sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Vergonha


- Alo Dudinha cade vc meu brother me liga!!
- Porra moleque vai se foder morreu foi? Da sinal. Quero saber como foi ontem.
- Já entendi. Tá metendo até agora ne malandro? Me liga seu cuzao.
Três mensagens do Teta no celular. Fora as cinco ligações.

- Filho, dá notícias pra gente. Seu celular só dá desligado. Liguei pro André e ele também não atendeu. O que vocês aprontaram essa noite? Liga pra gente. Beijos!
Mensagem de voz da mãe no celular. E três ligações.

Vamos as prioridades:

- Oi mãe! Não, tava só dormindo. A bateria do celular acabou à noite. Coloquei pra carregar agora... Não, o Teta nem dormiu aqui... Nada de demais. Não, tá normal minha voz... Lasanha? Ah, tá. Vou tirar de freezer. Beijos. Te amo. Manda beijo pro pai.

- Fala seu merda. Tu me largou lá ontem, caralho!
- Calma, Dudinha! Bom dia pra você também, mano. To vendo por essa sua calorosa saudação que você nem trepou ontem, né?
- Moleque, tu não imagina o que aconteceu.
- Bom, do jeito que você e a Jana tavam se pegando, do tanto que tu tava loucão e do tanto que tu apertava a bunda dela, eu pensei que vocês iam pra tua casa. Que rolou? Tu brochou?
- Calaaboca! Que história é essa que eu apertava a bunda dela?
- Porra! Ela deve tá com a bunda roxa de tanto que tu apertou. AhAhahahaah. Tu ficou bebaço! Mas eu senti um suingue legal entre vocês.
- Teta, eu não lembro de nada. Me conta.
- Cara, eu saí com a Luana pra pegar bebida e ficamos batendo papo, pra deixar vocês dois sozinhos. Aí vimos vocês se beijando e voltamos com cachaça...
- Até aí eu lembro.
- Já que vocês tavam ficando, saímos. A Luana ainda ficou um pouco lá, mas logo vi ela saindo fora com cara de poucos amigos. Perguntei se tinha acontecido algo e ela disse “nada. Por isso mesmo que to indo embora!”. Achei esquisito, mas nisso a Verônica chegou e a gente começou a se pegar. Tava numa pegação frenética lá no jardim, mãos em todos os lugares possíveis, aí a mãe dela apareceu pra buscar. Dei um rolé pela festa, não te vi. Fui ao banheiro mijar, tava maior fila, parece que tinha alguém passando mal lá dentro. Aí saí fora. Mijei na rua e fui pra casa.
- Era eu quem tava passando mal no banheiro...
- Sério? AuaahaUAHUa! O que rolou?
- Sei lá. Bebi, fiquei louco, passei mal. Acordei hoje na cama da Jana.
- Então tu comeu ela??
- Não. Todo mundo tinha ido embora, o pai dela foi buscar, ela ficou com pena e ele me levou pra casa todo vomitado. O cara me fez tomar banho.
- Onde ela dormiu?
- Com os pais.
- Porra, mas ela nem levantou na madruga pra ir te chupar um pouquinho?
- Nem que quisesse. Eu tava morto. Aliás, ainda tô. Fisicamente e moralmente. Que cara que eu vou ter agora pra falar com a Jana, Teta? Acordei na cama dela, vestida com a roupa do pai. A mãe dela pegou minha roupa suja e lavou! Eu fui embora de lá e a Jana disse que eles tinham ido ao mercado comprar coisas pra fazer almoço pra mim! Eu fui embora de vergonha. E agora to com vergonha de ter ido embora. Eu nem agradeci a Jana direito. Não dei nem um beijo de tchau. Não agradeci aos pais dela. Que que eu faço, velho?
- Moleque. Não sei... to de cara até agora que tu não comeu ela. Quando não te vi na festa, e pensando na pegação que vocês tavam, pensei que tu tinha levado ela pra casa, pra fechar a noite.
- Teta, prestenção, caralho! Tô falando de algo muito mais importante aqui, porra. Me ajuda.
- Pô velho, não sei mesmo. Tu tá ressacado escroto, né?
- Tô...
- Então, come uma parada tensa na gordura. Toma coca e muita água. E dorme. Quando tu acordar, vai estar melhor e vai pensar em algo. Tu é a cabeça pensante aqui. Eu sou só a cabeça metedora. AHAHaHAHahH
- Porra, não dá pra falar sério com você.
- Olha aí. Tu tá até mal humorado. Precisa dormir mesmo. Eu te falei tudo que tu tem que fazer agora, mas tu só presta atenção na sacanagem do final. Vai comer, vai dormir. Toma um remédio pra dor de cabeça. Quando acordar me liga de novo. Eu penso em alguma coisa, além de mulheres, até lá.
- Valeu velho.
- Tu tem comida aí?
- Tem, minha mãe deixou uma lasanha no freezer. Vou colocar no forno.
- Boa. Mete bronca. Falando nisso, tua mãe me ligou, mas nem atendi. Não sabia o que dizer pra ela, já que não tinha notícia tua. Não ia dizer pra véia que não sabia de você que ela brotava aqui em 10 minutos.
- Já falei com ela. Tá tranquilo...
- Dudinha, só uma outra coisa...
- Hum...
- Tu não aproveitou que dormiu no quarto dela e deu uma cheiradinha nas calcinhas?
- Tchau, Teta.
- AhAHahahahaha.
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Não tinha cheirado calcinha, mas o sutiã pequeno de renda preta estava no bolso da bermuda do pai dela. Tinha ido embora usando as roupas dele. Minha nossa, ainda ia ter que devolver as roupas do pai dela. Que baita vergonha.

Pegou o sutiã e analisou. Era lindo.

Foi pra cozinha colocar a lasanha no forno. Algumas coisas ainda martelavam na cabeça dele, além da própria ressaca: beliscou e apertou a bunda da Jananína. Isso podia ser bom. Ela ter deixado assim, tão de boa. Ou será que ele tava muito bêbado e chato e ela acabou nem conseguindo impedir? Caralho! Será que tinha feito mais merda? Se bem que se fosse isso, ela não tinha levado ele pra casa. Ou então ela é mesmo MUITO legal e, apesar disso tudo, ajudou ele.
Segunda coisa: Jana e Teta falaram que a Luana foi embora meio chateada, brava. Será por quê?

Voltou pro banheiro pra tomar banho. Levou o sutiã, treinou abri-lo. Era mais fácil. Tinha só um gancho, não eram três como o da vizinha. Ficou imaginando Janaína se despindo no banheiro, enquanto ele a observava deitado na cama dela.

Antes do chuveiro, bateu uma punheta.

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Espera


Já faz tempo, eu sei. Cinco anos fazem muita diferença na vida de qualquer pessoa. Mas mesmo assim eu ainda espero por você. Calma! Não tenho pressa. Eu sei que seu momento é outro. Ou melhor, é outra. E até me sinto bem de saber que você está feliz. De verdade. Te ver feliz é muito importante pra mim. Mas eu ainda acredito que sua verdadeira felicidade é ao meu lado. Ou essa seria só a minha felicidade?

É bem louco pensar nisso. Pensar no que nos aconteceu e em como e onde estamos hoje. Acho mesmo é que as coisas correram um pouco. O carro passou um tanto na frente do boi e aí foi tudo se atropelando e deu no que deu.

Hoje em dia eu me pego repensando os caminhos que as coisas tomaram e vejo que faltou mesmo foi maturidade. Pra mim, pra você, pra nós dois. Eu não tomaria, com a cabeça que tenho hoje, as atitudes que tomei lá atrás. Sei que você também não.

Mas aí, outro dia, me disseram que eu só tenho essa cabeça de hoje, porque vivi tudo aquilo ontem. Será mesmo? E será que justamente por tudo aquilo é que não dá mais pra mim e pra você? Ou as cabeças mudaram tanto que eu poderia mesmo te perdoar e você a mim?

Eu sei, você tá em outra. Mas acho que eu tentaria. Sem pressa, já falei. Mas eu tentaria de novo. E se desse errado, analisaria tudo outra vez. Encontraria saídas novas, pensamentos diferentes, outros olhares. E te perdoaria. E você me perdoaria. E nós tentaríamos de novo.

Eu tô te esperando. Eu te perdoei. Eu topo tentar de novo. Mas só quando você quiser.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Tô fora


Sorrir ou chorar é nossa opção. Se você escolheu a segunda, problema seu. Eu prefiro me divertir, então fico com a primeira.

Nós não vamos dar certo. Comigo, você só tem a perder. E, contigo, eu perco mais ainda. Você não percebe?

Então vamos fazer assim. Você segue seu caminho de lamúrias, dor e sofrimento. Você permanece aí, estancado com sua vidinha medíocre de 8h às 12h e 14h às 18h com vale refeição e plano de saúde. Pode ficar com a sexta-feira da pizza. Pode ficar com uma conta de telefone que só registra dois números: o da sua mãe e o da namorada da vez.

Eu não quero ter que parecer sempre a menininha comportada. Eu não quero ter que usar saia abaixo do joelho para ir à missa aos domingos porque sua mãe acha que mulher não pode usar calças. Muito menos que não deve mostrar alguma pele acima dos joelhos. Aliás, nem de missa eu gosto. Aliás, nem da sua mãe eu gosto. Inclusive, nem de você eu gosto.

Vai lá. Vai arrumar com quem fazer seu papai e mamãe burocrático. No escuro. Sem tirar o sutiã dela. Vai. Vai logo por que ela ainda não deve estar morrendo de tédio e vai aguentar, quem sabe, atém mais um pouco de tempo do que eu.

Eu? Eu tô indo viver. Viajar. Sorrir e gargalhar. Tô indo comer comida boa. Tô indo ser uma comida boa. Aliás, tô indo gozar. Fica aí com seu choramingo porque eu tô fora.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Viajando no amor


Entre tantos voos, entre tantos aeroportos, principalmente, entre tanta gente, nunca entendi ao certo porque tudo sempre se tratou de você.

Não tem fetiche de aeromoça gostosa no banheiro do avião. Não tem odalisca em Marrocos. Não tem loira peituda em Estocolmo. Muito menos gueixa misteriosa no Japão. Tudo sempre acaba em você. E eu nunca entendi.

No melhor hotel em Hong Kong. Na casa mais luxuosa de Ibiza ou até num castelo em Doha. Nada, nem ninguém fez valera pena, porque, quando me dava conta, era aqui,neste sofá velho, manchado, cheio de ácaro e marcas do seu cigarro.

E até então, eu não compreendia. Desculpe.

Hoje vejo que demorei a perceber. Demorei a entender o que há anos você me mostrava. Custei a acreditar que era isso que você me oferecia.

E não. Não era você, mesmo, o problema. Era eu. Sempre fui eu o cara que não abria os olhos. Fui cego.
Mas agora entendi tudo. Entendi e quero. Quero agora. Quero hoje, amanhã e depois. Quero viver. Quero aprender. E quero que você me ensine.

Mas pega leve. Vai com calma que eu sou novo nessa coisa de amor.