sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sou brasileira e não desisto nunca

*Por Ana Paula Dourado


Sempre que há algo em jogo ou algo pra se conquistar, alguém solta a frase: “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”. É uma frase de enfeito, mas na sua essência transmite a determinação de um povo que apesar dos pesares busca sempre melhor. Eu como sou brasileira, também não desisto. Mas, tomo uso da licença poética para reformular essa frase: “Sou apaixonada e não desisto enquanto meu coração disparar ao pensar em você”.

Faz um tempinho considerável que você sumiu. E quando estou te sentindo longe, longe, algo desperta e você fica mais perto. Às vezes, acho que estou louca, obcecada. E penso (com meu lado racional, que você conhece bem) oras tenho que deixar pra lá. E gostar de quem gosta de mim. Mas, minha completa razão decidiu que não quer. Quer se deixar iludir pelo meu apaixonado coração e ir vivendo...um dia de cada vez.

Só por hoje, como proclamam os viciados lutando diariamente contra seus vícios. Decidi não sofrer e te amar, te esperar, sonhar cada dia de uma vez: Só por hoje diz o meu coração. Do amanhã eu não ainda sei, a única certeza é: “Sou apaixonada e não desisto enquanto meu coração disparar ao pensar em você”.  Eu tinha que ser brasileira mesmo!

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Seca brasiliense


Não é que eu não te ame mais. Não é que eu não te queira mais ao meu lado. Mas é que parece que entramos naquele tenebroso, frio e chuvoso inverno. Acabou o calor do verão, acabaram-se as flores lindas da primavera. As borboletas, sabe? Aquelas que voam no estômago. Não tem mais onde pousar aqui. Eu ainda te digo que suportei bem o início do frio, as folhas caídas, toda aquela nebulosidade do outono. Mas não dá mais.

É que sou de Brasília. E lá não temos essa coisa bem definida de quatro estações. Não estou muito acostumada a isso. Lá temos inverno e verão, e olhe lá. Na verdade, temos chuva e seca. Calor e frio. Uma coisa meio assim, oito ou oitenta. A seca, apesar de não ser um nome muito apropriado pra se falar de um relacionamento, é minha estação favorita. De manhã cedo tá bem frio, calor desértico ao meio-dia e frio cortante á noite. Mas tem os ipês. E tem como se prevenir do frio e do calor. E tem um pôr-do-sol de tirar o fôlego.

E com a gente, bem...  não tá nada perto disso. A gente tá só no frio cortante. Não tem o calor do dia. Não tem ipê florido. Não tem nem aquele aconchego de edredon no sábado de manhã. E nosso sol não nasce mais. Como vai se deitar no fim do dia?

Então, sabe, não é que eu não te ame mais. Mas é que realmente a gente ficou na seca – agora sim, um bom uso pra este termo. E eu tô atrás de ipês. Amarelos, rosas, roxos, brancos. Quero ver o pôr-do-sol na Esplanada, na Ermida, na Praça do Cruzeiro, no Mirante da Torre. Quero aproveitar minha estação preferida. E, quem sabe, a outra também. Não me leve a mal, tá?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

#prontofalei

Um desabafo: garotas, parem de andar por aí feito um turista japa que de tudo quer tirar foto. 

Constrangedor
Depois que o Instagram virou moda, a gente vai pra um restaurante, olha pro lado e vê uma porção de minas procurando o melhor angulo do vinho, emborcando o iPhone pra achar uma posição cujo o prato chique com arroz negro não pareça um montinho de cocô empilhado.

Pra nós, mais preocupados com a cerva gelado do que com a barriga, não é muito legal clicar no meio de um jantar, ainda mais com aquele flash com força de lanterninha de cinema. Pior é o "tira outra" porque alguém fechou o olho na hora H. 

Portanto, poupem os homens dessa função inglória. 

Criatividade 
E outra. Permitam-me um toque. Ninguém segue ninguém porque esse alguém é bonito. Segue porque tem fotos legais. E fotos legais são inusitadas, tem um significado. Animais, comidas e, sobretudo, "eu no espelho do elevador" não tão com nada. É brega. Por do sol também já está caindo em desuso.

Foto é ângulo. Instagram é criatividade. Tirar foto de tudo e postar no Instagram é coisa de turista emergente...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sete erros


Ainda hoje consigo sentir o cheiro do teu banho e do teu perfume, misturados aos do cigarro, do café e do papel jornal. Era assim que sempre te encontrava na varanda pela manhã. Com teu desjejum: café preto, carlton red e o Correio da Cidade. Eu chegava, ainda recém-acordado depois do banho, te beijava, ouvia tua voz melodiosa dando bom dia e teu cheiro tomava minhas narinas.

Você ali tão compenetrada, lendo sobre política, negócios, economia, mas quando eu chegava perto sempre dizia “as cruzadinhas são minhas”, antes mesmo deu alcançar o caderno dois. Sabe, eu ainda deixo as cruzadas para você. E continuo fazendo o jogo dos sete erros, que era o que me sobrava e você achava simplório.

Simplório, sim. Mesmo assim você não enxergava as diferenças entre os dois desenhos. Assim como não via os sete erros que havia entre nós dois. Mesmo que ali, no canto do quadrinho, houvesse a indicação para todos. (1) Gravata torta no homem, (2) mão fechada na mulher, (3) falta de cumplicidade nos dois, (4) buraco no meio da cama, (5) sorriso sarcástico na mulher, (6) ironias em excesso no homem, (7) ambos de cabeça pra baixo.

Você não via. Estava tudo ali. Uns mais, outros menos evidentes, tudo bem ali no canto direito de baixo do quadro da nossa vida. Escrito em letras pequenas, de cabeça pra baixo, mas bem visível, legível, compreensível.

Só você não via.

O que eu podia esperar de alguém que, quando não sabia o significado do que pedia a cruzadinha, se recusava a olhar o “banco”? “Prefiro deixar em branco a trapacear”, dizia você. “Não é trapaça. A palavra está ali. É uma forma de aprender”, eu retrucava, pra ver se você aprendia.

Mas você não lia, deixava em branco e ria de mim por conferir se os erros que achei no desenho do outro passatempo eram os mesmos da resposta.

Pois saiba que eu chequei a resposta dos nossos sete erros. Eram os mesmos que eu tinha descoberto. Simplórios como qualquer joguinho desses. De jornal ou de amor. Só que você não quis ver. Não quis aprender.

Então, por isso eu fui embora. Que fiquem as lacunas em branco do nosso amor na cruzadinha. Que fiquem erros não descobertos nos desenhos. Que fiquem todos aí com você. Eu vou ficar aqui, lembrando da tua mistura de cheiros, mas completando meus desafios. Aprendendo sempre novos significados.