sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Ela X Ele*

*Por Rafania Almeida

Ele curtiu o que eu escrevi.

Em minha cabeça, milhares de minhocas auxiliam no processo de adubagem e as ideias e conspirações vão germinando.

Ele está interessado. Ou não. Acho que só fez xixi no território mesmo, para que nenhum outro roube mais uma integrante de seu vasto harém. Mas pode ter feito isso só mesmo pra me testar, saber se estou interessada...

Espera! Esse post foi feito há cinco horas e trinta e sete minutos. Isso significa que ele só pode estar fuçando minha página. E deve ser do celular ainda, tamanha a ansiedade dele. Sim, porque, a essa hora, ele está no trabalho e lá não tem acesso ao facebook.

O que eu faço? Ele nem comentou. O que significa o curtir? Eu respondo? Quer saber, se ele me quisesse mesmo, teria comentado e não curtido. Ele não está nem aí. Vou bloquear esse babaca! Se não quer, tem quem queira!



Quanto tempo sem abrir o facebook!

Agora percebi o motivo: sempre mais do mesmo. Três dias se passaram e o assunto principal ainda é o quadradinho de oito. Quem faz, quem não faz, teorias da relatividade baseadas nele, o que o Sheldon disse sobre o quadradinho...

Caramba! E em meio a isso tudo, ela faz um post divertido, que me faz rir e ter saudade de quando minha maior preocupação era desvendar os mistérios do Mestre dos Magos ajudar aqueles garotos a fugirem do Vingador e voltar pra casa. Curti! Garota interessante.

Gosto de gente que me faz sorrir e que não tem tanta preocupação na vida. Assim que os vômitos dessa maldita quimio pararem, eu a convido pra sair. Ela vai me fazer bem...

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Dúvidas

- Oi, Duda! Quanto tempo que não te vejo!
- Verdade, tia. Ando meio ocupado.
- Tô sabendo. Namoro! Coisa boa!
- É... o Teta tá aí?
- Não foi o nome que eu dei pra ele, mas tá sim... Lá no quarto, vai lá!
- Obrigado.


- Comassim???
- É. Ela disse que preferia deixar do jeito que tá.
- Mermão, mulher é tudo louca! A gente acha que o sonho delas é namorar. Aí pede em namoro. Aí elas dizem não! Loucas! Malucas!
- É. Eu também não entendi ainda. Ela falou que tinha medo. De virar cobrança e num sei que lá.
- Louca.
- Não quer rótulo.
- Lou-ca.
- E aí, as coisas vão continuar do jeito que já estavam...
- Eu acho que ela tá afim é de galinhar por aí!
- Teta, larga de ser mongol.
- Mongol? A mina não quer assumir o compromisso pra continuar aparecendo pros outros que é solteira e que tá no mercado. Mulher é foda. Puta merda!
- Tu acha?
- Claro. Porque ela nem chamava atenção de ninguém. Aí vocês começaram a ficar, nego sabendo já botou olho grande. Aquele Cezinha, mesmo. Mané! Outro dia eu vi ele falando que ela “é até gostosinha. Muito pro Duda”. Se acha pegador, mas é um cuzão!
- Caralho! Tu tá falando sério?
- Tô!
- E por que tu não me disse isso antes?
- Porra, nada a ver. Tu tava feliz, de boa. Não vou ficar colocando caraminhola na tua cabeça. Mas tenho certeza que ele já deve ter ido lá azarar, falar que tu era pouco pra ela, se exibir e tal.
- Cacete.
- Tu não devia era ter aceitado isso. Ou namora ou não namora, porra!
- Nem consegui pensar nisso na hora. Acho que a resposta dela me deixou sem reação.
- Pois tu devia era terminar isso. Dar um ultimato!
- Não sei...
- Por quê?
- Eu tô gostando dela. Acho que vou esperar mais um pouco pra ver se ela sai do susto e se toca.
- Tu é muito trouxa, Duda. Mané!
- Cala a boca. Vim aqui desabafar e tu só tá me deixando mais confuso.
- Tô te dando a real!
- Será?
- Bom, se tu quer um mundo de Poliana, eu te digo qual é: tu também pode sair pegando geral por aí, afinal, não tão namorando, né? Vai lá azarar a Luana, agora! Ela já sabe que tu tem pegada. Certeza que a Jana disse algo. Deve tá se morrendo de inveja e aí tu pega! Lembra do que te disse do meu primo Carlos?
- Que se tu pega uma amiga com muito gosto, ela faz propaganda e deixa as outras todas afim de te pegar só pra saber se aquilo que a outra disse era mesmo verdade?
- É! Isso! Sua hora é agora. Se a Jana é uma mina como as demais, ela falou tudo pra todas, fez tua fama. Agora vai pegar todas.
- Até parece! E outra, a Luana e a Jana são melhores amigas. Sabe que dia vou pegar a Luana agora? Nunca. Eu não acredito nesse seu papo.
- O Carlinhos fala com propriedade. Te garanto.
- Ok. Mas não vai funcionar pra mim. Luana nunca me quis, não vai ser agora que eu namoro a melhor amiga dela que vai me querer.
- Vocês não namoram.
- Você entendeu.
- Você é um trouxa.
- Valeu, Teta. Foi muito bom ouvir suas palavras de incentivo.
- Meu incentivo é pra tu não se foder, trouxa!
- Vai se foder você. Tchau.
- Cuzão! Vai chorar na cama!
(Porta batendo!)


- Tchau, tia Sílvia!
- Você e o André já brigaram de novo?
- A gente não briga, a senhora sabe!
- Eu ouvi! Hunft... Tchau Duda, manda um beijo pros seus pais!

E agora a cabeça de Duda ficava ainda mais confusa. Será que Teta tinha razão? Será que a Janaína queria ser solteira, ir pra pegação? Será que a Luana ia querer ele agora? Será que tinha algum sutiã pra ele abrir nesse mundo!??

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sei lá

Até suas amigas já não aguentam mais eu falar de você. As minhas também não. Elas acham que eu tenho que ir logo de uma vez, olhar na sua cara e dizer que você tem que ser minha, que nascemos um pro outro e te dar aquele beijo apaixonado de cinema até os letreiros subirem e o filme chegar ao fim com um “felizes para sempre”. Mas é que eu acho que não sei muito bem fazer isso, sabe?

Elas dizem que, talvez, se eu escrevesse sobre você podia sensibilizar. Fazer das minhas palavras não ditas um lindo texto onde eu pudesse dizer tudo o que sinto, o que pretendo e todo aquele papo de futuro e nascemos um para o outro que vocês mulheres adoram. Mas, sei lá, acho que eu também não sou muito bom com isso. E, ainda que fosse, não seria meio golpe baixo? Ok, sei que poetas utilizam dessa técnica há muito tempo, mas não sei mesmo se surtiria efeito vindo de mim.

Então, sei lá. A verdade é bem essa: sei lá. Sei lá o que fazer pra você perceber que estou aqui. Sei lá o que fazer pra você se dar conta que eu sou o cara. Sei lá o que fazer pra você parar com esse papo de amigo. Sei lá o que fazer para você notar que não tem melhor partido que eu. Sei lá, sabe.

Acho que suas amigas – e as minhas – vão cansar de me ouvir, me ignorar e eu continuar nessa. Sei lá, sou meio assim. Só espero que não demore pra você entender isso.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Amor de graça: aqui

Ando distribuindo amor por aí. Não que antes isso não acontecesse. Pelo contrário. Eu sempre tive muito amor pra dar. E dei. Mas é que uma grande parcela desse amor era reservada só pra você.

Agora ele está ali, deslocado. E, por isso, estou distribuindo ele aos outros. Um “eu te amo” pra um amigo. Um “tô com saudade” pra outra amiga. Abraços fora de hora para todos.

Dia desses dei um beijo numa mulher casada. Assim, sem mais nem menos. Ela estava triste. Era visível a dor em seu olhar. Eu perguntei e ela confirmou com os olhos cheios d’água. Fui lá e beijei. Não me importei com a aliança em seu dedo. Beijei como se fosse minha primeira vez. Cheio de vontade, de amor, de desejo. Foi constrangedor. Mas beijei. Dei amor. E ela agradeceu.

Esse amor que era todo seu está aí, sendo espalhado, a esmo. Sem destino certo. Sem CEP. Ser ordenamento. Simplesmente saio de casa diariamente com uma boa quantidade dele e vou distribuindo aos que encontro pelo caminho. Alguns aceitam de bom grado. Outros recusam. A maioria usou por um tempo e devolveu.

O amor que era seu está por aí. Quem sabe você não abre a porta e acha um pouco dele em alguém. Quem sabe você não tropece num montinho dele pelo chão. Quem sabe você não o encontre naquele chocolate que você adora. Naquela música que era só nossa e de mais ninguém. Naquele restaurante. Naquele espumante. Naquela viagem.

Só não o recuse. Ele é seu. Apesar de ser visto por aí, vagando, sem saber ao certo por que e para onde.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Pedido – O outro lado

- Alô!
- Oi amiga, tudo bom?
- Oi Lu, tudo bem e você?
- Joia. Vai fazer o que hoje?
- Ah, menina, to aqui me arrumando que o Duda ficou de vir aqui pra gente ir lanchar.
- Huuuummm... coisa mais linda esse casal de namorados!
- Lu... para!
- Que foi, Jana? Você estão namorando ou não?
- Não!
- Ah, mas só porque ele não pediu ainda. Que você tá doidinha pra dizer que é namorada dele por aí...
- Não to, Luana. E nem brinca de falar isso.
- Nossa, Jana. Que mau-humor! Vai dizer que se ele te pedir em namoro você não aceita? Vocês já tão namorando... só não teve pedido.
- Não sei se aceito, amiga. Não sei.
- Como assim? Por quê?
- Lu, você sabe porquê.
- Ai amiga... para! Você sabe que não tem nada a ver. Eu to muito feliz de vocês dois estarem juntos. Pode parar de besteira. Ele vai pedir e você vai aceitar!
- Hum...
- É sério! Não faz isso. Você gosta dele e ele de você. Não vai dar esse vacilo.
- Tá.
- Então se veste aí bem bonitona. Arrasa que é pra ele nem pensar duas vezes!
- Pode deixar, Lu!
- Beijos, depois me liga contando como foi!
- Beijo!


- Jana, filha! Eu e seu pai estamos saindo, você vai sair também?
- Vou, mãe. Mas vou só lanchar com o Duda. Nada de demais. Volto rapidinho.
- Tá bom. Nós estamos indo ao teatro. Que cara é essa?
- Nada, mãe.
- Tá tudo bem?
- Tá sim.
- Eeeee... tá não! Que foi, brigou com o Duda?
- Não! Tá tudo bem mesmo.
- Filha, fica tranquila. Eu tenho certeza que o Duda gosta de você.
- Eu também, mãe. Não é nada.
- Olha lá, hein. Não te quero triste por conta de namorado.
- A gente não tá namorando...
- Então é isso? Você quer na...
- Não, mãe. Não quero!
- Tá bom. To saindo se não me atraso. Depois a gente conversa mais sobre isso, tá?
- Tá. Boa peça!
- Obrigada. Bota um sorriso no rosto, pode ser?
(Sorriso)
- Bem melhor! Você fica linda com essa roupa e mais linda sorrindo! Tchau!
- Tchau, mãe. Tchau Pai!!


- Jana?
- Oi, Dudinha! To aqui no quarto. Vem cá!
- Oi... nossa, como você tá linda!
- Obrigada! Você também tá bem gatão.
(envergonhado)
- Por que você tá parado aí e não veio me dar um beijo?
(beijo)
- Jana, queria te falar um coisa...
- Quê?
- Eu nunca fui muito bom nisso, mas acho que o que tá acontecendo é o que chamam de “se apaixonar”... E aí queria saber se... se você... vocêquernamorarcomigo?
(silêncio)
- Duda, eu não sei o que dizer.
- Como assim? É sim ou não. Meu Deus, você não quer...
- Não, calma. Não é isso. É só que... é... as coisas estão tão legais que tenho medo, sabe?
- Medo de quê?
- De mudar. De ficar diferente porque é namoro. Da gente passar a se cobrar.
- Então é um não.
- Mas é que eu não queria que fosse um não de acabou tudo. Eu queria que fosse um não de vamos continuar do jeito que tá. Será que dá?
- Mas você não acha que a gente já tá “namorando”?
- Não sei. Mas é que o rótulo é meio pesado. Vamos continuar assim, “ficando”. Do jeito que as coisas vão a gente pensa nisso depois. Só tem um mês que a gente tá nisso.
- Então a gente continua do jeito que tá, mas não é namorado?
- É. Pode ser...
- Acho que pode, sei lá.
- Você tá chateado?
- Não sei.
- Como assim?
- Não sei, ué.
- Me dá um abraço?
(abraço)
- Você ainda quer ir lanchar?
- Quero. To com fome. Minha mãe nem fez nada pra comer aqui porque eu disse que a gente ia sair, eles também iam.
- É. Encontrei com eles antes de saírem.
- Você tá com fome?
- Acho que sim.
- Então vamos?
- Vamos.


Jana estava apaixonada por Duda. Sabia que Duda gostava dela. Mas sabia que Luana sempre gostou do Duda e fingia que não. Depois da primeira vez que ficaram, Jana percebeu que Luana foi embora da festa irritada. Mas não conseguia entender por que, já que a amiga a encorajava a ficar com Duda.

Tentou conversar uma vez sobre isso com Luana e a resposta que teve foi mais irritação, o que deu a ela mais certeza que ela e a amiga eram apaixonadas pelo mesmo rapaz.

Agora, a dúvida consumia a cabeça de Jana. Ela não queria largar Duda. Não queria perder a amiga. Mas também achava que um namoro, oficializado, poderia deixar as coisas ainda mais difíceis.

“Enquanto não tiver namoro oficial, pelo menos, parece que é só curtição e que vai acabar a qualquer momento. Assim a Luana fica menos irritada com tudo isso e eu ganho tempo pra decidir o que faço”, pensava a garota.

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento