segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O mistério da azaração

Azarar mulher é uma função complicada. Primeiro, não se pode ser clichê, muito menos falar muito. Encontrar a linha certa pra dar a bola dentro não é fácil. Justamente porque temos que escolher as palavras certas, na quantidade certa. Bem, muita gente diz: "Não precisa! Seja autêntico". Isso mesmo. É preciso ser autêntico para admitir que originalidade demais perturba.

Por isso, defendo um processo de conquista bem cauteloso. Ou seja, vá, mas vá com jeito. Depois cê pode falar merda, tirar meleca do nariz, fumar "unzinho" ou dar uma de doidão na frente dela. Sei lá. Mas no começo tudo deve ser como manda o figurino: devagar e sempre.

Claro que falo aqui de mulheres sérias. Caso vá para uma micareta (pelo que me falam é sinônimo de mulher e homens fáceis) o procedimento é diferente. Se não souber, sugiro que pegue uma aula com algum bombadinho. Não é difícil encontrar um deses em Brasília. Estão quase sempre sem camisa, andam em grupo, bebem vodka e falam "véi" a cada duas palavras. Mole, mole! Esses ai sabem pegar mulher de micareta.

O problema são as sérias. Ou, pelos menos, as que aparentam seriedade e são do tipo impenetráveis (no sentido retórico e não literal). Pois bem. Existem dois problemas graves, para um homem, na hora da conquista. O primeiro é gostar de quem se quer conquistar. O segundo é não saber paticamente nada sobre a figura em questão.

Gostar só dificulta. Ficamos com medo de falar errado ou coisas desagradáveis e fora de hora. Ou seja, estamos sempre cheios de dedos. Mas elas não podem perceber isso. Então, acabamos com duas preocupações: 1 – receio de falar merda. 2 – receio de, de tanto tentar não falar merda, parecermos muito artificiais.

A situação piora quando nada se sabe sobre a gatinha. Vamos chegar e falar o que? "Oi, como cê tá? Mora onde? Gosta de Strokes?". Pra dois adultos de, sei lá, 26 anos, isso parece patético. No caso dela falar pouco (e você também), desista. Nada vai sair dali. Então, obter algumas informações antes é melhor. Qualquer coisa. A conversar vai engatar a primeira e não demora muito pra conseguir as outras marchas.

Remeto-se a uma frase da banda O Teatro Mágico: "Os opostos se distraem e os dispostos se atraem". Pura verdade. Azarar mulher é realmente um exercício de transpiração, como tudo na vida. É preciso disposição. Mas das duas partes. Agora, como atiçar a vontade dela… ai só Deus sabe. Mas não se engane, existe alguma coisa além do orgânico que faz despertar a vontade (dele ou dela). Não é porque se é bom de papo ou bonitinho. Tem alguma coisa que ainda não se descobriu. Alguém sabe?

domingo, 7 de outubro de 2007

O Trem

Aquele não era um trem muito grande. Mas seus vagões eram suficientes para muita coisa. Suas viagens eram sempre muito agradáveis, apesar de algumas passarem por lugares um tanto quanto improváveis e até, por que não dizer, fora de rota.

Ainda assim, era um ótimo trem. Cada vagão era determinado pra uma atividade específica. O primeiro era o coração. Lá estavam alojados o motor e também o maquinista. Era dali que partiam todas as decisões sobre destinos, partidas e chegadas. Mais as chegadas, nem tanto as partidas.

Tinha ainda um vagão exclusivo para diversão. Jogos, brincadeiras, fantasias, histórias, piadas. Qualquer coisa relacionada ao prazer, tudo estava ali. No seguinte, estava o aconchego, o carinho, o descanso, a amizade, aquele sentimento de bem-estar.

Em outro vagão estava a responsabilidade, o bom senso. Era também o vagão do trabalho, da seriedade. Não era o mais atrativo aos passageiros, mas todos sabiam que era muito importante para compor aquela engrenagem.

Ali, podia-se viajar com calma, tranqüilidade e ao mesmo tempo ter muita diversão e situações inesperadas. Porém, acontecia que o maquinista andava triste, procurando um passageiro para viajar com ele. Já imaginou que triste é um vagão sem passageiro?

Os vagões estavam todos vazios. Ninguém para aproveitar tudo aquilo que a máquina e seu maquinista ofereciam. Sequer um passageiro para viajar pelos lugares mais distantes que o trem e a imaginação do maquinista poderiam levar.

E dessa maneira, o trem perde a força. E pára. E vai ficar ali, emperrado em um trilho qualquer esperando algum novo passageiro. Longe da última parada e sem saber qual a distância para a próxima. E o maquinista esperando o coração da máquina voltar a assobiar aquele alegre “piuííííí”.