sexta-feira, 24 de junho de 2011

Dois Sentidos

Você sabe. Você me conhece bem. De todas as variantes mais loucas dessa nossa língua portuguesa, o que sempre me deixou mais encantado é a forma como uma palavra tem sempre mais de um sentido dependendo do contexto em que for utilizada.

Já brincamos muito com isso fazendo jogos de palavras. Não esqueço nunca do dia em que você roubou um manequim da loja do seu pai só pra me jogar um braço quando te pedi “uma mãozinha” pra terminar o arroz. Ou o dia que você me ligou no meio da tarde, dizendo que estava em casa e que tinha perdido a cabeça. Eu larguei tudo no escritório e te encontrei às gargalhadas na cama, com o manequim decapitado ao seu lado. “Perdi!”, você disse entre uma e outra risada.

Macaco, que pode ser o animal ou a ferramenta que ajuda a trocar pneu. Carta, que você – paulista – usa para carteira de motorista e eu uso para o texto que enviamos a alguém via correio. Fogo, aquele que queima ou aquele que você não me nega nunca. Pau, que pode ser um pedaço de madeira ou... Enfim, você sabe. Você me conhece bem.

O triste de tudo isso é que até agora eu pensava que amor só podia ter um significado. Esse entre nós. Esse que esteve aí durante os últimos anos. O significado de querer estar junto, de compartilhar, de fazer amor, de contar as novidades.

Mas sabe? Eu descobri que não. Tem outro significado. Não sei explicar qual é. Mas, me parece que eu não quero mais tudo aquilo do outro significado, aquele das coisas boas. Parece que não quero mais você. Mesmo assim, eu sei que te amo. Não sei se de uma nova maneira, com um novo significado... Explica essa? Tem como ter esse duplo sentido?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Indiferença dói

Não me importo que hoje você esteja com outros caras. Não me interesso se você está comendo bem ou manteve seu péssimo hábito de almoçar no Mc’Donalds. Não sinto nenhum pesar em saber que você anda se embriagando em diferentes boates na mesma noite. É sério mesmo. Dia desses encontrei a Amanda no banco, ela me contou que você tinha caído e estava toda ralada. Minha vontade foi de rir. Não senti nenhuma pena sua.

Mas encontrar com você é que me mata. Estar ao seu lado e você fingir que não me conhece. Que não sabe quem eu sou. Ignorar todos os anos que ficamos juntos, fingir esquecer os lugares que visitamos, as situações que vivemos e os planos que traçamos. Isso me dói. Sua indiferença me dói.

Pior ainda é quando você me chama pra bater papo no MSN. Como se não tivesse me visto na rua. E cita coisas que fez com outros, como se nunca tivesse feito aquilo comigo. Quando cito fatos da minha (nossa) vida e você diz não se lembrar. Isso é o que me mata por dentro. É o que me consome e faz enlouquecer. Só queria teu respeito. Só queria que levasse em consideração o homem que fui para você.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ensaio sobre a frescura masculina


Um brinde à frieza humana. Craseada mesmo! Viva o “tô-nem-ai-pra-você-meu-rapaz”. E o melhor: salve o “deixa-de-frescura-moleque”! Por aqui, “onde-os-fracos-não-tem-vez”, mais vale o silêncio do que a publicidade espontânea do nosso frágil coraçãozinho de homem. Eis o momento fúnebre da humilhação humana: quando o macho chora e pergunta: “Por quê? Por quê? Por que?”.

Você, homenzarrão de coração frouxo, jamais repita isso. Por quê? Uma vez basta. Lá nos tempos do colegial. E chega. Ensino médio, como se diz hoje, ainda vale. Época de aprendizado, de criar casca, de chorar o leite derramado. Depois disso, sinta-se graduado. Beba-o do chão mesmo! E poupe as danadas das ceninhas chorosas.

Alguém ai já levou um inesquecível pé-na-bunda? Eu já. Façamos, então, bom proveito.

Porque nada muda uma decisão feminina. Elas são como aroeiras-do-sertão, árvores belas, de pés no chão. Balançam, envergam, choram, emudecem, brigam, gritam, escurecem, desaparecem. Mas nada por completo. Elas sempre voltam. Mais fortes, mais lindas, mais sorridentes, mais bundudas, mais saradas, mais charmosas, mais tesudas, mais amigas... enfim! Mais mulheres.

E nós? Poupemo-nos da derrota. Mantenhamos o jeitão de homem. Macho mesmo. Tradicionalismo com aquela modernidade intelectual ainda funciona. Saber decidir é fundamental. Diga sim e diga não. "Você-é-que-sabe" é para os fracos. Para elas, entreguemos o mistério. Mistério é alimento para o amor. Daremos a elas o combustível da dúvida. Sobre tudo, se possível.

Mas, em tempo: homem que é homem respeita sua dama. Protege-a como um King-Kong cabrêro. Lança olhares vermelhos aos gaviões ameaçadores. E pula em seus pescoços quando necessário. Homem que é homem ama. E declama também. Acaricia e pega. Pega com jeito. Marca pele e coração.

No fim, homem também aprende a ser largado e se respeita. Os verdadeiros não são frescos, nem fracos. Homem sofre. Mas não esperneia. Silencia, cala. E espera. Afinal, homem que é homem admite a derrota. E a deixa partir.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cotidiano de amor

Senta aqui ao meu lado e me conta teus planos para o dia de hoje, amanhã, depois de amanhã, o próximo mês e os próximos cinco anos – que é o máximo que eu consigo me planejar. Enquanto você fala, te ajudo a terminar essa cruzadinha do jornal e a gente vê se aprende algo novo juntos.

Eu leio teu horóscopo juntando as melhores coisas de todos os signos que é pra você ficar tranquila. O bom momento no trabalho de Libra, a oportunidade de viagens de Leão, a capacidade de reflexão para a família de Sagitário – devido ao alinhamento da lua em Áries. Tudo isso vai lhe cair bem porque, afinal, você é geminiana. Então, é muitas em uma só. E também porque você diz que acredita em astrologia, mas no fundo sabe que isso é tudo baboseira de jornal. Teu número da sorte vai ser o tempo exato dos dias que estamos juntos. Mas a tua cor do dia vai ser vermelha, sempre. Porque é assim que gosto de ti. Radiante escarlate.

Senta aqui e toma teu café com calma, enquanto eu canto uma musica da Adele no teu ouvido e finjo rebolar feito um Elvis Presley. Minha voz rouca não se compara a dela, mas sou eu quem sabe te fazer arrepiar logo cedo, ainda na primeira xícara. Mas é fato que minha fraca imitação é mais digna de risadas que de arrepios. Mas e daí? Você sempre foi mais bonita sorrindo mesmo.

Vem, senta aqui que eu te mostro quem é que te ama e que sabe fazer os melhores ovos cozidos com a gema mole que você já comeu. Vem que nosso dia a dia pode parecer bobo às vistas dos outros, mas só a gente sabe a alegria de dividir as pequenezas e não dar tanta bola às grandiosidades. Vem, porque você é a minha pequena favorita e se tu demorar eu acabo comendo o miolo do teu pão.