sexta-feira, 29 de junho de 2012

Muito obrigada


*Por Roberta Abreu

Não adianta vir agora. Te esperei por tanto tempo, passei por tanta coisa... Eu também havia saído de um relacionamento sério. Não coloque a culpa na sua ex. Uma pessoa não pode ser responsável pela infelicidade e pela canalhice da outra. Aliás, até acredito nessa segunda opção, pois, com você, aprendi a ser mais dura com as outras pessoas, mais distante, até estúpida às vezes.

Você me ensinou que eu não posso acreditar nos homens. Que quando alguém diz que vai ligar, na verdade, não vai. Me ensinou que eu posso me aproveitar do sentimento alheio. Obrigada! Eu agradeço por essa aula grátis de insensibilidade. Não se preocupe, vou por em prática o que aprendi com o primeiro que aparecer. Na verdade, já tenho usado o meu aprendizado. Você pode se orgulhar de mim. Já sei magoar as pessoas da mesma forma como você me magoou. Obrigada!

O seu trabalho comigo terminou. Portanto, não venha me procurar. Não me ligue ou mande mensagens no celular, nem puxe papo comigo na internet. Cansei de imaginar como seria se você gostasse de mim. Cansei de esperar você gostar de mim. Cansei de você. Sabe o que me faria feliz nesse momento? Se você descobrisse que me ama e implorasse pra eu voltar. Só pra eu sentir um pouco o gostinho de como é estar no comando da situação.

Pode parecer maldade, mas cansei de pensar nos outros antes de mim. Agora eu venho em primeiro lugar. E ver você correndo atrás de mim me faria muito bem nesse momento. Recusar sua investida seria melhor ainda. Ver você chorar me faria subir ao céu. Obrigada mais uma vez por estragar o meu romantismo, devo tudo a você.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quatro


Te dizer mais o que depois de tanto tempo? Que te amo, que te quero, que você é imprescindível na minha vida e que sua felicidade é também a minha? Isso, já falei. Várias vezes, inclusive. Perdi até a conta. Em momentos certos, em momentos desnecessários, em momentos de desespero. Mas eu sempre disse.

E agora, restou o quê? Algo que eu possa dizer de forma única, original, sem me parecer repetitivo. Você faz ideia? É tanto tempo juntos que penso estar começando a perder a criatividade pra te surpreender. Era mais fácil, né? Aquele tempo em que você não era capaz de saber o que eu estava pensando só de olhar pra mim. Eu era enigmático. Acho até que era sexy por isso.

Nem onde esconder teus presentes eu tenho mais. Você está em todos os lugares da casa. Você já desvendou cada cantinho secreto que eu tinha. Nos armários e na cabeça. E dominou tudo. Um domínio elegante. De quem se impõe pela simples (doce) presença. Sem pressa, sem destruição, sem barbaridade.

E agora, te dizer o quê? Desculpe, mas acho que precisarei ser repetitivo e te dizer as mesmas quatro coisas: Te amo. Te quero. Você é imprescindível na minha vida. Sua felicidade é também a minha.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Caminho


Vê, meu velho. Vê aonde a gente chegou. Estamos aqui, naquele ponto em que, quando jovens, nunca pensávamos que chegaríamos. Essa vida é mesmo uma graça, não acha? A gente acha que já passou por tudo, já viu tudo, já viveu tudo e, de repente, está a vida aí a nos pregar mais uma peça.

Lembra quando você, tímido, veio falar comigo pela primeira vez na escola? Me deu um bilhete de papel com um poema copiado de um livro de um poeta inglês. Eu não cabia em mim de tanta emoção ao ler aquilo, horas depois, em casa. Trancada no meu quarto, lógico, que era pra ninguém saber que eu estava apaixonada. Como éramos bobos, né? Estar apaixonado era motivo de vergonha.

Mal sabia eu que vergonha mesmo eu iria sentir no dia em que você subiu no banco da praça, logo após a missa, e gritou pra todo mundo que me amava. Meu pai, ao meu lado, soltou fumaça pela venta, catou minha mãe pelo braço e saiu pisando firme em sua direção. Achei que ficaria viúva antes mesmo do primeiro beijo. Meu pai tão furioso que nem percebeu que enquanto ia em sua direção, você já o tinha driblado e se aproximava de mim. O primeiro beijo. Em praça pública! Na frente de toda a cidade! Que vergonha. A melhor vergonha da minha vida.

Ah, meu velho. Quantas coisas passamos juntos. Casamento, as crianças,as brigas, as pazes. Foram muitas viagens, foram muitas festas, foram muitas comemorações. Nós sempre juntos, ainda que não fisicamente. Mesmo no tempo em que você precisou ir morar em São Paulo e a distância não nos permitia a convivência diária, eu sentia tua presença a cada momento.

E agora como faço, meu velho? Você sempre foi tão forte. Como pôde sucumbir antes de mim? Você que sempre segurou minha mão. Você que sempre acalentou meu choro. Como vai ser quando você se for? Me diz, meu velho. Me diz como vou ficar aqui sem você depois de 70 anos juntos. Não morre, velho. Não deixa tua velha aqui só.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Mudanças necessárias


Sabe, eu não tenho a menor dúvida de que é você quem quero pra mim. Mas, mesmo assim, algumas coisas precisam mudar. Eu não sou perfeita. Você também não. E nem é isso que pretendo ser ou espero que você seja. Mas tem coisas, coisinhas, pequenas, simples, singelas... coisas que precisam mudar pra que seja tudo muito certinho. Veja bem, certinho, não perfeitinho.

Na verdade é uma coisa só. Que, dentro dela, engloba muitas. Eu preciso, sim, de um homem que me pegue, que me aperte, que me dê arrepios. E isso você já faz. Eu preciso, sim, de um cara divertido, que me faça rir com as maiores besteiras. E isso você também faz.

Mas eu preciso mesmo é de um companheiro. Daqueles que topem encarar minhas loucuras. Daqueles que não se importem com minha frenética cabeça eclética e tope ir ao teatro do absurdo hoje, à boate gay amanhã e ao jantar mais romântico do mundo no dia seguinte. Ou que, pelo menos, não me impeça de fazer isso. E isso você não faz.

Eu quero que você vá não por se sentir obrigado, mas porque você se diverte comigo. E, principalmente, porque você gosta de ver que eu estou me divertindo. Eu quero que você vá e não fique de cara feia para meus amigos. Eu quero que você interaja com eles. Eu quero que você dance. Eu quero que você beba.

E olha, se você não gosta de nada disso, desculpa. Eu entendo e te acompanho no que você gosta também. Isso tem que valer pros dois. Mas se você não quiser ir, por favor, não fique emburrado porque isso é coisa de moleque.

Me acompanhe que eu te acompanho. E assim as coisas vão certinhas. Imperfeitas, sim. Mas certinhas.