Você entrou pela porta
e teus cabelos ruivos chamaram minha atenção. Não bastou muito para que meu
olhar percorresse todo teu corpo e pudesse, enquanto você circulava pela sala
recolhendo assinaturas, observar cada pedacinho seu para morrer em teus olhos azuis
piscando e tua cabeça naquele movimento de cumprimento silencioso que você fez
ao gordo de paletó de veludo.
Mentira, teu movimento
de cabeça me fez levar os olhos ao teu decote. E aí, quem morreu fui eu.Trinta,
quarenta segundos em que você esteve na sala foram suficientes para eu me
apaixonar, te namorar, casar contigo, ter filhos ruivinhos como você. Um
moleque com cara de capetinha. Uma menina meiga, com os olhos da mãe.
Você saiu da sala
novamente e meu coração bateu a mil na expectativa de que você voltasse. Foi a
única alegria daquela interminável reunião. Mais trinta, quarenta minutos e
nada de você.
Acabou e te procurei
pelos corredores. Não te achei. E me dei conta que você era mais um daqueles
amores efêmeros que nos ganham em poucos segundos, nos fazem viver uma vida e
se vão sem nem mesmo sabermos se as peles ficariam eletrificadas ao se tocarem.
Sem sequer ouvir uma voz.
No elevador, um andar
abaixo, entrou uma morena, baixinha. Seios pequenos, saia plissada. Batatas
malhadas, maçãs rosadas. Dei boa tarde, ela respondeu. Antes de chegar ao
térreo já tinha me casado com ela, com direito a passeio pela praia, com ela de
biquíni fio dental e um rebolado hipnotizante.