buscando uma vida longe da sua, para poder ter a minha própria. Minha história já que não podemos ter a nossa.

Entenda que eu sou uma mulher com desejos, sentimentos e opiniões. Entenda que todos os seres humanos são assim. Quem sabe partindo deste princípio você deixe de querer ter sempre a opinião correta, verdadeira, definitiva e passe a ouvir os outros. Passe a acatar os conselhos que lhe dão. Passe a ceder um pouco e realize os desejos de outros que não são os seus.

Estou indo embora, Pedro e, desta vez, é para nunca mais voltar. Compre um espelho novo, olhe para sua cara e perceba quão patético você é. Um choque de realidade não te fará mal. Só você acha que é tão poderoso, rico e bonito quanto você pensa. Quer dizer, você e aquela piranha com quem você anda saindo, achando que me enganava. Outra coitada enganada. Acha mesmo que você é rico.

E você um completo idiota. Que não sabe que ela só está interessada no seu suposto dinheiro e quando não está com você sai por aí com muitos outros. Esses, ricos de verdade. Realize, Pedro. Sua vida é um fracasso.
Tchau. Não me procure, não me ligue, não queira saber de mim. Não há nada mais aqui que eu possa te oferecer. E nem que tivesse. Seja feliz com sua vida patética. Realize seus sonhos sozinho, afinal, eles são seus. Nunca foram nossos. E morra sozinho também.

Fernanda


PS: deixe de ser ridículo e pare de cheirar essa carta. O perfume não é meu. É da piranha. Eu nunca usaria coisa tão barata e doce.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Os sonhos são seus

Olha, eu estava aqui na minha. Quieto. Foi você quem chegou falando um monte de coisas. Foi você quem me tirou da minha serenidade e dos meus objetivos. Meus planos eram outros. Inclusive, apaixonar-se não estava entre eles. Mas você chegou. E me ganhou.

Mas os sonhos são seus. Eu nunca quis conhecer o Pantanal. Aliás, nem de mato eu gosto. Quem trouxe promessas e delírios foi você. Quem imaginou um futuro pra nós dois foi você. Eu embarquei, sim. Eu me deixei levar. Fui na inércia do calor da paixão. Fui acompanhando o curso do rio que leva teu nome.

Mas sabe, lá atrás, quando apaixonar-se não era uma opção, eu tinha outras opções. Eu queria estudar. Eu queria fazer um filme. Queria dançar e cantar no videokê do boteco da Dona Marta. Quando você apareceu eu só queria um cafuné e não toda a carga de possibilidades e planos que você me deu.

Eu não quero escolher as férias do próximo verão. Eu não quero optar entre caramelo ou cereja. Não estou nem aí se o sofá será de dois ou três lugares. Só quero voltar àqueles sonhos que eu tinha no começo.

E entre eles, desculpe, estava fazer um filme. Um filme sem mocinho. Não tinha príncipe encantado. Não tinha viveram felizes para sempre. Esses sonhos são seus. Vá vivê-los, mas não espere por mim.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Atrás do prédio da piscina*

Os sonhos têm poder. O Luquinha que o diga. Se apaixonou após sonhar com uma colega de classe. Quando chegou no primeiro dia de aula, lá estava ela. Aluna nova. Cabelos loiros. Escorridos. Corpo lindo. Liberava um ar de seriedade. Quase não olhava para os lados. O jovem Lucas, 15 anos, espinhas na cara, braços torneados pela maromba que virara moda entre os colegas, fã de playstation, música e livros. O cara era quase o símbolo da contracultura pop do colegial. Ao tempo que parecia pertencer à ala dos bombados de cabeçaa oca, surgia no palco tocando piano em dia de feira de artes.

Luquinha sempre foi um homem de dotes. Um líder em potencial. Mas a Sabrina... Ahhh! A Sabrina. Essa não se importava muito com aquelas qualidades, tão apreciadas pelas outras ninfas que perambulavam ao som do pancadão dos ipods. Aquilo o intrigava, claro. Quando somos jovens, é fácil nos entender. Queremos sempre o que não temos ou o que não vende. Apreciamos o proibido e escolhemos o mais difícil. Eis ai o problema da adolescência.

Pois bem. Luquinha já andava nervoso. Tentou conversas e nada. Fez cestas mirabolantes no basquete para atrair os olhares de Sasa e nada. Mandou cartas anônimas para instigar a curiosidade da moça... nada! Pediu que um amigo, o mais popular e desejado da escola, azarasse a moça, mas... nothing! Foi então que ele deixou de lado. Deu um tempo.

Sabrina não era dali. Tinha vindo de outra cidade, mais moderna, maior e mais rica. Devia estar achando tudo um saco. E mais: estava se dando bem com as colegas de turma e estudava bastante. Para não bancar o chato, se afastou. Mas continuou apaixonado, nutrindo aquele sentimento.

O fim de semana da Feira de Ciências chegou. Muita movimentação na escola. Luquinha estava ansioso. Faria uma apresentação com sua banda.  O cara cantava bem. Antes das apresentações, gostava de ir para os fundos do prédio da piscina. Local discreto. Quase desconhecido. Escondido.

Tomou o rumo de violão na mão (não era sua especialidade, mas ele tocava) para aquecer a voz. Sumiu por detrás da sala de máquinas. Dobrou a pilastra. Parou. Branco. Imóvel. A sua frente, Sabrina. Encostada na parede, a moca beijava com voracidade uma garota desconhecida, à paisana. Talvez de fora. Talvez não. Talvez namorada dela. Talvez não.

Deslizava a mão por aquele corpo feminino, apertando-o. Como pode? Durante o estalar de lábios, ela abriu os olhos. Avistou Luquinha, ali tão diminuído quanto o carinhoso apelido que lhe deram. Continuou a beijar, sensualmente, para provoca-lo. Depois parou.

Sorrindo, disse com naturalidade para aquela com quem se entrelaçava. "Esse é o garoto". E aproximou-se dele. Parou em sua frente. Escorregou a mão direita por sua nuca e beijou-lhe com força, demoradamente, apalpando-lhe a bunda e as costas. Apos três dúzias de segundos, descolou e encostou delicadamente o indicador nos lábios do assustado Lucas, como se pedisse silencio. Falou:

- Você é muito talentoso... E insistente.

Calado, ele começou a andar de volta ao seu mundinho. Não conseguia pensar em nada.

Moral da historia:
Não importa a idade, as mulheres sempre nos surpreendem. Heheh

*Texto do Toty Freire, que por questões técnicas não conseguiu postar sozinho hoje!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ria de mim

Eu pensei bastante. Agora, depois de certo tempo, eu percebi. Não fiz nada errado. Não fui mau, não te destratei, não te desrespeitei. Fui somente eu mesmo, na melhor essência de mim.

Mas você não quis assim. Você não quis de modo algum, aliás. Você simplesmente não quis. Sem razão, sem por que. Só porque achava que não dava mais. E eu ali, pronto pra arrancar meu coração do peito. E dá-lo à você numa bandeja de ouro, com o colar de pérolas e o anel solitário. Brilhante.

Mas depois de tanto tempo vejo que eu não errei. Quem errou foi você. Quem se enganou foi seu preconceito. Você nunca seria capaz de me apresentar à sua família. Gordo, grande, desengonçado, piadista. Totalmente fora do teu (ou da tua família) ideal de Deus Grego que sonhava em apresentar à vó, aos tios e aos primos.

Tudo bem. Eu não guardei magoa. Achei até que foi bom pensar nisso e me conhecer melhor. Agora sei a quem devo e posso agradar. Agora sei quem não devo cortejar por mais tempo que os dez minutos que, normalmente, levamos pra se saber o nome e as intenções mínimas.

A você desejo o bem. Seja feliz ao lado do seu Apolo de corpo perfeito. Seja a mulher mais bem realizada junto ao teu Adonis romântico.

Só espero que você ria e sorria tanto quanto comigo. Afinal, foi teu sorriso que encantou a mim. E a ele. Mas quando o conheceu, ainda era de mim que você gargalhava.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Namoro, não

Eu sei que isso não parece muito másculo e que meu papel nessa atual-possível-futura relação era de provedor, de alguém que te acalentasse e te abraçasse quando você se sentisse triste ou qualquer coisa do tipo. Sei que eu devia ser forte e corajoso. E sei também que medo é coisa de criança acanhada sentando forçada no colo do Papai Noel feio do shopping pro pai tirar uma foto, mas é que eu sou assim.

Cagão, travado, medroso, bunda mole, covarde. Pode usar qualquer desses termos ou um novo que venha à sua cabeça. Eu já não me importo mais. São anos e anos convivendo com isso. Até terapia já fiz pra ver se passava esse meu medo de relacionamento. Mas ainda não foi dessa vez.

Então, desculpa. To fugindo mesmo. To saindo por qualquer tangente, inventando morte de tia, vó e até da mãe pra poder não te encontrar. Tudo porque a gente já chegou naquele estágio onde todo mundo quer saber se as coisas vão ou não pra frente. E é melhor não ir, viu? Pode perguntar pras outras que tentaram. Daqui pra frente, só piora.

Deixa assim. Foram bons esses dias. Eu me apaixonei de verdade e acho que você também, né? Por isso, mais uma vez, desculpa. Mas antes que a paixão vire amor desenfreado eu tô indo embora. Eu não sei namorar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Amor próprio

Uma amiga minha, dia desses, perguntou se eu estava amando. Foi aí que me dei conta. Estava sim. Aliás, estou. Estou amando muito. Muito mesmo. E o melhor é que a paixão é correspondida. Estou amando a mim mesma. E essa mim mesma também me ama. Por isso estou tão feliz.

Meu amor é todo meu. Por isso estou cuidando de mim. Voltei a malhar, comer bem, sair com as amigas, fofocar, ver novela, fazer as unhas, cortar o cabelo do jeito que eu quero. Estou linda. Nunca recebi tantas cantadas. E nunca disse tantos nãos. Não quero, não preciso. Eu me amo e agora só quero quem me ame de igual pra mais.

Assim vivo bem. Assim me protejo de babacas como você. Me livro de doentes como o Douglas. Não me aproximo de ciumentos como o Leonardo. Fico bem longe de sanguessugas como o Rafael. E estou cada vez mais perto de mim.

Estou mesmo feliz. E espero que você também esteja. Apesar de que não tenho a mínima esperança de que você deixe de ser mané. Piada pronta.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Marcas que ficam

Você foi embora fisicamente. Mas tua presença permanece aqui. Nas lembranças de momentos vividos em cada cômodo desta casa. No rastro dos teus chinelos que se arrastavam entre o quarto e o banheiro durante a madrugada. Você permanece aqui. Teus fios presos na escova de cabelo. O vidro do perfume que ainda respira teu cheiro.

Tua meia azul, que você usava para dormir no frio, ainda está lá no fundo da gaveta. A escova de dentes também, guardada no estojo. Até a marca do vinho no estofado do sofá. Você bebia, ficava altinha e perdia um pouco a coordenação. Marcas que você deixou.

Ainda tem iogurte na geladeira. E tua margarina preferida. Mas deixei de comprar o queijo minas porque estraga rápido e eu não dou conta de comer sozinho. O quadro da sala continua torto, como você “arrumava” pra dizer que a arte tinha que ser vista por mais de uma perspectiva.

Você se foi. Mas é como se eu ainda vivesse aqui contigo. Então, te pergunto: por que você não volta de vez?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A chatice está nos olhos de quem vê

Ainda estou tentando entender. Melhor, aprender. Me deixar levar, mas sem me entregar demais. Começar a sentir o arrepio, as tais borboletas no estômago, mas saber segurar a onda e não surtar se ele não ligar todo dia. E, principalmente, tento ser eu a pessoa que não liga todo momento. Nem manda recados, e-mails e mensagens.

Um reclamou que era grudenta. Outro disse que era incômodo, pois não podia atender sempre e como ele não atendia, eu ligava mais e mais. E o último foi mais direto e me mandou à merda com ligações mensagens de texto e recadinhos no Facebook.  E eu não quero mais ouvir nada disso. Pelo menos, não de você.
Mas é que tem toda essa urgência aqui dentro do meu peito. Parece que é saudade, mas é mais. É uma vontade de te devorar, te consumir pra ver se me sacio com você feito aquela pizza gelada e solitária na madrugada, depois da balada onde nada, ninguém e nenhum lugar foi interessante pelo simples fato de você não estar por perto.

Aprendizado. É meu novo lema. Autocontrole. É minha nova palavra mágica. Eu sei que te liguei há menos de meia hora, mas... sabe? Eu só queria ver se tá tudo bem mesmo. Você foi tão sucinto nas suas palavras. Será que se incomodaria se eu mandasse um SMS? Não! Autocontrole. Opa! Ele tá online no MSN. Vou mandar só um smile. Se ele responder eu continuo. Se não, desligo e sumo.

=)

Oi! Que bom você tá aí! Aquela hora não pude falar direito. Estava na sala com meu chefe e fiquei sem graça de te ligar de volta. Na verdade, tô a meia hora pensando se ligo ou não ligo. Fiquei com vergonha e você me achar um chato grudento.

Que nada, bobo! Pode ligar sempre que quiser. Desde que eu também possa...

Claro. Vou adorar acordar com um bom dia seu, nem que seja ao telefone.

É o homem da minha vida!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Historinhas de avião

A Classe C quer voar, disse certa vez a manchete de uma revista semanal. Você ai, acostumado a viajar com cara de poucos amigos, lendo seu livro (agora o seu tablet), conversando pouco, pedindo água num toque do botãozinho e etc, tem de entender a gloriosa ascensão dessa classe espontânea, cheia de praticidade e sorriso no rosto. Ela é pura alegria.

O que já vi nos últimos anos de voos foi uma transformação que rende histórias, no mínimo, interessantes.

Como no dia em que comecei a sentir um cheiro de tangerina (mexirica, para os brasilienses) no avião. Olhei pra trás e lá estava a moça, descascando na buena e aquele cheiro ácido exalava no ar pressurizado. Ela tirou um saco da bolsa e dentro estava a fruta. Comeu todinha. Confesso: quase peço um pedaço pra ela. Tava bonita.

Outra: certa vez saía do avião quando uma senhora insistia em me dar um fone de ouvido da Tam. Eu recusava, solenemente, e ela não entendia o por que. “Mas a (aero)moça disse que a gente pode levar. É de graça", continuava. "Eu sei, minha senhora, mas eu não quero", retruquei, sorrindo e virando a cara.

Ah! Se há algo perigoso nos dias de hoje é viajar na janela. Os passageiros de primeira têm mania nelas. Uma fissura. Certa vez curtia um cochilo nesses voos da tarde quando acordo com uma cabeça perpassada em minha frente. O corpo do marmanjo quase deitava no meu colo. A testa grudava na janela. E ele, com uma camisa da Diesel azul bebê e uma calça jeans meio esverdeada e cheia de rasgões, sorria como uma criança. Toquei levemente no seu ombro pedindo licença. Ele afastou e, sorrindo, soltou: "Bonito, né?"

Muito. Bonito também foi a cutucada que uma vovó deu na passageira que viajava ao meu lado. A moça, sonolenta, decidiu inclinar o assento. E levou três dedadas na cabeça. "Ei! Tem uma criança aqui atrás". Sim, e ai? A mãe se desculpou pela atitude da vovozona sem noção e a moça, calma, voltou a dormir. Na certa ela pensou que o banco inclinaria igual a carro, ônibus, sei lá, e imprensaria a criança. Vai entender.

Enfim... Antes que me chamem de preconceituoso e etc, quero justificar minha análise comportamental. Tudo isso ai acima são situações cotidianas, fruto de uma admirável ascensão das classes menos abastadas. Muito bom para o país, aliás. Cabe a nós encararmos com leveza esses, digamos, choques sociais.

Fui! Volto em 15 dias...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Crediário da dor


Ainda pago as prestações do nosso amor. Tuas promessas que eu acreditei, aceitei e que você jogou a prazo. Um dia, daqui um tempo, mais pra frente. Sempre foram estas tuas palavras quando eu fazia planos. E assim me deixava por você. Anos e anos sem pensar em mim. Anos e anos só olhando pro teu umbigo, enquanto o meu implorava por um beijo, fosse escondido em um casaco ou escancarado na baby look.

Ainda somo os prejuízos, as dívidas pendentes do tempo que você me dominava. Da época que eu me deixava de lado. Do período que você estava em primeiro plano, sempre me deixando à sombra dos teus atos. Sem brilho próprio, ainda que cheia de brilhantes. Sem cor de vida pela tua eterna escuridão a me rondar. Sem tesão por nada, enquanto você sugava minha juventude e gozava com as outras por aí.

Dividi em muitas parcelas. Já são dois anos que passei a ser eu mesma. Que voltei à minha vida. Mas pago, mês a mês, cada centavo do que você me tirou. Cada dia junto um trocado de autoestima, um punhado de amor próprio, o troco do pão de cada assobio que ouço do peão na rua. E assim me levanto.

Teu crediário está chegando ao fim. Amanhã eu me liberto. Pago a última folhinha do carnê. Já me sinto feliz, já me sinto bela, Já cuidei de mim. Falta um detalhe. Amanhã vou dar pro Fábio. Quem goza por último, goza melhor.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Dói, mas sempre passa


"Quem sabe o que é ter e perder alguém sente a dor que eu senti".

Quem teve um amor colegial sabe. Aquele sofriiiido. Dolorido. Chamo de amor do fim do mundo. Porque com aquela perda a gente dificilmente acredita que vá sobreviver. Todo coração que se preze teve um assim. Ao menos unzinho um momento da vida.

É o instante da descoberta. Quando o coração massacrado descobre que pode amar. Ali a gente praticamente nasce. Se desmonta em lágrimas até sobrar choro e faltar lágrima. Até quando, meu Deus? Me ajuda, meu Deus. Quero morrer. Vou morrer. Não posso morrer.

Os primeiros dias são daqueles. Quem sentiu lembra. A gente acha que jamais vai se recuperar. Jamais será o mesmo. E, claro, mudamos mesmo. Quem sofreu feito cachorro louco sabe que se tornou uma pessoa melhor.

Hoje, aguentamos o tranco. O amor colegial nos ensinou a crescer. Apresenta a independência. Valoriza amizades e cultivá-las. E mais: mostrou que um grande amor só é mesmo grande com o tempo. No começo, são apenas palavras. Pequenas palavras.

O momento sofrido e marcante serve também pra olhar em volta e ver quem está conosco. Os amigos de verdade aparecem. Os pais se aproximam. Os irmãos olham penosos. Aproximam-se em profecia: tudo vai dar certo.

Levo na bagagem uma frase importante, ouvida anos depois do meu périplo colegial. De um amigo. Fera nessas coisas de coração. O cara tem frieza e racionalidade. Pé no chão. Armas essenciais contra o desespero de um coração emocionado.

Disse, sabiamente:

Rapaz, nessas horas, senta e espera. Uma hora passa...

E passa?

Passa. Um dia passa.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Não tem clichê


Eu poderia usar todos os clichês românticos para tentar explicar o que sinto e ainda assim não seria possível.

Porque dizer que meu coração é seu é muito pouco. Não só o coração, mas a cabeça – que deveria estar pensando em trabalho e nessa pilha de papel na minha mesa – também é sua. Tudo que me vem a mente traz você junto. Um cheiro, uma cor, uma música, nosso prato favorito, o sorvete de chocolate com gotas de chocolate, as havaianas lilás tamanho 35, o pote azul metálico de creme...  tudo é você.

Mais do que exaltar que te amo, é preciso explicar que ate ontem eu só amava a mim mesmo. Eu era a pessoa mais importante do universo e mais ninguém. Meu prazer, minha vontade, meu desejo, minha preferência. Eu, eu, eu, eu. Até ontem. E como explicar essa mudança? Como explicar essa constante preocupação que queima aqui dentro para saber se você está bem, se comeu, se dormiu, se teve dor de cabeça, se bebeu água, se lembrou de levar um casaco. Estou parecendo uma mãe!

Só que não ha clichê que explique isso. Felizes para sempre, alma gêmea, cara metade, tampa da panela, chinelo velho para o pé cansado, metade da laranja, feitos um para o outro. A mim não importa o nome que você dê. Desde que nunca exista o coração em pedaços.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Instrumental


Quero te dedilhar. Feito um baixo. Seis cordas. Passar meus dedos e te sentir vibrar. Ouvir o grave do teu gemido.Tapping, te ouvindo ressoar.

Te colocar entre meus lábios. Sentir teu gosto amadeirado, tal qual a palheta 3 e ½ do meu saxofone. E te linguar, lamber. Soprar. Apertar todas as teclas. Ouvir teu grito. Alto, baixo, tenor, barítono, soprano, contralto. Todas tuas potências.

E vou te bater. TUM. Ritmado. TUM. TUM. A mão no teu couro. TUM. TUM. TUM. Para fazer você tremer. TUM. TUM. TUM. TUM. Para sentir tua cadência. TUM. TUM. TUM. TUM. TUM. Feito um tambor. TUM. TUM. TUM. TUM. TUM. TUM.

Me plugar em você, guitarra elétrica. Pisar fundo no pedal. Alta voltagem. Distorção. Contorção. Emoção. Criação. Tesão.

Minha partitura é você. Teu gemido, melodia. Teu orgasmo meu sucesso cantado por todos os públicos. Você e eu no topo da Billboard. Vencedores de dez Grammy’s. E os lençóis a nos aplaudir.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Meu vício, meu problema


Estou cansada de juntar teus pedaços pra ver se te tenho por inteiro. Tua força em não se envolver demais pra não se entregar já me trouxe ao limite. E o pior de tudo é que não sei o que fazer. Cada vez que penso em te deixar metade de mim me pede que não. A outra nem sequer cogita a hipótese.

E dessa forma fico aqui vivendo esse meu vício. Essa minha tortura de não conseguir me libertar de você. Porque ainda que aos pedaços meu melhor sonífero é teu cheiro. Mesmo sendo o do uísque-barato-do-bar-pé-sujo-churrasquinho-de-gato de onde você chega na madrugada. Meu melhor relaxante é a tua gargalhada. Mesmo sendo a de ironia quando te pergunto onde você estava e por que chegou tão tarde.

E nessa levada vou vendo o quanto você me vicia. Minha maior medida é você. Meu melhor estimulante é teu gemido. Minha melhor refeição é teu beijo, minha melhor bebida é tua língua. Minha melhor música é tua voz. Minha melhor saudade é teu toque, meu melhor sonho é ao teu lado. Meu maior segredo é teu nome. Meu maior problema é você.