Ela pode trazer diversos significados. Uma aventura na infância, daquelas de pular cerca com arame farpado ou uma queda de bicicleta. Uma mordida de cachorro, uma briga com o irmão e até uma queda na escada podem deixar marcas.
Outras cicatrizes podem não trazer lembranças saudosistas de uma infância de aventuras e desventuras. Esses sinais podem ser resultantes de acidentes mais sérios, da vida adulta. Uma batida de carro ou uma briga com conseqüências mais perigosas como uma facada.
E também tem aquela cicatriz de amor. Aquele sinal marcado dentro do peito. A que dizem ser a mais difícil de sarar, porque quando você acha que ela está fechando, algo acontece e a rasga novamente. E sangra tudo de novo.
E ainda tem as cicatrizes como a de Carlos. Aquelas que são uma mistura de todas as outras: ele carregava uma marca, um sinal no peito. Era um resquício de amor, tanto no seu sentido poético, quanto no seu sentido sexual. E também uma mistura de alegria de criança com o perigo das relações adultas.
Um arranhão. Foi o que deixou a cicatriz em seu peito. Vermelha como o esmalte pintado na unha dela na noite em que, morta de prazer, lhe apertou tanto que ficou marcado.
Ardeu, ficou ferido e depois cicatrizou, mas ele repetiria aquela noite e ganharia várias outras marcas em seu corpo se fosse possível. Não pensaria duas vezes em entregar seu corpo à flagelação dos arranhões dela se todos acontecessem da mesma maneira.
Carlos carregava aquela lembrança em seu peito. E todos os dias, em frente ao espelho, ele sonhava em ter novamente as unhas dela – pintadas de vermelho – cravadas em seu peito. Um prazer absoluto.