sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Banho de chuva*

*Por Aline Matos

Hoje foi um dia tranquilo, incrivelmente igual a qualquer outro, porém, na hora marcada, fui a minha corrida diária, e no decorrer do percurso fui surpreendida por, ninguém mais e ninguém menos que ela, a linda, bela, gelada, transformadora e torrencial chuva.

Ela chegou de mansinho, de fininho e por mais que eu apertasse o passo, corresse mais depressa ela conseguiu me alcançar, me pegar, me molhar.... E por mais que todas essas palavras sejam cafonas, talvez, foi assim que aconteceu.

Comecei a ter um diálogo com ela, com Deus, pedindo um pouquinho mais de paciência porque eu estava quase chegando e, pensando na coisa mais ridícula: “ai meu tênis, vai molhar todo e preciso dele seco amanhã!”, só que ela nem se incomodou e finalmente chegou forte, presente, tocante e não tão gelada. Escorreu pelo meu rosto, começou a molhar meu cabelo, minhas costas, minhas pernas, enfim, quando percebi, estava eu molhada, literalmente!

Nesse momento me entreguei, não tive como resistir. Foi intrigante, porque me entreguei, abri os braços, soltei o cabelo, deixei que me tocasse por inteira, que a água que escorria pelo meu rosto já escorresse por minhas pernas. Sentia os meus pés bem molhados e foi nesse momento que entendi: a natureza é mais forte que a gente, que Deus é tão perfeito em suas coisas. Ele nos presenteia todos os dias com um lindo sol, mas a chuva, ah, a chuva, ela tem o poder de nos lavar, de nos tocar. Ela tem o poder de nos deixar mais perto de nós mesmos, de sentir a nossa essência, de fazer com que esse momento não seja morno, mas sim, quente!

Se sentir molhado pela chuva, banhado com essa água que vem dos céus é uma sensação inexplicável. É se aproximar da infância, é achar que não se tem problemas, é se sentir suscetível, é perceber que você não é sempre o dono da razão, é simplesmente, se sentir limpo!

E depois de tanto sentir, uma mistura de coisas e sentimentos, ela se vai, e te deixa ali, com aquela cara molhada, as roupas encharcadas, o tênis fazendo aquele barulhinho de “tô inutilizável pelos próximos três dias” e com a sensação de: “Como vou chegar em casa encharcado desse jeito?”. Aí, você sobe as escadas, tira camiseta, tênis e meias no meio do corredor, abre a porta e encontra uma parte da sua família te olhando com aquela cara de tacho. O que dizer nessas horas? Simplesmente que: “a chuva me pegou!”.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Seleção de dados

A senha do banco. A senha do email. O telefone da mãe. O telefone dos irmãos. O telefone do escritório. RG. O telefone da vó. As letras do caixa eletrônico.  CPF. A senha de desbloqueio do celular. Título de eleitor. A senha de proteção do notebook.  A senha do facebook. A senha do twitter. A senha do instagram. O telefone do gás. CEP.

É tanto número, tanta letra, tanto sinal. Maiúscula, minúscula, arroba, 123. A cabeça funde. Não consegue guardar tanta coisa assim. Bendita agenda que grava tudo. Outro dia precisou ligar pra mãe e quem disse que sabia o número de cor? Foi olhar no celular pra discar do telefone fixo.

Mas sempre que tinha um teclado numérico à sua frente um único telefone lhe vinha à cabeça. Era inevitável. Por vezes chegava até a começar a discar 9125... por mais tempo que passasse, esse telefone ele não esquecia. Nem a data do aniversário. Nem a data do início do namoro. Nem a data do fim. Nem a data do primeiro beijo. Nem a data do último.

E não sabia se achava graça ou tristeza de como a memória pode ser tão seletiva.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Relatividade do tempo

Nem faz tanto tempo assim, mas, na verdade, me parece uma eternidade. Dizem até que tempo é relativo e é nisso que me baseio. Um ano com você é pouco. Cinco anos com você é nada. Uma vida com você e ainda vou querer mais. Mas se você está ali, me sinto bem, por mais que ainda ache pouco.

O problema é você ir embora. O problema são aqueles cinco minutos que te esperava sair de casa. Difícil era aquele final de semana em que as agendas se chocavam e eu não te via sexta, sábado e domingo.

O duro são esses dias que parecem que não passam, mas passaram. E, eu sei que já disse, nem faz tanto tempo assim. Mas pra mim, ainda parece que não passou. Que estou preso lá no primeiro dia sem você.

Ruim mesmo é o tempo ter passado – mesmo que pareça que não passou – e eu ainda sentir sua falta. Quando será que isso passa?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sem sentir

Eu sinto a sua mão. Mas, engraçado, quando olho, não vejo seu braço. E, sim, eu sou do tipo que quando dão a mão, quer também o braço. Se é pra ser amor quero o braço, o ombro, o pescoço, a cabeça, os pensamentos, o peito, o ar, o coração e cada batimento seu.

Quero tudo. Quero inteiro. Quero corpo. Quero alma. Quero dar e receber.Quero abraços longos e beijos mais longos ainda. Quero sonhos, planos, romance, paixão. Quero amor! Quero dividir, somar e multiplicar. Quero filhos.

Quero festa. Quero risadas. Quero brigas e DR. E quero reconciliação.

Quero você! Mas agora sinto a tua mão na minha, só que teus dedos não estão entrelaçados. Eu não vejo teu braço. Tampouco teu olhar.