*Por Juliana
Sem mais discussões filosóficas sobre a catarse social coletiva à qual chegamos todos, durante quatro dias de festa, onde o país esquece das condições de exploração e miséria em que vive e cai na folia vestindo a fantasia da alienação embriagada e do desejo à flor da pele... Sem mais!
Foi por isso que ela vestiu a fantasia. Tinha muito que saciar e deixar florescer, quarar ao sol enquanto arrumava detalhadamente os últimos retoques como destaque porta-estandarte no bloco dos desvairados.
Pior do que um coração partido é um coração desesperado em busca de se refazer.
Pulava, sorria e se deixava transbordar ao som dos sopros dos metais, das marchinhas saudosas, do barulho do mar nas pedras, das gargalhadas ensandecidas, os cortejos desconcertantes, os confetes, as cores, os prazeres, serpentinas, mais confetes, uma saudade, mais gargalhadas, mais confetes, a música, o barulho, a noite, o dia, a noite, o sol tornava a amanhecer, os bêbados, mais serpentinas e confetes, a Lapa, os gritos, o prazer, a folia, a alegria, desejo, ardor, mais samba, mais bêbados, ressaca!
E uma saudade, novamente...
Mas como raio, rápido e certo, ele chegou novamente e a atravessou no instante de um mísero segundo. Um telefonema, um raio de segundo. E tudo rodopiou, até desabar lentamente.
O amor. Quanta coisa pra caber numa palavra tão pequena.
Não tem mais torpor, prazer fácil, a embriaguez. Ele e a lucidez imediata, como que num combo promocional: “aceite um e se renda ao outro”.
Ela aceitou. Se refez em novos desejos e rendeu-se à outra aventura: estarem juntos. Voltar para o lugar de onde partiu, sem repetir o que não deu certo e desbravar o que ainda podem ser juntos.
Não tem mais carnaval. Não tem mais a catarse. Não tem mais a fantasia. O bloco dos desvairados passa e ela desembarca em outra estação.
Ele estava à sua espera.
Ela muito diferente. Mais leve, risonha. Segredos seguidos de suspiros inconfessáveis. Mas a essa altura eles não importavam mais, acreditem.
Ele estava decidido. Corajoso.
O tempo faz bem na maioria desses casos.
*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com
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