sexta-feira, 29 de abril de 2011

Na memória dos bons sentimentos

Lembra do dia em que te conheci? Às vezes me pego lembrando disso, com um sorriso meio bobo na cara. Aquele que você nunca entendeu quando me via te observando durante suas atividades rotineiras de casa. E quando me pego pensando em você, não sei bem o que sinto. São tantas coisas. Meio confuso, sabe?

Não que eu ache isso ruim, pelo contrário, acho interessante o fato de pensar que foi tudo tão esquisito e ao mesmo tempo ver que foi da melhor maneira que poderia acontecer. Lembrar que você não me dava muita bola, seu jeito durona de ser típico de leonina. E eu todo interessado, fazendo de tudo pra você me querer, sendo eu mesmo, mas dando ênfase nas qualidades, que eu não sou bobo de apontar meus próprios defeitos. Apesar de menino, já tinha lido “Arte da Guerra”. Sun Tzu tinha que servir para alguma coisa.

Mas valeu porque consegui te conquistar, eu acho. Nem que tenha sido por pouco tempo. Na verdade, às vezes penso que, talvez, você tenha me aceitado mais pelo esforço que fiz do que pelas qualidades propriamente ditas. Mesmo assim, me senti muito feliz. Era um reconhecimento.

Àquela época eu pensava ser você a coisa certa, quem me faltava. Ver seu sorriso era tudo que eu poderia querer. Pensava, imaginava, criava, inventava todas as possibilidades de uma vida eterna entre nós dois. E de repente o encanto se desfez.

Por um bom tempo fiquei sem saber como viver sem você. Sofri, chorei. Mas passou e hoje entendo que você era, sim, o melhor na minha vida naquele momento. Aprendi, cresci, amadureci. Foi bom pra mim e guardarei pra sempre este sentimento. Espero que você também tenha tirado boas lições de tudo aquilo. Te amei. Muito obrigado por isso.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

AA

Meu nome é Pedro, tenho 27 anos. Sou viciado.


No começo, confesso que entrei por diversão. Tava ali de bobeira, fazendo nada e fui apresentado a ela por alguns amigos. Gostei de cara. E passei a querê-la diariamente. E ela estava sempre por perto quando a procurava, então não tive dificuldade nenhuma em me viciar mais.

E a onda foi crescendo. No começo eram festas no final de semana, contatos rápidos, mas ela estava com meus amigos sempre. Aí passou a ser festa todo dia e, desde então, ela estava comigo e não mais com os outros. Eu a tinha pra mim. Só pra mim. De manha, de tarde, de noite. Eu não conseguia mais ficar sem ela.

Gastei dinheiro, me meti em encrencas, briguei por ela e com ela. Me diverti muito, passei pelas mais maravilhosas sensações, fiz viagens eternas e inesquecíveis. Ganhei novos amigos, me afastei de outros. Conheci uma nova família, um novo caminho.

Depois de tudo isso, cheguei aqui. E hoje digo feliz que o meu vício continua comigo. E continua a me proporcionar as melhores coisas da vida.

Meu nome é Pedro Saldres, tenho 27 anos e estou há 2 anos e 10 meses apaixonado pela minha mulher.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Primeiro e Melhor

Eu ainda me recordo perfeitamente da cena. Só faz uma semana, mas nesses tempos de velocidade em tudo, parece que já se passaram anos.

Você vestida naquele meu moleton cinza-surrado, cabelos completamente desgrenhados, parada no meio da cozinha lá de casa lendo a receita de bolo de cenoura da minha avó. “Queria te preparar um café legal, mas não sei onde encontrar os ingredientes”, você me disse quando percebeu que eu te observava. Depois me beijou. Teu beijo, àquela hora da manhã, era doce como a calda de chocolate que depois fizemos para o bolo.

Foi a primeira vez que você dormiu comigo e acho que por isso nunca esquecerei. Podia ter na memória outros detalhes daquele dia. O jantar que te preparei na noite anterior, o vinho que bebemos, as músicas que dançamos, mas sei lá... acho que aquele momento foi marcante. A intimidade de te ver como parte integrante da minha casa – mesmo que perdida entre os armários – me fez sentir que era você mesma. Tua completa falta de vaidade em me deixar te ver daquele jeito, maquiagem borrada, descabelada me fez sentir que você era minha.

Tua preocupação em me agradar com o bolo de cenoura quentinho logo cedo me cativou ainda mais. A tua cara de “não sei bater massa de bolo” foi que me mostrou o quanto você precisava de mim. E eu de você. Mas foi nosso diálogo após o primeiro pedaço de bolo que me fez ter certeza de que não podia te deixar mais sair da minha vida. “Foi o melhor bolo de cenoura que já fiz”, você disse. “E quantos você já fez?”, perguntei. “É o primeiro. Logo... hahaha!”

Ah, bom humor logo cedo. Como não te amar? Como não querer ter mais despertares como esse? E por isso te digo: aquele também foi o primeiro dia em que você acordou aqui. E sem dúvida, foi o melhor. Mas eu quero mais.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Amor e morte

Só você ainda não percebeu que não falo contigo por medo de você me achar burro. De não dizer algo inteligente que vá te marcar ou de fazer alguma piada imbecil e você me odiar. Só você ainda não entendeu que não chego perto de ti por temor de não estar suficientemente perfumado, ou estar perfumado demais e te causar alergia. Aliás, só você não se deu conta de que passou a receber lírios, e não mais rosas, quando contou – e eu ouvi – que as achava lindas, mas não podia levá-las pra casa, pois te causavam espirros.


Você ainda não percebeu que sou eu quem deixo água geladinha na sua mesa. Sou eu quem levo o café quente na caneca. Os biscoitos, também sou eu quem levo e faço, diariamente, em casa pensando no seu sorriso ao comê-los. E na sua expectativa por tentar descobrir quem é seu admirador secreto. Tal qual uma colegial querendo saber quem enviou o correio elegante na festa junina.

Aliás, só você ainda não se tocou de que não é coincidência que subimos juntos, diariamente, no elevador. E muito menos que eu passo os oito andares prendendo a respiração com medo de estar com bafo. Mas é tão bom estar ali ao seu lado. Nem sei o que faria se um dia ficássemos só nós dois lá dentro. Provavelmente teria um ataque de pânico.

Você também ainda não se deu conta de que nas aulas de ginástica laboral eu sou o único que não forma par com você. Medo de te quebrar em algum daqueles movimentos. De perder o controle ao massagear seu pescoço. Medo de sentir sua pele e surtar de vez, sabe?

Uma pena você não ter percebido nada disso até hoje. Uma pena você não descobrir e não me convidar para sentar à sua mesa. Fico triste. Aliás, de triste passei a ter raiva. Tenho me sentido muito enfurecido com isso. Sua falta de gratidão me machuca.

Mas ela não vai mais acontecer. Uma pena que hoje você vai comer meu último biscoito. Uma pena que você morrerá comendo. Espero que o sorriso pela surpresa ainda esteja em seu rosto quando te encontrarem morta. Eu amo o seu sorriso.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sorte ou Azar

Tudo que tentei foi infrutífero. Todos os lances que dei resultaram em nada. Para os que me entreguei demais, virei utensílio de luxo descartável. Para os que me mantive sóbria, fui taxada de frígida. Quando tentei o equilíbrio, acabei como a desequilibrada que não sabe o que quer. Bipolar.

Tentei médicos ricos, motoboys pobres. Até professores que não são nada além de chatos. Os engraçados que me divertiam, mas não davam prazer. Os gostosos que me davam prazer, mas não sabiam rir. Altos, baixos, gordos e magros. Preto, branco, mulato, índio, cafuzo, mameluco, caboclo. Cearenses, amazonenses, goianos, paranaenses, cariocas e até os chatos dos paulistas. Aliás, já pensou em um professor paulista? Tédio.

Tentei de tudo e nada de certo. Uns dizem que não tive sorte. Outros dizem que tive azar. Mas se azar no jogo quer dizer sorte no amor, chegou minha hora de apostar, ganhar dinheiro, quebrar a banca do cassino. Quem quer girar a roleta?