sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Seca brasiliense


Não é que eu não te ame mais. Não é que eu não te queira mais ao meu lado. Mas é que parece que entramos naquele tenebroso, frio e chuvoso inverno. Acabou o calor do verão, acabaram-se as flores lindas da primavera. As borboletas, sabe? Aquelas que voam no estômago. Não tem mais onde pousar aqui. Eu ainda te digo que suportei bem o início do frio, as folhas caídas, toda aquela nebulosidade do outono. Mas não dá mais.

É que sou de Brasília. E lá não temos essa coisa bem definida de quatro estações. Não estou muito acostumada a isso. Lá temos inverno e verão, e olhe lá. Na verdade, temos chuva e seca. Calor e frio. Uma coisa meio assim, oito ou oitenta. A seca, apesar de não ser um nome muito apropriado pra se falar de um relacionamento, é minha estação favorita. De manhã cedo tá bem frio, calor desértico ao meio-dia e frio cortante á noite. Mas tem os ipês. E tem como se prevenir do frio e do calor. E tem um pôr-do-sol de tirar o fôlego.

E com a gente, bem...  não tá nada perto disso. A gente tá só no frio cortante. Não tem o calor do dia. Não tem ipê florido. Não tem nem aquele aconchego de edredon no sábado de manhã. E nosso sol não nasce mais. Como vai se deitar no fim do dia?

Então, sabe, não é que eu não te ame mais. Mas é que realmente a gente ficou na seca – agora sim, um bom uso pra este termo. E eu tô atrás de ipês. Amarelos, rosas, roxos, brancos. Quero ver o pôr-do-sol na Esplanada, na Ermida, na Praça do Cruzeiro, no Mirante da Torre. Quero aproveitar minha estação preferida. E, quem sabe, a outra também. Não me leve a mal, tá?

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