sexta-feira, 27 de maio de 2011

A sobrevivência


Nem a mais perfeita das cronicidades poderia descrever tamanha complicação. Só quem vive a mercê das oscilações do corpo, da alma e da mente de uma mulher sabe o quanto paciência é raridade diante deste detestado e necessário ciclo mensal. É ela: a danada da TPM. Chegou, chegando! Com direito a enxaqueca e tudo.

Nessa hora, muita calma. Ou nessa calma, muita hora. Você vai precisar. Como dizem umas filósofas amigas: não seja mirim. Seja juvenil. Respire, conte até três. E trate de iniciar seu ciclo salvador.

De tanto ver minha paz surrada feito camisa de mendigo, desenvolvi a habilidade de estabelecer meu ciclo paralelo. Em busca da sobrevivência, da tranquilidade masculina. Quando a hora vai chegando, protejo meus afazeres, investigo e começo a estratégia de libertação. É a blindagem da reputação de macho.

Cineminha na segunda, amor? Bora fazer uma comidinha na terça pra relaxar? Um jantarzinho na quarta, depois do trabalho?

Isso não é só presença de espírito masculina. Repito: é questão de sobrevivência.

Pense: na quinta é dia de futebol. Depois da pelada, a resenha com os camaradas. Todos guerreiros da resistência. Vai querer perder? Nunquinha. Programação indispensável para o retilíneo andar da carruagem masculina. Serve como bisca na testa. Reaviva a memória e a macheza. Coloca nós, homens, criatura em extinção, de novo nos eixos. Re-no-va-ção do espírito.

A essa altura, a dona já cansou de se irritar com os outros e vai querer um momento de paz, descansar vendo Travel & Living ou A Grande Família. Nessa hora que você entra:

- Amor, tô indo pro futebol, tá? Se precisar de algo me liga que vou ai, ok?

E vá, com toda glória do espírito macho, rezando para seu celular não tocar. Para felicidade geral da nação, ele nunca toca.

E tome chope e papo furado!

A exceção é quando o tempo passa, você não vê e a uma da manhã a fera acorda do primeiro sono da noite.

- Estou pagando a conta, gata. Não se preocupe. Beijo! Tchau!

De manhã, noutro dia, matamos no peito a ressaca e mandamos a TPM pra escanteio. Missão cumprida. Ciclo fechado. Resistimos à semana da TPM (Tão Perdoadas, Moças). Madame satisfeita e nós inteiros.

No fim do dia, é hora de encher a cara. Agora, só mês que vem.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Antecipação da dor

Olha, eu estou me adiantando nessa conversa porque eu sei como isso funciona. Já passei por isso. Não será a primeira vez e eu sei que também não será a última. Mas estou deixando isso escrito e pronto pra ver se na hora dói menos. Assim evitamos os choros, os xingamentos, as palavras ditas que não voltam atrás e machucam. Também não precisamos ficar relembrando o quanto foi bom. Não tem pra quê.

Estamos bem hoje, eu sei. Mas a vida dá voltas. Amanhã pode ser que uma palavra fora de contexto, um telefonema não atendido, um encontro desmarcado ou, simplesmente, o encanto quebrado acabe com tudo. E aí ficarão estas palavras para evitarmos a chateação do adeus.

Porque o adeus acontece quase sempre da mesma forma. Mas dói mais quando é alongado, quando ficamos remoendo tudo o que aconteceu. Aposto como você iria resgatar o nosso primeiro encontro, o sorvete de tapioca, o banho de guaraná que você me deu, o salto da sandália quebrada, o meu medo de viajar de avião e a força que você segurava minha mão pra tentar me acalmar.

E eu ia relembrar do dia que o salto da sandália quebrou e eu te carreguei no colo por uns três metros, quase morrendo, e evidenciando que força e preparo físico não eram meu forte. Ia lembrar de como você ficou maravilhada quando te levei pela primeira vez ao Louvre. E principalmente, ia sentir no ar seu cheiro de banho tomado que você trazia ao deitar ao meu lado naquele tempo em que você trabalhava até tarde no café.

E eu juro que não precisamos disso. Se chegou a hora, o melhor é você seguir teu rumo. Eu vou ficando por aqui. Mas eu precisava me adiantar com isso e te explicar que te amo. Mesmo que você esteja me deixando. Eu te amo. Te amo como nunca amei nenhuma das outras – e eu não preciso reforçar que foram muitas já que você tratou de descobrir todas.

Te amo mesmo. Cada coisa, cada mania, cada defeito, cada palavra. Tudo seu se encaixa perfeitamente em mim. E eu queria que você soubesse isso agora. Ainda que seja tarde, mas é importante pra mim. Vai seguir tua vida. Mas saiba que aqui eu vou continuar te amando.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quem diria

Se pudesse te dar um nome, seria “Quem diria...”. Não é tão belo quanto o que teus pais te deram e consta lindamente no RG. Pode até ser que não combine tanto com teu sorriso. Mas eu poderia, diariamente, dizer: Quem diria que você estaria aqui hoje comigo depois de tanta coisa vivida? Quem diria que você, depois de tanta insistência minha, se entregaria? Ah, Quem diria! Quem diria que você seria minha? Nem Deus acreditaria!

Quem, com toda certeza, apostaria na nossa vida a dois? Quem, depois de ouvir seu papo sobre “eu enjoo rápido dos meus namorados”, se empolgaria em investir nessa relação? Quem diria... você acordando ao meu lado, tomando café na cama e ficando de preguiça o resto da manhã entre papos absurdos e orgasmos idem?

A durona que não se entregava. A fodona que não se envolvia. Hoje está aqui ao meu lado e eu te chamando de Quem diria. Ainda bem que tu vieste, amor. Ainda bem que você queria. Ainda bem que eu já sabia. Ainda bem que eu te amo, Maria.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Como Fantasia

A vida de todo mundo daria um livro. Esse é meu trabalho. Conhecer tua história e transformá-la num épico, num grande exemplo de vida. Ou mesmo numa grande tragédia, vai da tua escolha.

Transformo teus medos em virtudes, tuas dores em vitórias, tuas lágrimas em sangue e tuas derrotas em força. As baratas que matou na cozinha viram leões mortos a golpes de espada de prata na savana. Os impropérios que disse numa briga de trânsito soarão como ensinamentos de um mestre calmo e sábio.

Transformo tuas letras em palavras, palavras em frases, frases em períodos, períodos em parágrafos e parágrafos em lendas. Meu trabalho é este. Fantasiar tua vida. Dar a ela o sentido que você não conseguiu na realidade. Realizar teus sonhos, bater tuas metas.

Tuas conquistas serão heróicas, tua vida será rica, tuas idéias serão brilhantes e teus amores serão eternos. A admiração virá desde as primeiras páginas e todos, ao findar a leitura, dirão: quero ser como você.

Mas, sinceramente, ao te verem com estes olhos marejados, não haverá palavra que disfarce a saudades que sentes dela.