sexta-feira, 25 de abril de 2014

Quem ama bloqueia

Por Tadeu Rover*

Oi meu amor, desculpa se não li aquela indireta que postou no Facebook. Queria contar que já faz algum tempo que deixei de acompanhar suas publicações. Isso não significa que eu não gosto mais de você. Foi apenas uma opção.

É que suas postagens me incomodavam. Não as indiretas – essas eu adorava e sinto falta. Mas aquelas que você ficava falando de assuntos que não são de meu interesse. Não, eu não quero emagrecer, nem saber qual é a dieta da moda que está funcionando. Muito menos o resultado do jogo de futebol.

Também não quero ver aqueles posts que beiram ao ridículo sobre política, fazendo comparações que não condizem com a realidade. Pior é ver você querendo Joaquim Barbosa para presidente, sendo que nem o Supremo ele consegue comandar. Imagina o país.

O problema da internet é que algumas pessoas, e aí você está inclusa, acham que precisam opinar sobre tudo e todos. E assim, sem muito conhecimento das causas falam muita coisa. Por não entenderem, falam muita besteira. E isso quando feito ao longo de todo o dia cansa. Por isso não te sigo mais.

Mas fica tranquila. Na vida real ainda te quero ao meu lado no bar, falando mal das pessoas que passam e rindo da vida. Quero você no cinema assistindo aquele filme bobo, sem se preocupar em quem vai curtir ou comentar. Quero a verdadeira você. E não aquele perfil do facebook.

Ah, antes que eu me esqueça. Eu não te bloqueei. Apenas deixei de ver suas publicações. Sendo assim, ainda pode me mandar a letra daquele pagode que ouviu e lembrou de mim.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Bala de goma

Engraçado como a gente se pega, vez em quando, relembrando dos outros por coisa tão boba e simples, né? Mas é isso mesmo. O amor tá aí nessas coisas bobas e simples. Tá naquela mania que ela tinha de só dormir balançando. No ritual dele de entrar no carro, girar a chave, ligar o som, abrir os vidros, colocar os óculos, apertar o cinto e só depois partir. Tá no desejo dela por nuggets no meio da madrugada. Tá no choro dele por um jogo de futebol.

E foi numa dessas que me peguei pensando em você. No sinaleiro, me veio o menino oferecendo “bala, chiclete, halls”. Eu perguntei pela jujuba. “Três pacotes por dois” foi a resposta dele. Me vê seis, mas deixa eu escolher, respondi. E pouco antes de abrir a passagem pros carros, vi aquele pacotinho com apenas uma jujuba vermelha e quatro verdes! Quatro verdes, dentre as dez do pacote.

Não tive dúvida em levá-lo junto dos demais. Qualquer um acharia isso bem ruim. Todo mundo adora a balinha vermelha. Menos a gente. A gente sempre brigou pra ficar com a verde. Nossa alegria era o pacotinho que vinha com duas verdinhas, que ninguém ficava sem. E aí só veio você na minha cabeça. A jujuba verde me fez lembrar de ti.

O amor tá aí nessas coisas bobas e simples, né? Deixei o pacote ali, como quem espera o momento adequado pra comer. E quando abri, comi todas as jujubinhas. Mas deixei as quatro verdes guardadas, como quem espera alguém pra poder dividir o tesouro. Mas você não vem, né? Você ainda gosta da jujuba verde? Eu não sei. O amor também está aí nessas coisas de um conhecer o outro, né? Eu não sei mais se te conheço.


Joguei as quatro jujubas verdes fora. Comi uma única que tinha no outro pacote. Era só minha, não precisava dividir. Você não está mais aqui.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Teu texto

Ah, menina, se você soubesse! Se soubesse o tanto que desejo e quero bem. Vem! Se entrega aqui pra mim. Escreve tua história que eu leio e digo que sim, que não, que talvez, mas vou ler e reler até que meus olhos se cansem. Das letras. De você não tem como cansar.

Ah, menina, se você soubesse! Sou desses que morre de inveja daquele que tá aí. Mas eu espero você sair. Sai e traz tudo. Tua boneca, teu travesseiro e aquele teu vestido lindo. Ou traz nada e a gente inventa tudo aqui de novo. O importante é que você venha.

Ainda tô no capítulo um da tua história, mas já sei que tá faltando enredo, aventura, personagem. Vem pra gente criar junto. Ainda não cansei de ler e tô querendo mais é criar novos capítulos. Vem que pode ser ficção e amanhã tu volta pra realidade. O importante é que você venha porque de você não tem como cansar.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Pra não morrer de saudade

- Alô

- Oi.

- Oi! É você? Que número é esse?

- Ah, é um telefone novo do trabalho. Tô sem bateria no meu e acabei usando ele pra ligar.

- Agora tá com agenda compartilhada entre os aparelhos? Antes você não usava...

- Não. É que eu ainda sei o seu telefone de cor.

- Ah... e aí? Tudo bem?

- Tudo. Tudo sim. Tô pra te ligar há uns dias. Cheguei a discar teu telefone outro dia, mas era dia da mentira  e achei que ia soar falso. Mas é que li uma coisa que me fez pensar em você o tempo todo.

- O quê?

- Dizia assim: quem vive de orgulho, morre de saudade. Por isso tô te ligando. Por isso tô deixando todo meu orgulho de lado e não tô nem aí pro que você vai pensar. Também nem quero saber o que você vai fazer com o seu, mas a real é que eu não quero morrer de saudade, mas já tô morrendo.

- ... Eu não sei o que dizer.

- Não precisa falar nada. A situação aqui é sobre o meu orgulho. É ele quem tá indo embora. Então liguei pra dizer que ainda te amo, sim. Que ainda sofro. Todo dia. De saudade, de falta, de ausência, de não saber o que fazer, de querer te ouvir, de querer te ver, de querer te abraçar. Sofro por fazer coisas que eu sei que você adoraria, mas não está comigo. Sofro por entender os seus motivos e ainda assim não aceitar.

- Calma, não fala assim. Eu achei que tava tudo bem já...

- Eu também achei. Mas não tá. Não tá mesmo. Tá ruim. Bem ruim, aliás. Eu sinto sua falta.

- Eu também sinto.

- Então larga essa droga desse orgulho! Vai morrer de falta!