sexta-feira, 3 de julho de 2009

Não deu valor

Doía como costumam doer as grandes perdas, mas aquela tinha algo de diferente. Não sabia se pelo fato dele nunca ter sido realmente dela, ou se pelo fato dela nunca ter sido realmente dele. Mas é certo que doía ainda mais pensar que ele queria ser dela e ela não quis. Brincou, usou, deixou em stand by, desprezou e acabou perdendo. Talvez doesse também por conta da triste melodia que tocava no rádio do carro. E mais ainda pela letra da música que dizia tudo que ela deveria ter dito.

E agora, o que eu vou fazer?
Se os seus lábios ainda estão molhando os lábios meus?
E as lágrimas não secaram com o sol que fez?

Doía como costumam doer as grandes decepções, mas aquela tinha algo de diferente. Porque ela é quem havia se decepcionado. Ela tinha jogado contra ela própria, achando que o teria no momento em que quisesse. “É um guri bobo. É só chamar que vem correndo”, pensava. E assim fez por várias vezes. Chamado atendido, ela recebia o afago que queria, divertia-se com o rabo abanando do seu cachorrinho e depois o botava para dormir do lado de fora. E a música ainda trepidava as caixas de som do seu veículo.

E agora como posso te esquecer?
Se o seu cheiro ainda está no travesseiro?
E o seu cabelo está enrolado no meu peito?

Doía como costumam doer os choros silenciosos, mas aquele tinha algo diferente. Porque o silêncio de suas lágrimas era rompido por um leve soluçar e pelo eco de seu próprio pensamento que gritava “Burra! Burra! Burra!” a cada lembrança de um bom momento vivido ao lado dele. Momentos que não se repetiriam mais. Porque agora ele havia achado um lar. Alguém que o queria de verdade. Alguém que não o via como um brinquedo para horas de monotonia.

Espero que o tempo passe
Espero que a semana acabe
Pra que eu possa te ver de novo

Doía como costumam doer as despedidas inesperadas, mas aquela tinha algo diferente. Porque ela poderia tê-la evitado, mas não o fez. E agora sabia que não o veria de novo, mesmo após acabar a semana. E no carro, foi-se embora. Sem saber como não percebeu que ali estaria sua alegria, que ali poderia repousar seu futuro.

E agora como posso te perder?
Se o teu corpo ainda guarda o meu prazer?
E o meu corpo está moldado com o teu?


(Música: N, de Nando Reis)

5 comentários:

  1. Amei!
    quantas vezes acontece assim...

    Minha história não foi bem essa, mas sei como é ter uma despedida inesperada...

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  2. Ai que saudades daqui... rsrsr

    Como sempre coração trepida...

    Lindo...

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  3. Por que as pessoas valorizam as coisas, depois que perdem?
    Eu amei muito, mas fui usado, como um simplez brinquedo...
    Hoje, eu resolvi mudar, resolvi nunca mais deixar alguém pisar em mim...
    ~ Guarde o que vooc tem de melhor, pra quem MERECE!
    :D nunca esqueça disso#

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