Nada como um bom pedaço de pano e uma garrafa de álcool para fazer uma limpeza. Não, não. Não to falando da mesinha de centro da sala que você limpa com um paninho perfex e um litro de álcool Guarany.
To falando do pano, do linho do lenço Presidente que você me comprou para eu usar no casamento daquela sua amiga. Eu achei brega. Lembra que você bebeu além da conta, vomitou e acabou usando meu lenço para se limpar? Pelo menos a breguice teve bom uso. E foi pro lixo. Mas no dia seguinte você fez questão de me dizer que tinha comprado uma caixinha. Ainda sobravam dois. Ficaram guardados na gaveta das cuecas.
To falando do álcool que se bebe, da cana ardente da cachaça ruim que você comprou para fazer quentão em fevereiro, já que você estava com desejo. Onde já se viu desejo de não grávida? Mas você disse que não tava encontrando gengibre. Sem gengibre não tinha graça. Tomou a garrafa do malbec argentino - que eu guardava pra uma ocasião especial - com sua amiga que três meses após o casamento pegou o marido com uma sirigaita no clube. Esqueceu do quentão e a garrafa ficou lá no canto do armário, tomando poeira.
Pois é esse mesmo lenço brega e essa mesma garrafa de cachaça ruim que fazem minha faxina hoje. O linho que eu esfrego no meu rosto, secando as lágrimas, arrancando essa pele velha e desgastada. A aguardente que desce rasgando a garganta, queima o esôfago, faz eco no estômago e estremece o fígado.
Mas eu to me limpando de você. Me desinfetando do seu cheiro que ainda ficou no lençol. Arrancando todos os micróbios da sua boca que ainda possam estar espalhados pelos copos, pela caneca de cappucino, e até na taça de vinho. Me desfazendo das suas lembranças, das suas manias, dos seus pedidos. É faxina geral, livre de você.