sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Vergonha


- Alo Dudinha cade vc meu brother me liga!!
- Porra moleque vai se foder morreu foi? Da sinal. Quero saber como foi ontem.
- Já entendi. Tá metendo até agora ne malandro? Me liga seu cuzao.
Três mensagens do Teta no celular. Fora as cinco ligações.

- Filho, dá notícias pra gente. Seu celular só dá desligado. Liguei pro André e ele também não atendeu. O que vocês aprontaram essa noite? Liga pra gente. Beijos!
Mensagem de voz da mãe no celular. E três ligações.

Vamos as prioridades:

- Oi mãe! Não, tava só dormindo. A bateria do celular acabou à noite. Coloquei pra carregar agora... Não, o Teta nem dormiu aqui... Nada de demais. Não, tá normal minha voz... Lasanha? Ah, tá. Vou tirar de freezer. Beijos. Te amo. Manda beijo pro pai.

- Fala seu merda. Tu me largou lá ontem, caralho!
- Calma, Dudinha! Bom dia pra você também, mano. To vendo por essa sua calorosa saudação que você nem trepou ontem, né?
- Moleque, tu não imagina o que aconteceu.
- Bom, do jeito que você e a Jana tavam se pegando, do tanto que tu tava loucão e do tanto que tu apertava a bunda dela, eu pensei que vocês iam pra tua casa. Que rolou? Tu brochou?
- Calaaboca! Que história é essa que eu apertava a bunda dela?
- Porra! Ela deve tá com a bunda roxa de tanto que tu apertou. AhAhahahaah. Tu ficou bebaço! Mas eu senti um suingue legal entre vocês.
- Teta, eu não lembro de nada. Me conta.
- Cara, eu saí com a Luana pra pegar bebida e ficamos batendo papo, pra deixar vocês dois sozinhos. Aí vimos vocês se beijando e voltamos com cachaça...
- Até aí eu lembro.
- Já que vocês tavam ficando, saímos. A Luana ainda ficou um pouco lá, mas logo vi ela saindo fora com cara de poucos amigos. Perguntei se tinha acontecido algo e ela disse “nada. Por isso mesmo que to indo embora!”. Achei esquisito, mas nisso a Verônica chegou e a gente começou a se pegar. Tava numa pegação frenética lá no jardim, mãos em todos os lugares possíveis, aí a mãe dela apareceu pra buscar. Dei um rolé pela festa, não te vi. Fui ao banheiro mijar, tava maior fila, parece que tinha alguém passando mal lá dentro. Aí saí fora. Mijei na rua e fui pra casa.
- Era eu quem tava passando mal no banheiro...
- Sério? AuaahaUAHUa! O que rolou?
- Sei lá. Bebi, fiquei louco, passei mal. Acordei hoje na cama da Jana.
- Então tu comeu ela??
- Não. Todo mundo tinha ido embora, o pai dela foi buscar, ela ficou com pena e ele me levou pra casa todo vomitado. O cara me fez tomar banho.
- Onde ela dormiu?
- Com os pais.
- Porra, mas ela nem levantou na madruga pra ir te chupar um pouquinho?
- Nem que quisesse. Eu tava morto. Aliás, ainda tô. Fisicamente e moralmente. Que cara que eu vou ter agora pra falar com a Jana, Teta? Acordei na cama dela, vestida com a roupa do pai. A mãe dela pegou minha roupa suja e lavou! Eu fui embora de lá e a Jana disse que eles tinham ido ao mercado comprar coisas pra fazer almoço pra mim! Eu fui embora de vergonha. E agora to com vergonha de ter ido embora. Eu nem agradeci a Jana direito. Não dei nem um beijo de tchau. Não agradeci aos pais dela. Que que eu faço, velho?
- Moleque. Não sei... to de cara até agora que tu não comeu ela. Quando não te vi na festa, e pensando na pegação que vocês tavam, pensei que tu tinha levado ela pra casa, pra fechar a noite.
- Teta, prestenção, caralho! Tô falando de algo muito mais importante aqui, porra. Me ajuda.
- Pô velho, não sei mesmo. Tu tá ressacado escroto, né?
- Tô...
- Então, come uma parada tensa na gordura. Toma coca e muita água. E dorme. Quando tu acordar, vai estar melhor e vai pensar em algo. Tu é a cabeça pensante aqui. Eu sou só a cabeça metedora. AHAHaHAHahH
- Porra, não dá pra falar sério com você.
- Olha aí. Tu tá até mal humorado. Precisa dormir mesmo. Eu te falei tudo que tu tem que fazer agora, mas tu só presta atenção na sacanagem do final. Vai comer, vai dormir. Toma um remédio pra dor de cabeça. Quando acordar me liga de novo. Eu penso em alguma coisa, além de mulheres, até lá.
- Valeu velho.
- Tu tem comida aí?
- Tem, minha mãe deixou uma lasanha no freezer. Vou colocar no forno.
- Boa. Mete bronca. Falando nisso, tua mãe me ligou, mas nem atendi. Não sabia o que dizer pra ela, já que não tinha notícia tua. Não ia dizer pra véia que não sabia de você que ela brotava aqui em 10 minutos.
- Já falei com ela. Tá tranquilo...
- Dudinha, só uma outra coisa...
- Hum...
- Tu não aproveitou que dormiu no quarto dela e deu uma cheiradinha nas calcinhas?
- Tchau, Teta.
- AhAHahahahaha.
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Não tinha cheirado calcinha, mas o sutiã pequeno de renda preta estava no bolso da bermuda do pai dela. Tinha ido embora usando as roupas dele. Minha nossa, ainda ia ter que devolver as roupas do pai dela. Que baita vergonha.

Pegou o sutiã e analisou. Era lindo.

Foi pra cozinha colocar a lasanha no forno. Algumas coisas ainda martelavam na cabeça dele, além da própria ressaca: beliscou e apertou a bunda da Jananína. Isso podia ser bom. Ela ter deixado assim, tão de boa. Ou será que ele tava muito bêbado e chato e ela acabou nem conseguindo impedir? Caralho! Será que tinha feito mais merda? Se bem que se fosse isso, ela não tinha levado ele pra casa. Ou então ela é mesmo MUITO legal e, apesar disso tudo, ajudou ele.
Segunda coisa: Jana e Teta falaram que a Luana foi embora meio chateada, brava. Será por quê?

Voltou pro banheiro pra tomar banho. Levou o sutiã, treinou abri-lo. Era mais fácil. Tinha só um gancho, não eram três como o da vizinha. Ficou imaginando Janaína se despindo no banheiro, enquanto ele a observava deitado na cama dela.

Antes do chuveiro, bateu uma punheta.

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Espera


Já faz tempo, eu sei. Cinco anos fazem muita diferença na vida de qualquer pessoa. Mas mesmo assim eu ainda espero por você. Calma! Não tenho pressa. Eu sei que seu momento é outro. Ou melhor, é outra. E até me sinto bem de saber que você está feliz. De verdade. Te ver feliz é muito importante pra mim. Mas eu ainda acredito que sua verdadeira felicidade é ao meu lado. Ou essa seria só a minha felicidade?

É bem louco pensar nisso. Pensar no que nos aconteceu e em como e onde estamos hoje. Acho mesmo é que as coisas correram um pouco. O carro passou um tanto na frente do boi e aí foi tudo se atropelando e deu no que deu.

Hoje em dia eu me pego repensando os caminhos que as coisas tomaram e vejo que faltou mesmo foi maturidade. Pra mim, pra você, pra nós dois. Eu não tomaria, com a cabeça que tenho hoje, as atitudes que tomei lá atrás. Sei que você também não.

Mas aí, outro dia, me disseram que eu só tenho essa cabeça de hoje, porque vivi tudo aquilo ontem. Será mesmo? E será que justamente por tudo aquilo é que não dá mais pra mim e pra você? Ou as cabeças mudaram tanto que eu poderia mesmo te perdoar e você a mim?

Eu sei, você tá em outra. Mas acho que eu tentaria. Sem pressa, já falei. Mas eu tentaria de novo. E se desse errado, analisaria tudo outra vez. Encontraria saídas novas, pensamentos diferentes, outros olhares. E te perdoaria. E você me perdoaria. E nós tentaríamos de novo.

Eu tô te esperando. Eu te perdoei. Eu topo tentar de novo. Mas só quando você quiser.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Tô fora


Sorrir ou chorar é nossa opção. Se você escolheu a segunda, problema seu. Eu prefiro me divertir, então fico com a primeira.

Nós não vamos dar certo. Comigo, você só tem a perder. E, contigo, eu perco mais ainda. Você não percebe?

Então vamos fazer assim. Você segue seu caminho de lamúrias, dor e sofrimento. Você permanece aí, estancado com sua vidinha medíocre de 8h às 12h e 14h às 18h com vale refeição e plano de saúde. Pode ficar com a sexta-feira da pizza. Pode ficar com uma conta de telefone que só registra dois números: o da sua mãe e o da namorada da vez.

Eu não quero ter que parecer sempre a menininha comportada. Eu não quero ter que usar saia abaixo do joelho para ir à missa aos domingos porque sua mãe acha que mulher não pode usar calças. Muito menos que não deve mostrar alguma pele acima dos joelhos. Aliás, nem de missa eu gosto. Aliás, nem da sua mãe eu gosto. Inclusive, nem de você eu gosto.

Vai lá. Vai arrumar com quem fazer seu papai e mamãe burocrático. No escuro. Sem tirar o sutiã dela. Vai. Vai logo por que ela ainda não deve estar morrendo de tédio e vai aguentar, quem sabe, atém mais um pouco de tempo do que eu.

Eu? Eu tô indo viver. Viajar. Sorrir e gargalhar. Tô indo comer comida boa. Tô indo ser uma comida boa. Aliás, tô indo gozar. Fica aí com seu choramingo porque eu tô fora.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Viajando no amor


Entre tantos voos, entre tantos aeroportos, principalmente, entre tanta gente, nunca entendi ao certo porque tudo sempre se tratou de você.

Não tem fetiche de aeromoça gostosa no banheiro do avião. Não tem odalisca em Marrocos. Não tem loira peituda em Estocolmo. Muito menos gueixa misteriosa no Japão. Tudo sempre acaba em você. E eu nunca entendi.

No melhor hotel em Hong Kong. Na casa mais luxuosa de Ibiza ou até num castelo em Doha. Nada, nem ninguém fez valera pena, porque, quando me dava conta, era aqui,neste sofá velho, manchado, cheio de ácaro e marcas do seu cigarro.

E até então, eu não compreendia. Desculpe.

Hoje vejo que demorei a perceber. Demorei a entender o que há anos você me mostrava. Custei a acreditar que era isso que você me oferecia.

E não. Não era você, mesmo, o problema. Era eu. Sempre fui eu o cara que não abria os olhos. Fui cego.
Mas agora entendi tudo. Entendi e quero. Quero agora. Quero hoje, amanhã e depois. Quero viver. Quero aprender. E quero que você me ensine.

Mas pega leve. Vai com calma que eu sou novo nessa coisa de amor.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Precipício


*Por Maria Carolina

Li um conto em que o personagem diz: tenho que ir para não ficar para sempre. É claro que não fui. Não coloque covardia no meu coração. Nessa história é ele quem não suporta o amor. Ele quer mulher no tempo certo: linda, cheirosa, pura, pura, pura. Mesmo que isso custe a felicidade. Acontece que o amor dele sou eu.

Eu sei porque conheço suas verdades. Lia em seus olhos quando o amor terminava. Neles há insegurança e morte. Todo seu corpo junto ao meu me dizia, mesmo longe, o que eu não podia evitar: era o mais puro e mais devasso, como deve ser, amor.

Sentia pelo cheiro e gosto. Tudo era nosso. Ele sabe disso e me lembrava como um mantra: seu cheiro, seu gosto, nosso sexo. Isso é conjunção, sei lá. Só se tem com o sexo e é algo muito difícil de encontrar. Disse isso a ele e ouvi friamente que a vida é mesmo assim.

O fato é que homens têm dificuldade em lidar com isso e mulheres têm coragem. Olha, tenho muita coragem, você sabe. Pra ter aquelas noites para sempre, renunciaria a minha vida. Teria por ele meu corpo devassado a vida inteira. Nunca iria.

O caso é que conhecendo a sua falta de cuidado com o amor, o deixei me levar devagarzinho para o despenhadeiro. Sem golpe final, me atirou lentamente. Ainda estou caindo. Todos os dias caio um pouco mais e vai ser sempre assim. Sei que nunca vou esquecer. Ele nunca vai esquecer. É involuntário.

Mas falando da vida prática, não tenho nem trinta anos. Vou ter amor de casa, quarto, cozinha, banheiro, de dividir as contas e problemas. Um amor que não tem medo do meu amor. É esse que vou levar da vida. Ainda me despencando, sei. Mas esse será.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Ressaca


- Duda? Duda, acorda!
- Aahh! Cabeça tá doendo... JANA!??
- Oi!
- O que aconteceu? Onde eu tô?
- Calma, tá tudo bem. Você tá na minha casa. No meu quarto.
- O que aconteceu? Por que vim pra cá? Por que dormi aqui? A gente...??
- A gente ficou, Duda. Só isso. Você lembra?
- Lembro, claro. A gente se beijou. O Teta e a Luana chegaram fazendo festa, trouxeram bebida, nós dançamos, bebemos mais... e tô aqui agora...??
- Hahaha! É, foi bem isso. O problema foi o tanto que você bebeu. Passou um tanto da conta. Acho que sua cabeça tá te dizendo isso, né?
- Tá, mas por que você me trouxe pra cá? Por que não fui pra casa? Por que você não me largou com o Teta?
- Bom, eu não tive muita escolha. A Verônica chegou na festa, o Teta sumiu com ela. A Luana tava sozinha, achei até que ela ficou meio chateada, mas não entendi com quê. A gente tava ficando, tava bom, tava legal... Você disse que ia ao banheiro, demorou uns 20 minutos. Achei que você tava me dando um perdido até que o Sandro veio me chamar dizendo que você tava passando mal no banheiro...
- Vomitei?
- Muito. Aí meu pai veio me buscar, contei pra ele que você tinha dito que estava só em casa, que não ia ter ninguém pra cuidar de você e, bem, você veio dormir aqui.
- Minha nossa, que vergonha. Pelamordedeus, Jana! Com que cara eu saio desse quarto agora? Sua família tá toda aí? Que horas são?
- Meus pais acabaram de sair. Foram ao mercado comprar umas coisas pro almoço. São 10h30. Acho bom você levantar pra comer alguma coisa. E beber água.
 - Essa roupa? Cadê a minha?
- Essa é do meu pai. A sua tava toda vomitada. Nem sei cadê pra te falar a verdade. Mas acho que sua camisa nova, comprada pela mamãe, não vai mais ser a mesma.
- Meu Deus. E eu tomei banho? Deixa eu ir embora. Eu como em casa, não precisa de café... Mas aceito a água.
- Duda, calma! O pior já foi ontem. Meu pai deixou você vir, então tá tudo bem. Você tomou banho “sozinho”. Meu pai ficou na porta te vigiando pra ver se tudo corria bem. Mas não tem problema. Ele se divertiu. Sabe, como é, ne? Só eu de filha. Menina. Não costumo fazer essas extravagâncias. Ele curtiu “cuidar de um filho”. Acho até que minha mãe vai se sentir chateada se você não ficar pra almoçar.
- De jeito nenhum. Vou embora agora. Nãovouaguentardevergonhadedordecabeçadeânsiadevomito. Não necessariamente nessa ordem. Preciso das minhas roupas pra ir embora. Me ajuda a achar?
- Faz o seguinte. Levanta, vai ao banheiro, lava o rosto que eu vou ver se suas coisas estão lá em baixo.
- Vem cá. Se eu dormi aqui, onde você dormiu?
- No quarto dos meus pais. Coloquei um colchão no chão. Meu pai disse que trazer um amigo bêbado pra casa, tudo bem. Dormir no mesmo quarto que ele já era demais. Hahahha. O banheiro é ali, ó. Vai lá que vou procurar suas roupas.

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Vergonha. Tudo que Duda sentia era vergonha. Tinha ficado pela primeira vez com a Jana e passado vexame.

Vergonha dele, dela, dos pais dela. Minha nossa, ele tinha dormido bêbado e vomitado na casa dela, no quarto dela, na cama dela. Ele tinha tomado banho na casa dela, no quarto dela, no banheiro dela.
Pior, podia ter falado um monte de bobagem que nem fazia ideia. Será que falou da Luana? Será que insinuou segundas intenções com a Jana? Tinha dormido na cama dela. Será que chamou ela pra deitar lá? Não lembrava de nada. 

De frente pro espelho da banheiro, molhou o rosto e a cabeça. No reflexo enxergou um sutiã. Preto. Delicado. Rendado. Pequeno. Era perfeito pros peitos da Janaína. Era um sutiã dela. A mão coçou pra pegá-lo.

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Todo carnaval tem seu fim (2)


*Por Juliana

Sem mais discussões filosóficas sobre a catarse social coletiva à qual chegamos todos, durante quatro dias de festa, onde o país esquece das condições de exploração e miséria em que vive e cai na folia vestindo a fantasia da alienação embriagada e do desejo à flor da pele... Sem mais!

Foi por isso que ela vestiu a fantasia. Tinha muito que saciar e deixar florescer, quarar ao sol enquanto arrumava detalhadamente os últimos retoques como destaque porta-estandarte no bloco dos desvairados.

Pior do que um coração partido é um coração desesperado em busca de se refazer.

Pulava, sorria e se deixava transbordar ao som dos sopros dos metais, das marchinhas saudosas, do barulho do mar nas pedras, das gargalhadas ensandecidas, os cortejos desconcertantes, os confetes, as cores, os prazeres, serpentinas, mais confetes, uma saudade, mais gargalhadas, mais confetes, a música, o barulho, a noite, o dia, a noite, o sol tornava a amanhecer, os bêbados, mais serpentinas e confetes, a Lapa, os gritos, o prazer, a folia, a alegria, desejo, ardor, mais samba, mais bêbados, ressaca!

E uma saudade, novamente...

Mas como raio, rápido e certo, ele chegou novamente e a atravessou no instante de um mísero segundo. Um telefonema, um raio de segundo. E tudo rodopiou, até desabar lentamente.

O amor. Quanta coisa pra caber numa palavra tão pequena.

Não tem mais torpor, prazer fácil, a embriaguez. Ele e a lucidez imediata, como que num combo promocional: “aceite um e se renda ao outro”.

Ela aceitou. Se refez em novos desejos e rendeu-se à outra aventura: estarem juntos. Voltar para o lugar de onde partiu, sem repetir o que não deu certo e desbravar o que ainda podem ser juntos.

Não tem mais carnaval. Não tem mais a catarse. Não tem mais a fantasia. O bloco dos desvairados passa e ela desembarca em outra estação.

Ele estava à sua espera.

Ela muito diferente. Mais leve, risonha. Segredos seguidos de suspiros inconfessáveis. Mas a essa altura eles não importavam mais, acreditem.

Ele estava decidido. Corajoso.

O tempo faz bem na maioria desses casos.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Beijo


- Festinha legal, hein Duda?
- É...
- Que foi moleque? Não tá curtindo?
- Tô...
- Velho, relaxa, porra! Pega a Jana numa boa. Faz o negócio direitinho que tu vai ver que vai dar certo. Propaganda é a alma do negócio, Dudinha.
- Tá bom de tu contratar um publicitário pra você então, Teta.
- Se foder. Eu tô em dia com meu marketing. Verônica jajá pinta aí e tu vai ver o pegador em ação!
- Ah, tá viu...
- Se liga, olha a Luana e a Jana chegando. Fica tranquilo.
- Porra! Elas têm que vir direto pra cá?
- Calma! Calma, Duda!
- Oi, Luaninha! Oi, Jana!
- Oi, Teta.
- Oi, Teta. Oi, Duda!
- Oi, Jana. Oi, Luana.
- Tá animada a festa, né? Eu e a Jana acabamos de chegar mas já estamos adorando!
- O Duda não tá muito animado não. Mas eu não sei por quê. Hoje tem tudo pra ser uma grande noite. Não é, meninas?
- Tenho certeza. Acho que ele tá precisando só de uma animação. Que tal eu ir pegar um drink pra mim e pra Jana e você pegar um pra você e pro Duda, Teta?
- Tu acha que vou ficar servindo esse idiota?
- Vai, Teta. Vai sim!
- Ah, tá. Vou sim. Vamos lá. Cervejinha ou caipirinha, Duda?
- Tanto faz...
.........
- Você tá bonito, Duda. Nunca tinha te visto “arrumadinho”, sem uniforme.
- É... minha mãe me comprou essa camisa. Ela é legal.
- Você tá bem?
- Sim. Tudo bem.
- Eu adoro essa música!
- É. Ela é legal.
- Eu também comprei essa blusa hoje. O que você achou?
- Bonita. É muito bonita.
- Nossa, to ficando com sede. Cadê a Luana e o Teta com as bebidas?
- É. Tão demorando. Deve ter fila lá pra pegar.
- Por falar no Teta. Por que o apelido dele é Teta?
- Ah, coisa de criança. Tem muito tempo já.
- Sim, mas por quê? O nome dele é André.
- Ela era gordo quando criança. E aí... criança gordinha, sabe né? Fica com peitinho e tal. Aí ele virou o Teta.
- Hahahaha! Entendi. Devia ser engraçado.
- Era! Era muito. Era um peito molenga que balançava quando jogava bola sem camisa. E era enorme. Maiores que os seus.
- ...?
- Não, assim. Proporcionalmente, eu digo. Ele era criança. Sei lá, 7 ou 8 anos. Era grande pra idade dele. Não que seja maior que o seu hoje. O seu é ótimo. Super proporcional também. É lindo.
- ...?
- Não só eles. Não. Você é bonita. Toda bonita. Assim. E claro, é inteligente que é mais importante. Gente boa, também.
- Duda, cala a boca.
- Não, sério. Eu te acho linda. De verdade. Mas eu falo besteira assim. Perco o controle. Me embanano todo. É que eu fico nervoso mesmo, sabe. Aí desembestoafalarsempararenãoparoeporissocomeçoafalarummontedebobagemmasdesculpanãoqueriatedesrespeitarfoimesmoumabobagemquefaleidesculpamesmoaiquebosta...
- Duda. Para! Hahahaha!
- Ah, desculpa. Eu sempre estrago tudo.
- Tudo o quê?
- Tudo. A gente tava aqui batendo papo. Eu falei bobagem, te ofendi... você vai ficar brava, nem vai mais curtir a festa. Estraguei tudo.
- É. Tá certo que o que você disse não deve ser dito assim, ao léu pra qualquer menina. Mas eu achei fofo te ver assim nervoso. Foi bonitinho.
- Foi?
- Foi.
- Ah...
- Vem cá, vem?
BEIJO!

Com uma mão no pescoço e outra nas costas de Janaína ele pode, pelo tato, procurar a espessura da fita do sutiã. Mas não tinha sutiã. A blusa dela era pra ser usada sem. SEM! 

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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Treinamento

- PORRA moleque! Já falei pra tu parar com isso, velho!
- Me deixa em paz. To aqui na minha. Fazendo mal pra ninguém.
- Faz mal pra tu mesmo oreia. Onde tu acha que tu vai parar com isso?
- Onde eu vou parar, não sei. Mas sei que não vou parar no sutiã.
- Prestenção Duda, já te falei isso mil vezes. Cara, se a mulher quiser te dar vai ser com ou sem sutiã. Se brincar, nem a calcinha ela tira.
- Mas EU quero tirar o sutiã. Eu quero os peitos. Posso? Que graça tem sem brincar com eles?
- Pode, mas se você quer peitos, vá atrás deles. Não fica aí com essa porra desse sutiã preso na cadeira treinando como vai abrir. Já treinou demais, vai praticar! Sabe o que tu parece? Aqueles caras que fazem truques de se libertar... como é mesmo o nome? Eu já li um livro sobre isso. Eram uns moleques que eram fãs do Houdini e desenhavam um quadrinho de super-herói. Tu leu também, né?
- Prestidigitação. O livro é As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay. Não apenas li, como fui eu quem te emprestou pra ler e você não devolveu até hoje, né Teta?
- Isso!! Você é o Houdini do sutiã, Dudinha. To te imaginando dentro de uma caixa, cara. Toda presa com sutiãs e você só sai de lá depois de abrir todos, com os olhos vendados. Hahaha!
- Vai tirando sarro... Quero ver tu travado na hora H, porque não conseguiu tirar o sutiã da menina. Aquele momento constrangedor, tu vai ficar sem graça e broxar. Aí vai vir aqui pedir emprestado pra treinar também.
- Mas nem a pau que eu peço esse sutiã nojento emprestado. Cara, sério. Tu roubou o sutiã da dona Márcia. Mó velha! Que tesão tu tem nisso?
- Primeiro que não preciso de tesão, Teta. Preciso de concentração e técnica. Segundo que a Dona Márcia não é mó velha. Ela é uma mulher de, no máximo, 35 anos. Tá super em forma e se me desse mole eu ia.
- Duda, suponhamos que ela tenha 35...
- No máximo, mas acho que tem menos.
- Ok. Mas fiquemos com os 35. A gente tem 16. Quando tu nasceu ela já tinha 19. E, provavelmente, muitos caras já tinham tirado o sutiã dela. Enquanto tu tá aí, treinando com isso e virgem.
- Falou o experiente.
- Pois é. Vim aqui te contar uma parada, te vi nessa cena bisonha e até esqueci...
- Que foi?
- Dei um pega forte ontem. Ganhei até uma semipunhetinha...
- Com quem?
- Luaninha delícia.
- Se foder, Teta. Tu fala isso só porque sabe que eu sou afim dela.
- Ahahahahaha! To de sacanagem. Foi com a Verônica, po! Passei a mão nela toda, moleque. TO-DA!
- E que mais?
- Só.
- E que porra é uma semipunhetinha?
- Ah, ela pegou no meu pau.
- ?
- Por cima da calça.
- ?
- Assim, acho que foi meio sem querer. Eu peguei no peito dela e ela foi me “empurrar” pra eu parar e deu uma passada. De leve.
- Ou seja, não foi porra nenhuma.
- Como não? Eu quase gozei nas calças!
- Caralho, Teta. Tu fala que eu sou cabaço porque treino abrir sutiã, mas tu pega a menina, força pra passar a mão, toma uma relada, SEM QUERER, no pau e quase goza? Cabaço é você, moleque!
- Pelo menos to pegando alguém.
- Eu vou pegar. Amanhã.
- Quem?
- Não interessa.
- Ah, não! Interessa, sim! É a Luana?
- Claro que não. Ela é um sonho. Platônico.
- Só porque tu não toma atitude. Te falei que ela ficou te secando na aula de Educação Física.
- Não. Ela tava me olhando por outro motivo.
- Qual?
- A Janaína.
- ?
- A Janaína quer ficar comigo. A Luana me ligou pra dizer. E me disse que elas vão estar na festa da Paty amanhã. E deixou bem claro que se eu chegar, pego.
- E tu falou o quê?
- Nada.
- Como nada?
- Tu sabe que eu travo com essas merdas. Tu acha que treino com o sutiã por quê?
- Mas tu nem disse um “beleza”?
- Porra, Teta! Era a Luana! Eu quero pegar ela, não a Janaína. Eu ia dizer o quê? “Ah, não Luana, obrigado. Na verdade eu tava pensando em pegar você e te trazer pra minha casa depois. Meus pais vão estar viajando. Que tal? Já comprei até umas camisinhas.”
- Eu pegava a Janaína fácil.
- Ela é bonita. Mas eu vou pegar a amiga da mina que eu to afim? Pra ela nunca mais querer ficar comigo? Vir com aquele papinho de “ah, Duda, mas você ficou com a Jana, minha amigona, não posso fazer isso...”? Me fode, né?
- Sabe o Carlos, meu primo?
- Han...
- Ele me diz que mulher fala isso só de onda. Mas que se tu pega uma amiga com muito gosto. A mina faz propaganda e deixa as outras todas afim de te pegar. Só pra saber se aquilo que a outra disse era mesmo verdade.
- Será?
- É a hora de testar a teoria.
- Porra, não sei.
- Vem cá, teus pais vão viajar mesmo?
- Vão, mas nem começa a viajar. Já vi minha mãe falando com a Terezinha papo dela ficar aqui.
- Porra, nem pra Terê ser gostosinha, né?
- Calaboca, idiota. Terê foi babá do Jota, da Nina e depois minha. Nem na época do Jota bebê ela devia ser gostosa. Que o diga hoje.
- Hahahaha. Será que o Jotinha brincou ali? Ele não perdoava ninguém antes de casar.
- Véi, para de falar merda. Concentra aqui no principal. Eu pego a Jana?
- Dudinha, mulher a mais nunca é problema, irmão. Problema é quando elas faltam!
- E tá faltando aqui pra mim, viu? Vou mentir não.
- Então pronto. Pega a Jana. Se fosse pra pegar a Luana, ela não tinha ligado com esse papo.
- Mas e se ela gostar de mim também e estiver só me testando. Pra ver se eu pego outras e não ela.
- Mas e se a Sabrina Sato vier dormir aqui contigo amanhã?
- Quê?
- Mas e se todas as panicats da história resolvessem vir aqui te desvirginar?
- Tá viajando?
- Tô só te mostrando que “mas e se” pode ser muita coisa. Esquece isso e pega a Jana. Mas capricha. Ela tem que te achar o melhor cara da história.
- Flores?
- Não, mané! To falando de pegada. Não de romance. Se ela se apaixonar, aí é que tu se fodeu mesmo. Porque a Luaninha delícia não vai pegar o namorado da amiga. Isso não.
- Caralho, Teta. Tu só piora as coisas.
- Relaxa, Dudinha. Vamos pra festinha amanhã, tu chega junto, pega, capricha e deixa ver como as coisas rolam. Na pior das hipóteses tu soma mais uma. Pronto.
- Na melhor?
- Na melhor a Terezinha não vem dormir aqui e tu termina a night desvirginado.
- Com a Jana?
- Não, comigo. Compra KY também.
- Tomar no cu.
- Ahahahahaha!
- Com essa bunda murcha acho que nem o professor Miguel ia querer te comer.
- Deus me livre daquela bichona.
- Mas se tudo der muito certo, sim. Tu acaba a noite comendo a Jana. Quer melhor?
- Quero. A Luana. Nem precisava comer. Se abrisse o sutiã tava satisfeito por hora.
- Então treina aí, Houdini. Treina e continua sentado aí treinando. Quem sabe um dia a Luana cai de paraquedas aqui no teu quarto e tu realiza esse desejo.
- (respira fundo)
- Vou nessa. Ligar pra Verônica e ver se rola de pegar ela hoje de novo. Vou até roubar uma camisinha sua. Vai que...
- Vai porra nenhuma. Tu já tá é apaixonadinho pela Veroniquinha tesão. Ahahahaha!
- Ainda vai demorar muito pra eu cair nessa de apaixonar. Não sou feito você.
- Falou André “Teta” Guedes, o homem sem coração.
- Fui. Treina aí com teu sutiã. Vai passar a noite aí mesmo?
- Vou jantar. Família. A Nina disse que tem novidades. Acho que vou ser tio.
- Opa! Tomara que seja sobrinha pra eu pegar quando ela crescer.
- No seu cu.
- Falou. A gente se fala amanhã. Prepare-se pro grande dia!

Ele nunca tinha reparado no sutiã da Janaína. Não sabia se era daqueles com a tira fina, feito os da Luana. Ele não sabia se eram delicados. E começou a pensar que talvez fosse uma boa ideia se ela estivesse sem sutiã.

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Colchete


Não é que a camisa fosse transparente. Mas também não era de um tecido muito grosso. E através dela, ele conseguia ver detalhes do sutiã que ela usava. A blusa azul bebê, o sutiã num tom semelhante, delicado como ela. De costas parecia ainda mais transparente e ele podia ver, claramente, a espessura da faixa que cruzava as costas e o fecho que ele ansiava em abrir. Era fino, delicado.

Claro que batia aquele medo de não conseguir abrir e o negócio travar e ficar aquela situação embaraçosa, demonstrando que ele era mesmo um cara sem nenhuma experiência naquelas coisas de amor. Mas continuava na esperança de que na hora, a adrenalina entrasse em ação e ele conseguisse se virar sem muita dificuldade. E ali encontrar a felicidade: abrir o fecho do sutiã e poder se deparar com os seios dela.

Não eram grandes. Seus amigos costumavam falar de “peitão, tetão, vacona leiteira”. Ele não era muito afeito a tudo aquilo. Ele não queria peitos que fossem além do que suas mãos eram capazes de segurar. Por isso ele pensava que os dela não eram grandes, eram apenas perfeitos.

Ele queria sentir a textura, o movimento. Ele queria poder tocar, morder, chupar. E sentir cada reação do corpo dela ao toque dele. Ele queria a ela.

Mas o sutiã parecia uma barreira difícil de transpor. Ele precisaria de mais que palavras. Ele precisaria de alma. Ele precisaria vencer o medo do colchete. Ele precisava treinar mais com o sutiã que roubara do varal da vizinha.

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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Furacão


*Por Maria Carolina

Ela decidiu subitamente, como tantas outras vezes. O caso é que eu já estava acostumado. Brincava com sua rebeldia, esperava uns dois ou três dias para a bravura passar e retornava a encantá-la com sutileza, a ver seu amor se abrir.

Bastavam dois sins, um elogio à sua inteligência e esperar. Coisa de vinte linhas de conversa e ela retornava como um gato. Tenho saudades. E soltava a dizer as mais deliciosas vulgaridades. A mim bastava concordar e entrar naquele diálogo doido que ela conduzia com calor e precisão. Como no sexo, ela sabia o exato momento de disparar a mentira clímax que me levaria ao delírio. Depois ia diminuindo a gradação com muita sobriedade, com a educação de quem não se retira após recolher a mesa, lavar as louças e despedir-se dos donos da casa.

O caso é que uma relação nesses termos entorpece qualquer homem de vaidade. Estava satisfeito aos meus trinta e poucos anos. Ela dizia o mesmo: seu desejo me basta. Eu, como sabe, não  sou dado a sentimentalismos, mas era impossível não sentir  a vaidade brotando dos seus olhinhos castanhos ao escutar tudo que eu tinha a dizer. Ela me olhava fundo. A partir do olhar, me sentia invadido por uma sensação esquisita. E era de uma força... O que posso dizer, no fim das contas, é que era tudo verdade.

Na cama, tudo que ela sentia era o que eu sentia. Olhe, não me estranhe com essa conversa mística. É que preciso e não sei explicar. Só sei que misturava tudo que um e outro sentia e desejava. Que tinha um furacão no seu olhar. Que isso mexia seus quadris e era tanta boca, língua e tudo. E como homem, como é que eu podia viver com um negócio desses? Prudente era deixar o tempo carregá-la. Uma mulher que leva um furacão nos olhos não fica muito tempo em uma casa só. Mas ela, moça educada, trouxe o tempo sem ser notada. Me deixou esperando que voltasse para eu enchê-la de encantos e mentiras. E disparar doideiras. E tudo de novo. Mas ela foi.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Skank


O mais engraçado da vida é que eu não posso ouvir a voz do Samuel Rosa sem pensar em você. Falei isso alto, dia desses no carro, enquanto ia pra faculdade com o Jota e ele se assustou. “Como assim, caralho? Eu nem gosto dessa merda. Só ouço Skank porque to no seu carro! Fosse no meu tava rolando um Exalta...”.

Expliquei pra ele que não tava falando dele, mas de você. Ele falou que isso é amor. E pior que eu to acreditando nisso. Eu nunca fui num show do Skank com você, nunca nem ouvi Skank com você. Você nunca andou no meu carro. Mas eu sei que você gosta do Skank. Já te vi dizer, no facebook, que as letras do Samuel representam bem a sua vida. E eu morro de vontade de te dizer que, na verdade, a maior parte das letras é do Nando Reis. Mas achei que poderia ser indelicado fazer esse comentário lá.

E é nisso que eu to acreditando nesse papo de amor. Meu pai diz que amar é querer cuidar, ensinar, ter carinho. Eu quero tudo isso com você. E umas outras coisas que seriam ainda mais indelicadas de dizer do que te corrigir no facebook.

Eu só não sei ainda como dizer isso pra você. Será que tem alguma música do Samuel (ou do Nando) que fala disso? Quem sabe você mesma não me diz qual é. Sabe, to achando que isso é amor sim. Sei lá, nunca senti essas coisas com ninguém.

Sou meio inexperiente, viu? Mas to bem afim de aprender. Quem sabe você não topa me ensinar? Você parece ser mais experiente. Te vi na cantina falando com a Duda sobre um ex. Ele gostava de Skank?

Olha, vou te chamar pra ir ao cinema. Te pego em casa, toco Skank no carro e a gente vai falando sobre a banda, as músicas e te digo que acho que te amo. Assim de supetão, na confusão do dia-a-dia, no sufoco de uma dúvida na dor de qualquer coisa. E você pode até se assustar e dizer que não. Que estamos indo muito rápido, foi só um beijo numa festa. Tudo bem. Eu vou persistir.

Arranjo outro encontro, vou planejando pra fazer acontecer, refinando nossa amizade. E do nada vou dizer que preciso de você. Acho que meu amor é inabalável. Qual música será que combina?

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Mudou quase tudo


Dei uma mudada nas coisas por aqui. Naquela prateleira onde você deixava seus livros – sempre comprando, nunca lendo – coloquei minha coleção de Playboys. Agora estão lá, à mostra, peitos, bundas, xoxotas à vontade para quem quiser ver. Sob o tampo de vidro da mesa, finalmente pude colocar as caixas de cigarro. Quase não coube todas que tenho, mas ainda sobrou espaço pra mais uma ou duas que o Digão deve me trazer lá do Nepal.

A geladeira está farta. Cerveja, ovo, linguiça, salsicha, geléia, pão de forma, vodca, suco em caixinha, coca-cola, presunto, queijo e bacon. Não há nenhum sinal de verdura. Fruta, só banana que é pra fazer a cartola que eu adoro.

Minha bateria voltou pro meio da sala. Meu PS3 voltou pra televisão, junto do guitar hero. O Wii, mantive no quarto. Dá pra jogar tênis deitado. Mário também. As tuas plantas, bem... foi você mesma quem deu fim nelas empurrando tudo da bancada da janela. Mas eu resgatei o hortelã e o alecrim. São úteis. A dona Neide perguntou se podia ficar com as orquídeas, acho que ela deve ter replantado lá no apê dela.

Enfim, minha casa agora tem minha cara. Não tem mais a “nossa” – imposta por você – cara. Pouca coisa ficou do seu tempo. Sobraram muito mais os souvenirs emocionais, lembranças. Quase nada físico. Nem porta retrato eu deixei.

Ah... sobrou a samambaia. Aquela que ficava no suporte no hall da escada. Essa ficou. A chave de emergência também ficou por lá, caso você queira voltar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A felicidade sou eu


Hoje eu acordei pensando em você, acho que sonhei contigo. Saudosa – o que não é nada incomum para mim, você bem sabe. Ainda na cama, naquela preguiça de levantar – que também me é bem cotidiana – revivi nossos bons momentos. Repassei tuas lindas passagens, nossas boas viagens, nossos finais de semana secretos. Enfim, rememorei cada minuto de alegria dos nossos três anos de relacionamento.

E foi aí que me dei conta que sentia saudade. Saudade dos lugares, das pessoas, das risadas, das histórias, dos diálogos. Saudade de acontecimentos. Saudade de momentos. Mas não tinha saudade de você.

Percebi que tudo o que vivi contigo poderia ter sido vivido com qualquer um. Descobri que tudo aquilo foi bom porque eu quis que fosse. Porque ser feliz era a minha escolha. Não tinha nada a ver com você.

Melhor de tudo, caí na real que posso fazer tudo acontecer novamente. Contigo ou com outro. Melhor com outro, claro. Com você, nada mais. Nunca mais. Com outro, quem sabe. Basta eu querer, não é? E acho que estou querendo. Vou refazer minha vida. Vou reviver a felicidade. E, melhor que ter outro alguém, vou ser feliz comigo mesma.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sou brasileira e não desisto nunca

*Por Ana Paula Dourado


Sempre que há algo em jogo ou algo pra se conquistar, alguém solta a frase: “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”. É uma frase de enfeito, mas na sua essência transmite a determinação de um povo que apesar dos pesares busca sempre melhor. Eu como sou brasileira, também não desisto. Mas, tomo uso da licença poética para reformular essa frase: “Sou apaixonada e não desisto enquanto meu coração disparar ao pensar em você”.

Faz um tempinho considerável que você sumiu. E quando estou te sentindo longe, longe, algo desperta e você fica mais perto. Às vezes, acho que estou louca, obcecada. E penso (com meu lado racional, que você conhece bem) oras tenho que deixar pra lá. E gostar de quem gosta de mim. Mas, minha completa razão decidiu que não quer. Quer se deixar iludir pelo meu apaixonado coração e ir vivendo...um dia de cada vez.

Só por hoje, como proclamam os viciados lutando diariamente contra seus vícios. Decidi não sofrer e te amar, te esperar, sonhar cada dia de uma vez: Só por hoje diz o meu coração. Do amanhã eu não ainda sei, a única certeza é: “Sou apaixonada e não desisto enquanto meu coração disparar ao pensar em você”.  Eu tinha que ser brasileira mesmo!

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Seca brasiliense


Não é que eu não te ame mais. Não é que eu não te queira mais ao meu lado. Mas é que parece que entramos naquele tenebroso, frio e chuvoso inverno. Acabou o calor do verão, acabaram-se as flores lindas da primavera. As borboletas, sabe? Aquelas que voam no estômago. Não tem mais onde pousar aqui. Eu ainda te digo que suportei bem o início do frio, as folhas caídas, toda aquela nebulosidade do outono. Mas não dá mais.

É que sou de Brasília. E lá não temos essa coisa bem definida de quatro estações. Não estou muito acostumada a isso. Lá temos inverno e verão, e olhe lá. Na verdade, temos chuva e seca. Calor e frio. Uma coisa meio assim, oito ou oitenta. A seca, apesar de não ser um nome muito apropriado pra se falar de um relacionamento, é minha estação favorita. De manhã cedo tá bem frio, calor desértico ao meio-dia e frio cortante á noite. Mas tem os ipês. E tem como se prevenir do frio e do calor. E tem um pôr-do-sol de tirar o fôlego.

E com a gente, bem...  não tá nada perto disso. A gente tá só no frio cortante. Não tem o calor do dia. Não tem ipê florido. Não tem nem aquele aconchego de edredon no sábado de manhã. E nosso sol não nasce mais. Como vai se deitar no fim do dia?

Então, sabe, não é que eu não te ame mais. Mas é que realmente a gente ficou na seca – agora sim, um bom uso pra este termo. E eu tô atrás de ipês. Amarelos, rosas, roxos, brancos. Quero ver o pôr-do-sol na Esplanada, na Ermida, na Praça do Cruzeiro, no Mirante da Torre. Quero aproveitar minha estação preferida. E, quem sabe, a outra também. Não me leve a mal, tá?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

#prontofalei

Um desabafo: garotas, parem de andar por aí feito um turista japa que de tudo quer tirar foto. 

Constrangedor
Depois que o Instagram virou moda, a gente vai pra um restaurante, olha pro lado e vê uma porção de minas procurando o melhor angulo do vinho, emborcando o iPhone pra achar uma posição cujo o prato chique com arroz negro não pareça um montinho de cocô empilhado.

Pra nós, mais preocupados com a cerva gelado do que com a barriga, não é muito legal clicar no meio de um jantar, ainda mais com aquele flash com força de lanterninha de cinema. Pior é o "tira outra" porque alguém fechou o olho na hora H. 

Portanto, poupem os homens dessa função inglória. 

Criatividade 
E outra. Permitam-me um toque. Ninguém segue ninguém porque esse alguém é bonito. Segue porque tem fotos legais. E fotos legais são inusitadas, tem um significado. Animais, comidas e, sobretudo, "eu no espelho do elevador" não tão com nada. É brega. Por do sol também já está caindo em desuso.

Foto é ângulo. Instagram é criatividade. Tirar foto de tudo e postar no Instagram é coisa de turista emergente...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sete erros


Ainda hoje consigo sentir o cheiro do teu banho e do teu perfume, misturados aos do cigarro, do café e do papel jornal. Era assim que sempre te encontrava na varanda pela manhã. Com teu desjejum: café preto, carlton red e o Correio da Cidade. Eu chegava, ainda recém-acordado depois do banho, te beijava, ouvia tua voz melodiosa dando bom dia e teu cheiro tomava minhas narinas.

Você ali tão compenetrada, lendo sobre política, negócios, economia, mas quando eu chegava perto sempre dizia “as cruzadinhas são minhas”, antes mesmo deu alcançar o caderno dois. Sabe, eu ainda deixo as cruzadas para você. E continuo fazendo o jogo dos sete erros, que era o que me sobrava e você achava simplório.

Simplório, sim. Mesmo assim você não enxergava as diferenças entre os dois desenhos. Assim como não via os sete erros que havia entre nós dois. Mesmo que ali, no canto do quadrinho, houvesse a indicação para todos. (1) Gravata torta no homem, (2) mão fechada na mulher, (3) falta de cumplicidade nos dois, (4) buraco no meio da cama, (5) sorriso sarcástico na mulher, (6) ironias em excesso no homem, (7) ambos de cabeça pra baixo.

Você não via. Estava tudo ali. Uns mais, outros menos evidentes, tudo bem ali no canto direito de baixo do quadro da nossa vida. Escrito em letras pequenas, de cabeça pra baixo, mas bem visível, legível, compreensível.

Só você não via.

O que eu podia esperar de alguém que, quando não sabia o significado do que pedia a cruzadinha, se recusava a olhar o “banco”? “Prefiro deixar em branco a trapacear”, dizia você. “Não é trapaça. A palavra está ali. É uma forma de aprender”, eu retrucava, pra ver se você aprendia.

Mas você não lia, deixava em branco e ria de mim por conferir se os erros que achei no desenho do outro passatempo eram os mesmos da resposta.

Pois saiba que eu chequei a resposta dos nossos sete erros. Eram os mesmos que eu tinha descoberto. Simplórios como qualquer joguinho desses. De jornal ou de amor. Só que você não quis ver. Não quis aprender.

Então, por isso eu fui embora. Que fiquem as lacunas em branco do nosso amor na cruzadinha. Que fiquem erros não descobertos nos desenhos. Que fiquem todos aí com você. Eu vou ficar aqui, lembrando da tua mistura de cheiros, mas completando meus desafios. Aprendendo sempre novos significados.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Revelar liberta a alma


*Por Renata Vieira da Cunha Araújo

É que as vezes, as palavras não saem tão rápida quanto escrevo. Deve ser aquele meu problema de dicção. Hoje faz sete anos que estamos casados, e aproveitando minhas férias, resolvi arrumar nossas coisas na casa nova. Por vezes eu choro, aos gritos por dentro, mesmo vendo o seu esforço em me fazer feliz. Meus olhos se enchem de lágrimas, conto até dez, suspiro, e digo que está tudo bem. Deve ser a minha velha mania de não querer que nada desabe. Achei que somente eu tinha segredos guardados, mas um dia, todos descobrem. O mundo é redondo, já dizia minha vó. Não existem segredos que um dia, não sejam revelados.

Quatro anos que tentamos aumentar a família. Parece uma eternidade, desde aquele dia que nasceu nossa afilhada. Meu Deus, você estava tão feliz, com os olhos brilhando, segurando aquele ser tão pequeno. Logo percebi que minha batalha não seria das mais fáceis. Só eu sabia o quanto o efeito psicológico daquele aborto que fiz aos catorze anos, seria marcado para o resto da minha vida. Todas as tentativas, os exames, as injeções. E aquele dia, em que me olhei no espelho e me senti mãe. Alarme falso, mas fisiologicamente, sou uma mulher apta a ter filhos.

Hoje resolvi limpar aquele quartinho da bagunça. Encontrei uma caixinha marrom com laços dourados, deteriorado pelo tempo. Pesquisei na memória sua origem, e não encontrei. O engraçado é que estamos juntos há 10 anos, e tenho orgulho em falar aos quatro ventos que temos nossa privacidade. Jamais toquei no seu celular, e você no meu. Talvez seja por haver tanta confiança um no outro, que abri sem segundas intenções.

Abro, e vejo um papel de carta amarelado, com letras garrafais e com data de 1997, assinado por aquela sua ex-namorada, que hoje está em Milão. Começo a ler, e caio trêmula no chão. Termino de ler, e choro todas as lágrimas possíveis tendo a certeza de que não vou poder dizer que está tudo bem. Porque não está.

Seu filho, hoje, teria 15 anos. O meu, teria 18. Somos bloqueados psicologicamente. Dez anos ao lado de uma pessoa, que não conhecemos por completo. Sete anos de casamento, sem poder compartilhar o que nos mata lentamente, com medo da reação do outro.

O jantar está na mesa. Fiz aquele seu prato favorito, e abri o vinho que trouxemos da Espanha.

Os segredos foram revelados, o final, só pertence a nós decidir.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Problema

De cabeça, pensando aqui, agora, sem fazer muito esforço, acho que já te escrevi uns seis poemas e umas três músicas. Com certeza tem bem mais que isso. É que eu ando meio cansado, com a memória ruim, e já faz tanto tempo desde a adolescência.  Tanto tempo desde que comecei a te desejar que já perdi as contas mesmo.

As músicas, em geral, falam sobre meu amor por você. Sobre meu desejo, meus sonhos e toda a vida linda que construí pra nós dois. Duas são bossas que compus, letra e melodia, no piano. A outra tá mais pra um blues sofrido. Bem lento, cada nota dedilhada com calma no violão.

Os poemas já são mais, como poderia dizer... Eróticos. É, acho que é o melhor termo. Falam de cada detalhe do teu corpo. Tem um soneto inteirinho dedicado àquelas covinhas que você tem nas costas, logo acima das nádegas. Aliás, sua bunda, redonda, lisa, formosa bunda, também tem umas linhas dedicadas à ela. E também aquela pintinha que você tem abaixo do umbigo.

O problema é que você nunca leu nenhum desses poemas. Nem nunca ouviu nenhuma das músicas. O problema é que não sei nem se você gosta de bossa ou blues. O grande problema é que não faço a mínima ideia se você tem covinhas nas costas, pintinhas abaixo do umbigo, uma bunda linda, olhos verdes, cabelos encaracolados ou pele branca.

O problema é que você tem todos esses poemas, todas essas músicas e agora esse texto. E eu não sei nem se você existe. Ou se é só mesmo mais uma das minhas fantasias. O problema é que não sei se você é minha salvação ou o motivo de eu estar preso aqui.

Só sei que lá vem aquela mulher de branco com o copinho d'água e os comprimidos. Só sei que eles me fazem esquecer de você. Só sei que tem uma semana que finjo engoli-los pra cuspir depois. Só sei que essa pode ser minha última homenagem.

Aparece, por favor?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Nem tenta


Olha, de verdade, é melhor você parar com isso. Não vai dar certo. E nem é muito por você. Acho que é mais por mim mesmo. Eu já me machuquei bastante. Trago aqui nesse peito que você tanto deseja se aninhar uma série de cicatrizes. Rasgos, cortes, furos. Uns muito, outros menos, mas todos doloridos e profundos. E eu não quero um novo. Então, por favor, é melhor você parar.

Deixa dessa coisa de me olhar como quem só tem olhos pra mim. Até porque eu sei que isso não é verdade. Para de me prometer mundos e fundos, principalmente porque teu mundo é outro. Bem diferente do meu. E teus fundos não me interessam em nada. Fosse dinheiro o problema, eu mesma dava um jeito.

Eu não vou fazer planos. Eu não tentar de novo. Eu não vou sonhar como tudo poderia ser pra depois não ser nada daquilo e ficar por aí me lamentando e pensando onde eu teria errado pras coisas desandarem tanto.

E tampouco vou ser sua só por uma noite. Não vou te dar esse prazer de um momento. Pra depois você ficar por aí se vangloriando (ou chorando) e eu com o resto da vida de arrependimento. Sério, para. Não vai dar. Não vai pra frente. Deixa assim. Eu fico daqui de longe admirando teus olhos. Você fica daí de longe, bem longe, com suas mãos afastadas que é pra eu não cair em tentação.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Um flashback, tecnicamente

É uma coisa de energia. Quando você se relaciona com alguém, vai sempre estar ligado em algo daquela pessoa. Seja uma amizade, um namoro, a família, a moça do balcão também entra.

No amor, a coisa pode complicar. Cito aqui um caso que conheci de uma paixão interrompida. Já viveu alguma?

Se já, sabe o que vou dizer. Uma amigo já padeceu de uma total incapacidade de esquecer um certo alguém que lhe despertou o sentimento e ele se entregou. Aquilo acaba, antes do que devia, por algum motivo inimaginável qualquer, mas algo fica.

Uma lembrança, uma vontade daqueeelas, uma certa raiva, uma frustração. Difícil medir aquele sentimento de dúvida: será que teria dado certo? Continuaria bom?

Para alguns, é ótimo viver com esse sentimento. Melhor do que com aquele desanimado arrependimento depois de ter se metido com alguém daquele naipe. Mas quando a falta aperta, aquela coisa que martela na cabeça e diz: se eu encontrar com ele de novo... aaaahhh!

Ai é preciso exorcizar. De que forma?

Lá vem o perigo. Não tem jeito. Esse exorcismo só ocorre com um flash back daqueles. Bem bom! Noite adentro. De pileque, melhor ainda. Ou então um pai de santo entra em campo e tenta resolver. O que não é nada convencional.

Uma vez que os dois indivíduos se tocam, retocam e rola aquele choque, de duas uma: ou a paixão ressurge em ambos, o que fica tudo bacana; ou só em um, o que é una mierda!; ou os dois se abusam de uma vez, enjoam um da cara do outro, o que fica tudo certo também.

E ai? O que você faria? Deixaria rolar pra pagar pra ver ou não?

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Muito obrigada


*Por Roberta Abreu

Não adianta vir agora. Te esperei por tanto tempo, passei por tanta coisa... Eu também havia saído de um relacionamento sério. Não coloque a culpa na sua ex. Uma pessoa não pode ser responsável pela infelicidade e pela canalhice da outra. Aliás, até acredito nessa segunda opção, pois, com você, aprendi a ser mais dura com as outras pessoas, mais distante, até estúpida às vezes.

Você me ensinou que eu não posso acreditar nos homens. Que quando alguém diz que vai ligar, na verdade, não vai. Me ensinou que eu posso me aproveitar do sentimento alheio. Obrigada! Eu agradeço por essa aula grátis de insensibilidade. Não se preocupe, vou por em prática o que aprendi com o primeiro que aparecer. Na verdade, já tenho usado o meu aprendizado. Você pode se orgulhar de mim. Já sei magoar as pessoas da mesma forma como você me magoou. Obrigada!

O seu trabalho comigo terminou. Portanto, não venha me procurar. Não me ligue ou mande mensagens no celular, nem puxe papo comigo na internet. Cansei de imaginar como seria se você gostasse de mim. Cansei de esperar você gostar de mim. Cansei de você. Sabe o que me faria feliz nesse momento? Se você descobrisse que me ama e implorasse pra eu voltar. Só pra eu sentir um pouco o gostinho de como é estar no comando da situação.

Pode parecer maldade, mas cansei de pensar nos outros antes de mim. Agora eu venho em primeiro lugar. E ver você correndo atrás de mim me faria muito bem nesse momento. Recusar sua investida seria melhor ainda. Ver você chorar me faria subir ao céu. Obrigada mais uma vez por estragar o meu romantismo, devo tudo a você.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quatro


Te dizer mais o que depois de tanto tempo? Que te amo, que te quero, que você é imprescindível na minha vida e que sua felicidade é também a minha? Isso, já falei. Várias vezes, inclusive. Perdi até a conta. Em momentos certos, em momentos desnecessários, em momentos de desespero. Mas eu sempre disse.

E agora, restou o quê? Algo que eu possa dizer de forma única, original, sem me parecer repetitivo. Você faz ideia? É tanto tempo juntos que penso estar começando a perder a criatividade pra te surpreender. Era mais fácil, né? Aquele tempo em que você não era capaz de saber o que eu estava pensando só de olhar pra mim. Eu era enigmático. Acho até que era sexy por isso.

Nem onde esconder teus presentes eu tenho mais. Você está em todos os lugares da casa. Você já desvendou cada cantinho secreto que eu tinha. Nos armários e na cabeça. E dominou tudo. Um domínio elegante. De quem se impõe pela simples (doce) presença. Sem pressa, sem destruição, sem barbaridade.

E agora, te dizer o quê? Desculpe, mas acho que precisarei ser repetitivo e te dizer as mesmas quatro coisas: Te amo. Te quero. Você é imprescindível na minha vida. Sua felicidade é também a minha.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Caminho


Vê, meu velho. Vê aonde a gente chegou. Estamos aqui, naquele ponto em que, quando jovens, nunca pensávamos que chegaríamos. Essa vida é mesmo uma graça, não acha? A gente acha que já passou por tudo, já viu tudo, já viveu tudo e, de repente, está a vida aí a nos pregar mais uma peça.

Lembra quando você, tímido, veio falar comigo pela primeira vez na escola? Me deu um bilhete de papel com um poema copiado de um livro de um poeta inglês. Eu não cabia em mim de tanta emoção ao ler aquilo, horas depois, em casa. Trancada no meu quarto, lógico, que era pra ninguém saber que eu estava apaixonada. Como éramos bobos, né? Estar apaixonado era motivo de vergonha.

Mal sabia eu que vergonha mesmo eu iria sentir no dia em que você subiu no banco da praça, logo após a missa, e gritou pra todo mundo que me amava. Meu pai, ao meu lado, soltou fumaça pela venta, catou minha mãe pelo braço e saiu pisando firme em sua direção. Achei que ficaria viúva antes mesmo do primeiro beijo. Meu pai tão furioso que nem percebeu que enquanto ia em sua direção, você já o tinha driblado e se aproximava de mim. O primeiro beijo. Em praça pública! Na frente de toda a cidade! Que vergonha. A melhor vergonha da minha vida.

Ah, meu velho. Quantas coisas passamos juntos. Casamento, as crianças,as brigas, as pazes. Foram muitas viagens, foram muitas festas, foram muitas comemorações. Nós sempre juntos, ainda que não fisicamente. Mesmo no tempo em que você precisou ir morar em São Paulo e a distância não nos permitia a convivência diária, eu sentia tua presença a cada momento.

E agora como faço, meu velho? Você sempre foi tão forte. Como pôde sucumbir antes de mim? Você que sempre segurou minha mão. Você que sempre acalentou meu choro. Como vai ser quando você se for? Me diz, meu velho. Me diz como vou ficar aqui sem você depois de 70 anos juntos. Não morre, velho. Não deixa tua velha aqui só.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Mudanças necessárias


Sabe, eu não tenho a menor dúvida de que é você quem quero pra mim. Mas, mesmo assim, algumas coisas precisam mudar. Eu não sou perfeita. Você também não. E nem é isso que pretendo ser ou espero que você seja. Mas tem coisas, coisinhas, pequenas, simples, singelas... coisas que precisam mudar pra que seja tudo muito certinho. Veja bem, certinho, não perfeitinho.

Na verdade é uma coisa só. Que, dentro dela, engloba muitas. Eu preciso, sim, de um homem que me pegue, que me aperte, que me dê arrepios. E isso você já faz. Eu preciso, sim, de um cara divertido, que me faça rir com as maiores besteiras. E isso você também faz.

Mas eu preciso mesmo é de um companheiro. Daqueles que topem encarar minhas loucuras. Daqueles que não se importem com minha frenética cabeça eclética e tope ir ao teatro do absurdo hoje, à boate gay amanhã e ao jantar mais romântico do mundo no dia seguinte. Ou que, pelo menos, não me impeça de fazer isso. E isso você não faz.

Eu quero que você vá não por se sentir obrigado, mas porque você se diverte comigo. E, principalmente, porque você gosta de ver que eu estou me divertindo. Eu quero que você vá e não fique de cara feia para meus amigos. Eu quero que você interaja com eles. Eu quero que você dance. Eu quero que você beba.

E olha, se você não gosta de nada disso, desculpa. Eu entendo e te acompanho no que você gosta também. Isso tem que valer pros dois. Mas se você não quiser ir, por favor, não fique emburrado porque isso é coisa de moleque.

Me acompanhe que eu te acompanho. E assim as coisas vão certinhas. Imperfeitas, sim. Mas certinhas.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Certo ou errado?


*Por Débora Bazeggio

Das melhores coisas que já consegui provar em todo nosso relacionamento é que você estava errado. Quem acredita em zodíaco sabe que isso é normal dos taurinos. Teimosos, cheios de razão. Quando eu te via pegando em minha mão sem confiança, quando disfarçava o olhar na hora em que eu te olhava fundo e quando me disse "Eu sou incapaz de me apaixonar". Foi naquele momento em que o desafio se lançou para mim.

Como poderia eu querer você e você não saber se apaixonar? Você não sabia e eu quis ensinar...

Agora já apaixonado eu sei o quanto eu estava certa em insistir que você estava errado. Lembro que me desviou o rosto, que me deixou sem resposta ou que disfarçou. Como aqueles disfarces me incomodavam, eram tão ilógicos.  No dia que me sugeriu aquele jogo de xadrez eu pensei que não saberia conduzir a partida. Mexi bispos, cavalos e o seu rei estava lá, protegido, intocável. Com a mesma confiança que não acreditei em você e com a mesma certeza de que aquele rei cairia, eu virei a partida. E adivinha? Xeque-mate. Você se apaixonou!

E foi tão bom. Eu queria fazer um relatório da quantidade de vezes que me incomodei e de quanto elas são estranhas agora. Eu torci tanto para que você estivesse errado e você estava mesmo. Agora eu quero que você esteja certo. Sempre certo. Sempre me desafiando, sempre disfarçando, sempre jogando, mas sempre me amando.


*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Deu certo


Que bom que as coisas não deram certo entre nós. Sabe, não me faltou vontade pra que ficássemos juntos e felizes. Não mesmo. À época, confesso, até me peguei em alguns momentos com os olhos mareados, pensando em você e como as coisas poderiam ter sido caso nós não tivéssemos nos separado.

Mas hoje, olhando o caminho que percorri até aqui percebo que não era pra ficarmos mesmo juntos. Me dei conta disso há um par de dias. Da tristeza da tua ausência até aqui tudo foi perfeito. O sofrimento não foi bom, claro. Mas hoje entendo que ele tinha que acontecer. Era preciso passar por aquilo.

“Cair para depois subir”. Não era assim que seu pai falava? Pois foi exatamente isso que me aconteceu. Fui lá em baixo. Fundo do fundo do poço. Mas aos poucos me reconstruí. Trabalhei, vivi, bebi, corri e conheci a Nina. Me apaixonei, conquistei minha autoconfiança, tomei atitudes erradas, outras corretas. Casei!

E hoje estou aqui. Desse lado do vidro consigo enxergá-la com perfeição. Mãozinhas se mexendo. Ela será inquieta como eu, aposto. Já se remexeu inteira no berço. É linda. Tão pequena. Mal acredito que eu fui capaz de produzir isso. Eu e a Nina, claro. É Larissa o nome dela. Bonito, né?

Por isso eu digo, querida. Que bom que as coisas não deram certo entre nós. Porque, no fim, acabou dando tudo certo para mim.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Tudo que eu queria era saber por que...

Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim

- AAAlô?

- Tenho pena de você, sabia? Você não vale nada. Me deixa em casa, pega outro macho, vai para um posto de gasolina, enche a cara.. Que mulher cê pensa que eu sou? Toma vergonha nessa sua cara, rapaz! Tamanho homem desse, com jeito de menino. Passa o dia ai coçando o saco, assistindo essas lutas. Quando não, vai consertar carro, depois fuma maconha, vai pra faculdade, dorme na aula e torna a beber. Tu tá achando que vida de estudante é isso? Pô, tu nem namorada. Tem mãe, tem pai, tem uma irmãzinha linda que te ama e tu ama também. Mas até quando a gente vai abraçar a bichinha é aquele cheiro de maconha da porra nela. Que tu deixa. Tadinha. E tua mãe não faz nada, né? Acha tudo bonito. Esse teu cabelo cheio de superbonder que nem chato consegue entrar. Essas camisas rasgadas. Tudo ela diz: Isso passa. Ele é jovem. Jovem é o caralho! Tu é um perdido. Isso sim. Não sei onde eu tava com a cabeça quando me meti contigo. E ainda me preocupo. Ai, ai.. só eu mesmo!

Silêncio...

- Ó. Quando tu acordar direito me liga. E cura essa ressaca. Hoje é terça-feira, Juninho. A porra da semana nem começou ainda. Te orienta moleque.

- Tá!

- Me liga. Te amo.

- Tá. Tchau...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Dependente de ti


Quero você sempre aqui. Promete pra mim que não vai embora e, se precisar ir, que não demora a voltar? Porque é assim. Quanto mais te amo, mais difícil fica de aguentar muito tempo longe de você. Parece que cada vez que fico ao seu lado, cresce minha dependência.

E aí é aquela sensação de falta. Falta chão, falta céu, falta ar, falta um lugar pra me apoiar e poder ter tranquilidade. Falta quem me diga que está tudo bem, vai continuar e que o futuro será ainda melhor. Falta cheiro. Falta gosto. Falta vontade. Falta quem me tempere o prato da vida e dê a colher na boca.

Então fica aqui. Não sai de perto que é pra eu nem me assustar. Me deixa sentir tua presença a cada momento. Deixa tua marca pela minha casa. Deixa tua marca no meu pescoço. Mas não sai daqui. E se sair, volta logo que é pra eu nem perceber.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A partir de hoje

* Por Reinaldo Dimon


A partir de hoje todo sorriso, toda piada, todos os abraços serão pensados, serão calculados.

A partir de hoje as pessoas não saberão quem realmente sou. A partir de hoje só serei eu mesmo: fraco, criativo, engraçado.

A partir de hoje penso mais em mim e muito menos em você. A partir de hoje farei planos de fé e felicidade longe de todo o engano e toda farsa, serei apenas plano e reta.

A partir de hoje serei eu e a felicidade, companheira destemida. A partir de hoje eu não quero esquecer o que fui com você e o que serei sem você. Serei, farei, pensarei, tudo a partir de hoje!

Disse tudo o que faria até hoje mas não realizei, não cumpri, não venci. APENAS DESISTI.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Correio

Eu vou é me sentar, folha em branco e caneta na mão, e me escrever uma carta. Quando ela chegar, terei certeza – e ainda que não tenha, me convencerei – de que ela veio de você. Cheia de notícias suas, sobre a sua vida em lugar lindo e feliz. Seu novo trabalho, seus novos amigos. Vou ficar feliz em poder ler tudo isso.

Suas palavras serão amistosas. Você vai se lembrar de histórias que vivemos juntos. Dirá que tomou um sorvete de tamarindo incrível e que tem certeza que eu iria gostar. Me perguntará se aquele café que frequentávamos ainda está aberto e se o nosso garçom amigo ainda anda por lá. E ainda vai me prometer enviar junto da próxima carta uma lata de goiabada cascão que uma senhora, já bem idosa, produz aí nas redondezas de onde quer que você esteja.

E eu vou sorrir. Vou ficar feliz por saber que você está bem. Vou me sentir tranquilo até quando você disser que está bem no campo amoroso. Vai doer, lógico. A pontada no estômago, a aceleração cardíaca, aquele primeiro momento de “não acredito que ela fez isso comigo”. Tudo normal, mas te garanto, vou ficar contente.

Afinal, é melhor saber que você está bem nos braços de um qualquer. É melhor do que pensar que você está aí sofrendo de saudades de mim. Do mesmo jeito, com a mesma intensidade que eu to aqui, sofrendo de saudade de você. Não desejo isso pra ninguém. Já pensou se eu ia querer isso logo pra você?

Quero mais é te ver assim, feliz. Indo atrás dos teus sonhos, da tua vida. Fazendo tudo aquilo que eu disse que faríamos juntos, mas não tive colhão pra levantar e ir atrás. Quem sabe assim um dia você se encontra de vez. “Conhece te a ti mesma”, como costumávamos falar. E aí você se dê conta de que só vai ter uma coisinha faltando pra tua alegria plena: eu.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Mas

É cedo, eu sei. Mas você não vai me fazer feliz. Desculpe, querida. Mas eu sei que não. Aprendi com o tempo, consigo me antecipar. Você, infelizmente, não é pra mim.

Poderia dizer: você é linda, você é inteligente, você é legal. Mas a verdade é que diria tudo isso, faria todos os elogios e no fim viria o "mas". Você é perfeita, mas... E você não merece. Você não precisa de mas.

Então ficamos assim. Você é, sim, linda. Você é inteligente. Você é divertida. Você é espontânea. Você é independente. Você é perfeita. Você seria mulher ideal para qualquer cara normal. Mas sempre há o mas.

Mas... E não tome pra você. Esse mas é pra mim. Você é maravilhosa, mas eu sou um babaca. Por isso eu sei. Você não vai me fazer feliz. Porque eu não vou corresponder a você. Mas... É mesmo uma pena, mas eu sou pouco pra você.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Eu não sou ele

*Por Diego Amorim

Eu não sou o seu pai. Não fui eu quem trai sua mãe, por mais de uma vez e com mais de uma mulher. Não fui eu quem chegou a sua casa de madrugada, bêbado, gritou com você, empurrou seu irmão e quebrou o vaso mais caro da sala de estar. Não sou eu aquele homem estúpido e, coitado, inconsequente. Aprenda isso de uma vez por todas, meu bem.

Sei que ele não é o exemplo de homem que você gostaria de ter tido em casa. Sei que ele não é o pai que você merece nem o esposo que sua mãe sempre desejou. Mas ele é ele. E eu sou eu. Não venha descontar em mim seus traumas e suas revoltas familiares. Procure um psicólogo, um pastor, um padre, cinco amigas, vá comer chocolate, ver filmes repetidos, mas não me atormente nem coloque nossa relação em risco por conta de sua raivazinha reprimida.

Alguns problemas seus serão nossos, benzinho. Mas esse, me perdoe, é problema seu, somente seu. Pare com essa nóia de me comparar com seu pai, de cuspir em mim os olhares odiosos e as palavras ácidas que você nunca teve nem terá coragem de dirigir a ele. Chega de jogar indiretas para cima de mim. Chega de viver amedrontada, de fantasiar traições que nunca cometi, de atribuir a mim um caráter duvidoso que nunca lhe transpareci.

Meu bem, sou homem. Coisa que seu pai não pareceu ser para você. Dizem por aí que as mulheres acabam – mesmo que inconscientemente – procurando parceiros parecidos com os pais. Se é verdade, não sei. Mas se for, tenho certeza de que, no nosso caso, você errou na procura. Sou bem diferente do seu pai. Você sabe disso. Só precisa se convencer.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 23 de março de 2012

Preferência

Prefiro você assim. Nesses seus dias de docilidade em que você me beija e me pede pra dizer que vou estar sempre ao seu lado. Aqueles momentos quando tudo o que você busca é minha mão pra segurar, ou meu ombro pra deitar a cabeça. Teus momentos de serenidade. Quando deita ao meu lado e dorme com as pernas enroscadas nas minhas.

Gosto mais de quando você me espera nua na cama. Me deito e sinto teu corpo quente, desejoso do meu. Prefiro você assim, pedindo e mandando na mesma medida. Ouvindo e falando equilibradamente. Quando você mostra que está no controle da situação. Esses dias como hoje. E como tantos outros ao longo da nossa jornada.

Mas não vou desistir de ti por conta dos outros dias. Não vou te largar pelos teus acessos de fúria. Pelas palavras fora de contexto que entram rasgando no meu peito. Nem pela indolência. Tampouco pela ironia ou pelo cinismo. Não largo, não desisto. Pode acontecer quantas vezes for. Meu peito se regenera.

Não me importo que me ignore por três dias. Que seja monossilábica. Que só responda sim e não. Não é isso que vai me fazer desistir de você. Eu seguro, finjo que tá tudo bem e levo em frente. Porque sei que depois seus dias bons voltam. E eu, definitivamente, prefiro você assim. Nesses dias em que você liga e só quer saber se eu estou bem. Tem como responder que não?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quem procura nem sempre acha

- Amor, você leu a revista da semana?

- Não, por que?

- Tem uma reportagem lá muito interessante. Nos Estados Unidos quase 50% dos divórcios ocorrem após alguma descoberta na rede social.

- É mesmo?

- É. Você tem atualizado o seu Face?

- ah! Não começa. Só uso pra trabalho.

- Tem ou não?

- Uso socialmente. De vez em quando. Tenho que me relacionar com algumas pessoas.

- Sei.

Ele vai tomar banho. Ela, impressionada, pega o smartphone do marido. Abre o Facebook. O aparelho pede uma senha. Droga! Ela tenta o aniversário dele. Nada. O aniversário da filhinha. Nada. O aniversário da mão dele. Nada. Merda! E agora? Tenta a data de nascimento dela. Bingo!

Vai em frente. Pensa em desistir. Ele cantarola no banheiro. Ela não se afasta. Quer monitorar o tempo do banho. Abre o mural. Passa o olho. Mas já conhece aquilo tudo. Vai em mensagens. Zero mensagens. Nenhuma sequer. Ele apagou? Ele não recebeu?

O chuveiro desliga. Alguns segundos se passam. Ela joga o celular na cama, onde estava. Com medo. Ele abre a porta. Abraça a esposa, beija. Pega o celular e sai, só de toalha. Checa os e-mails.

O mais recente:

Lucinha84 dizia:
Pra mim também foi ótimo... Quero repetir!

Ele apaga e vai se vestir para sair com a família.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Criador e criatura

O cara que inventou o amor, definitivamente, esqueceu de “desinventar” a saudade. Digo mais: ele também esqueceu de apagar de vez aquele papo de solidão. E é por isso que eu estou aqui escrevendo essas palavras. É para você, senhor inventor do amor, que com a bela intenção de criar algo bom acabou por tornar possível vários outros monstros.

Porque não é possível que um coração tão cheio de amor quanto este que bate aqui também se condoa de saudade. Não pode, não é justo, não é honesto. É inconcebível, é inimaginável. É um ultraje. É um afronte. É um acinte. É tudo mais que você puder imaginar. Se é que você ainda consegue imaginar algo depois de ter gasto todo seu tempo criando figuras tão horrorosas.

Então, senhor Gepeto do Coração, faça-me o favor de acabar com suas criações. Faça como Frankeinstein e morra. Quem sabe assim, sua criatura maléfica não se suicida junto. Suma, desapareça, vá embora. E leve contigo essa solidão. Carregue com você, num saco preto e sem possibilidade de respiração, essa saudade. Nem que pra isso você precise levar junto o amor.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Toma, toma e... toma!

- como foi seu dia, linda?

- bem e o seu?

- cansativo. mas produtivo.

- o meu deu no mesmo.

- eu sei que você está cansada. Mas precisava te trazer aqui hoje. tenho algo importante para falar.

- sério? e o que é?

- vamos pedir alguma coisa para beber? um vinho, um prosecco?

- não. não estou muito para beber hoje. estou naqueles dias, sabe?

- sim, sim.

- eu também tenho uma coisa para falar. mas conto depois de você contar.

- não, fala logo.

- não. é uma longa conversa.

- fala, fala, fala.

- tem certeza?

- claro. fala. adoro ver você falando sério.

- sabe o que é. as coisas mudaram. eu estou confusa.

- confusa?

- isso. tenho pensado umas coisas. você sabe que eu sempre fui muito direta, né? então... tenho pensado umas coisas. tido umas vontades. algo que está me deixando muito confusa.

- o que, por exemplo?

- sabe o maurício? pois é. tenho pensando nele.

- maurício? o meu irmão? como assim?

- eu tenho pensado umas coisas.

- como assim, bruna? meu irmão é um brutamontes, lutador. nunca fez seu tipo. vem dizer que você se apaixonou por ele?

- não sei...

- não sabe? que merda... a gente namora há um ano e meio. meu irmão morava longe. agora que ele chegou, você vira isso. é assim que disse que me amava? amava uma droga.

- calma, roberto. isso pode mudar. acho que é só uma fase.

- fase. não existe fase para isso. ou você gosta ou não. e da mesma forma como você acha que pode estar apaixonada pelo meu irmão, pode se apaixonar por outro. pra mim, está tudo muito claro.

pausa...

- toma!

- o que é isso, roberto?

- o que é isso? ora, o que é isso! um anel. eu iria lhe pedir em casamento hoje. mas agora basta lhe mostrar. Garçom! a conta, por favor.

- é só uma água, senhor. não precisa se incomodar.

- a moça ainda deve ficar. eu terei de sair mais cedo. muito obrigado.

- roberto. calma. não vai agora. vamos conversar.

- conversar é uma ova. pra mim chega. estou indo...

ele levanta.. ela pede calma de novo. ele se vira, aperta o passo, para, pensa e volta.

- quer saber de um coisa?

- o que?

- meu irmão é gay.

- gay?!

- isso mesmo. GAY! e, você, passe bem...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Para te agradecer

*Por Iêda Campos Vilela

Querido Aldo,

Fiquei um bom tempo me perguntando por que você não tinha sequer me respondido quando eu te procurei. Gastei um bom tempo tentando achar essa resposta. Tachei de falta de educação. Ou até pura e simples falta de interesse.

E foi então que eu percebi que não me importo. Porque eu só preciso de uma coisa: que você me escute. Mesmo que seja à distância. Mesmo que seja via sinal de fumaça... Eu preciso dizer certas coisas que talvez você nem tenha interesse em saber, mas eu preciso colocar pra fora.

As energias negativas da última conversa precisam sair de mim e isso só vai acontecer no momento que eu conseguir te dizer que você foi o cara mais legal da minha vida. E não pense que isso é uma cantada ou que estou te dando mole. É apenas uma carta de alguém que passou na sua vida, viveu coisas legais ao seu lado, cresceu com você, aprendeu com você, ensinou para você, enfim, trocou muita coisa legal.

Lógico que tiveram coisas ruins, também, e tristes em momentos difíceis. Mas isso, nessa carta, não me interessa nem um pouquinho. Por você ter sido meu namorado eu ando beeeem mais exigente.

Você participou da minha virada de menina para mulher. Esteve ao meu lado em momentos legais e importantes. E eu quero agradecer. Dizer que foi legal! E que eu queria muito, um dia, poder ser sua amiga. Mesmo que seja como deve ser: em silêncio e à distancia. Apenas nas lembranças.

Beijos,
Suzie Q.

*A partir de hoje o Alguns Momentos passa a publicar, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Amor de Carnaval

Vem cá, samba aqui. Pula teu carnaval no meu bloco. Me amarra em você com serpentina, enche minha vida de cor, feito confete. Eu canto a marchinha. Eu me visto de bate-bola. Pierrô ou Arlequim. Polícia ou Ladrão. Mas fica aqui, dança mais essa comigo, mesmo que não seja de corpo colado. Alalaô, mas que calor! Gruda que quero sentir você suando.

Fica mais, quebra aqui. Vem pra minha ala, usa a fantasia que pensei pra nós dois. Toco bumbo, pandeiro, cuíca, toda bateria. Faço paradinha só pra você. Viro mestre-sala. Viro destaque de carro. Viro, rodo, giro, entorto. Mas vem cá, samba aqui comigo.

Vem, veste meu abadá e entra pro lado de cá da minha corda. Eu empurro o trio pra você. Faço teu circuito. Entro em curto. Curto todos os sucessos do axé. Barra-Ondina. Dodô-Osmar. Olha o mar, dá mais um beijo. Eu faço teu camarote. Mas não vai, não. Vamos dar mais uma volta.

Vem cá, olha pra mim. Na rua, no bloco, no trio, no sambódromo. Vem cá, fica aqui. Eu te quero junto. Vem cá, toma mais um gole. Ainda é cedo. Vem cá, quarta-feira ainda tá longe. Vem cá, descansa no meu colo. Eu não te largo mais. Sem essa de amor de carnaval. As cinzas de quarta vão queimar por muito tempo ainda. Vem cá, vem?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Porque não

Eu quero que você entenda isso: não tem nada de errado com você. Mas eu também não vou ficar aqui naquele papo de “não é você, sou eu”. Não! Também não tem nada de errado comigo. Mas eu simplesmente não estou afim de você. E não quero levar adiante uma coisa que seria meio forçada, sabe? É errado com você e, principalmente, comigo.

Então entenda: você é, sim, um cara muito legal. Você é, sim, um baita partido. Você é, sim, o genro que toda sogra sonha. Mas não é pra mim. Não é! E não foi por um erro seu. Não foi por algo que tenha dito. Não foi porque o beijo é ruim. Nada disso. Não foi, simplesmente, porque não.

Sabe aquela coisa de criança de “porque não” não é resposta? Pois é. Bela bobagem. Porque não é resposta sim. Resposta super plausível. E, como você demonstrou tanta maturidade, espero que entenda. É só isso. Quando você pensar “porque ela não quis continuar comigo?”, saiba que a resposta é só essa: porque não.


Pra ler ouvindo: http://letras.terra.com.br/los-hermanos/69088/

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Falando abertamente

Às vezes paro pra ouvir meus amigos e pensar sobre as incríveis histórias de relacionamentos que eles têm. Penso em todas as possibilidades, reviravoltas, tensões, brigas e me espanto. São tantas coisas que acontecem por nada. Tanta bobagem que poderia ser resolvida com um bate-papo, mas que acaba em homéricas discussões. Tanta falta de sensibilidade de um lado e de outro. Me assusto.

Penso também no rumo que minha vida poderia ter tomado com a continuação de outros relacionamentos. E pensando nisso eu sempre me imagino com uma moça e me vejo velho antes da hora. Penso como seria estar com outra e me vejo castrado, infeliz. Tento ainda imaginar como teria sido com mais uma e me vejo alcoólatra. Com todas, me vejo superficial. Em todos os quadros, me vejo incompleto.

E ai, por menos religioso que eu seja, só tenho um pensamento: obrigado, Deus (seja lá você quem for). Obrigado por ter posto ela na minha vida. Obrigado por ela ter chegado cheia de calma, compreensão. Obrigado pela sobriedade, seriedade e solidariedade dela. Pelos ensinamentos que pude ter e tudo mais. Obrigado por ela me deixar mais seguro, mais sereno, mais completo.

Obrigado por ela.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Crônica de uma traição conveniente


Na academia, ela me olha. Com uma laicra indecente, força de vontade e muita sensualidade. Ela é casada. Muito bem casada, segundo dizem por ai. Mas, na verdade, após alguns anos de união ninguém é completamente bem casado. Sempre haverão segredos.

O amor só é bom no cinema. Na vida, só é bom se doer. Mas casamento e amor muitas das vezes não tem nada a ver com sexo. Tornam-se coisas distintas, incapazes de mistura ou influência mútua. Você pode ser casado sem amar e muito menos fazer sexo. Pode fazer sexo sem amar ou ser casado. Ou pode amar sem fazer sexo ou colocar aliança no dedo. Tudo pode, se é que me entendem...

Enfim, lá vem ela. Passa por mim. E me vem o sinal. Canto de olho. Um olhar curioso, depois um sorriso provocante. Um belo indicador de que ali há uma curva para perdição. Eu viro, entro e acelero. Chamo para um papo. Direto, sem cerimônia, nem conquista. Afinal, não temos o que conquistar. Somos casados e pronto. Essa é a condição. Conversa vai, conversa vem, conversa quente.

- Vai fazer a hidro hoje? - pergunto

- Vou.

- E que a horas acaba?

- 10 da noite. Tarde, né?

- Ou cedo. Depende do que a gente queira fazer. Posso, discretamente, assistir a sua aula?

- rsrsrs. O que você quer de mim, hein?

Às 21h30 eu lá estava. Nadando na raia próxima, acompanhando aquelas pernas irem e voltarem debaixa d´água. Às 10 em ponto, ela finalizou os exercícios, mas resolveu nadar um pouco também. Não entendi (ou entendi) porque, mas aprovei, claro, e continuei.

Em 15 minutos, estávamos a sós. A luzes ainda acesas a espera do tratador e vigia. Ela saiu da piscina. Linda, cabelos longos, castanhos. E aquele andar... que andar! Subi também. Fui ao vestiário. Errei a porta e entrei no feminino. E lá estava a moça, inteiramente linda, brilhante.

Silenciosos, sorrimos e nos beijamos. Demoradamente, ardentemente e ilegalmente, nos beijamos. Ali ficamos por mais de 20 minutos. Apertados a mais pura vontade de transar. Simplesmente, trasar. Sem amor, nem pressão. Apenas uma leve e boa preocupação.

Após isso, um até logo e a sensação de praticamente nada mudou em nossas vidas. Só ganhamos alguns instantes a mais de diversão.