- Alô? Alô?
O silêncio do outro lado da linha era angustiante. Ela se perguntava quem poderia estar ligando àquela hora e não dizia uma palavra sequer. Não compreendia. Por que ligava se não queria falar nada?
- Alô? Alô?
A voz dela do outro lado da linha era reconfortante. Ele sentia um certo saudosismo ao ouvir seu timbre de voz. Uma mistura entre o rouco e o agudo, mas com uma entonação totalmente particular. Não queria dizer nada para não estragar aquele momento. Ouvi-la era o único prazer que tinha desde o dia em que ele acordou e resolveu partir.
- Olha aqui! Isso não é hora de ligar para os outros. Muito menos para passar trote. Se quer encher o saco, ligue pros seus amigos. Ou procure ajuda no CVV!
Decidira que precisava reagir. Não dava para agüentar aquilo. Já era a terceira noite seguida que acontecia a mesma coisa. E o pior: não conseguia dormir depois imaginando mil possibilidades para a ligação. Seria alguém precisando de socorro e desesperado discou números a esmo e caiu no dela? Seria alguém conhecido só querendo fazer alguma brincadeira? Seria ele?
- Olha aqui! Isso não é hora de ligar para os outros. Muito menos para passar trote. Se quer encher o saco, ligue pros seus amigos. Ou procure ajuda no CVV!
Ah, sim. O tom bravo, mandão, completamente imperativo. Que saudades sentia disso. Quanto não daria agora para ouvir uma de suas ordens. “Senta aqui!” “Dorme!” “Presta atenção no que eu estou falando!” Qualquer coisa valia. Até mesmo um “procure ajuda no CVV!”. Quase respondeu com um “Sim, paixão! Vou procurar agora...”, mas segurou-se. Afinal, ele tinha ido embora para não ter mais que obedecer a seus caprichos bobos. Desligou.
- Alô? Alô?O que é que você quer, hein? Por que não me deixa em paz? Não te devo nada! Devo nada a ninguém. Você por acaso é algum psicopata? Está tendo prazer com isso seu desgraçado? Larga esse telefone! Vira gente! Fala alguma coisa!
Ela já não agüentava mais. Uma semana de ligações e ela não tinha sequer uma pista que desse certeza de quem fosse o misterioso do telefone. Nem mesmo sabia se era um homem. Ela já estava para morrer de curiosidade. Era certo que essa era uma de suas maiores marcas. Não conseguia agüentar de um dia para o outro para saber alguma novidade. Surpresas nunca funcionavam com ela, sempre eram descobertas antes. E agora com essas ligações de madrugada, nem dormir conseguia mais. Antes, era depois do telefonema. Agora, antes. Ficava esperando, olhando os minutos passarem no relógio para ver que horas tocaria.
- Alô? Alô?O que é que você quer, hein? Por que não me deixa em paz? Não te devo nada! Devo nada a ninguém. Você por acaso é algum psicopata? Está tendo prazer com isso seu desgraçado? Larga esse telefone! Vira gente! Fala alguma coisa!
Cada noite que passava ele parecia estar mais perto dela. Relembrava vários momentos dos seus anos de amor. O primeiro beijo, a primeira transa, os presentes, as viagens, os passeios, as festas, as flores, as brigas, as reconciliações. Agora era tudo o que ele queria, uma reconciliação. Pensou em dizer alguma coisa. Segurou-se. Afinal, tinha ido embora porque não agüentava mais brigar no domingo, voltar na segunda. Brigar na terça, voltar na quarta. Desligou.
- Olha aqui. A partir de amanhã meu telefone estará cortado. Vou mudar de número e colocar um bina aqui. Quero ver você continuar ligando! Seu louco! Maldito! Me deixa em paz! Ou então se mostra logo... covarde!
Ela nunca faria aquilo que estava dizendo. Era só uma ameaça para ver se alguma voz vinha do outro lado. Cortar o telefone sem saber quem ligava não fazia parte dos seus planos. Ela precisava saber.
- Olha aqui. A partir de amanhã meu telefone estará cortado. Vou mudar de número e colocar um bina aqui. Quero ver você continuar ligando! Seu louco! Maldito! Me deixa em paz! Ou então se mostra logo... covarde!
Ele não podia perder aquele contato. Era tudo o que ele tinha. Era tudo o que o motivava a passar o dia correndo para chegar logo a madrugada e poder telefonar para ela. Ele precisava reagir, mesmo sabendo que ela nunca cortaria a linha sem saber quem estava falando. Mas ele também precisava falar o que vinha ensaiando.
- Desculpa. Eu te amo!
E desligou. Nem se lembrava mais porque tinha ido embora.
O silêncio do outro lado da linha era angustiante. Ela se perguntava quem poderia estar ligando àquela hora e não dizia uma palavra sequer. Não compreendia. Por que ligava se não queria falar nada?
- Alô? Alô?
A voz dela do outro lado da linha era reconfortante. Ele sentia um certo saudosismo ao ouvir seu timbre de voz. Uma mistura entre o rouco e o agudo, mas com uma entonação totalmente particular. Não queria dizer nada para não estragar aquele momento. Ouvi-la era o único prazer que tinha desde o dia em que ele acordou e resolveu partir.
- Olha aqui! Isso não é hora de ligar para os outros. Muito menos para passar trote. Se quer encher o saco, ligue pros seus amigos. Ou procure ajuda no CVV!
Decidira que precisava reagir. Não dava para agüentar aquilo. Já era a terceira noite seguida que acontecia a mesma coisa. E o pior: não conseguia dormir depois imaginando mil possibilidades para a ligação. Seria alguém precisando de socorro e desesperado discou números a esmo e caiu no dela? Seria alguém conhecido só querendo fazer alguma brincadeira? Seria ele?
- Olha aqui! Isso não é hora de ligar para os outros. Muito menos para passar trote. Se quer encher o saco, ligue pros seus amigos. Ou procure ajuda no CVV!
Ah, sim. O tom bravo, mandão, completamente imperativo. Que saudades sentia disso. Quanto não daria agora para ouvir uma de suas ordens. “Senta aqui!” “Dorme!” “Presta atenção no que eu estou falando!” Qualquer coisa valia. Até mesmo um “procure ajuda no CVV!”. Quase respondeu com um “Sim, paixão! Vou procurar agora...”, mas segurou-se. Afinal, ele tinha ido embora para não ter mais que obedecer a seus caprichos bobos. Desligou.
- Alô? Alô?O que é que você quer, hein? Por que não me deixa em paz? Não te devo nada! Devo nada a ninguém. Você por acaso é algum psicopata? Está tendo prazer com isso seu desgraçado? Larga esse telefone! Vira gente! Fala alguma coisa!
Ela já não agüentava mais. Uma semana de ligações e ela não tinha sequer uma pista que desse certeza de quem fosse o misterioso do telefone. Nem mesmo sabia se era um homem. Ela já estava para morrer de curiosidade. Era certo que essa era uma de suas maiores marcas. Não conseguia agüentar de um dia para o outro para saber alguma novidade. Surpresas nunca funcionavam com ela, sempre eram descobertas antes. E agora com essas ligações de madrugada, nem dormir conseguia mais. Antes, era depois do telefonema. Agora, antes. Ficava esperando, olhando os minutos passarem no relógio para ver que horas tocaria.
- Alô? Alô?O que é que você quer, hein? Por que não me deixa em paz? Não te devo nada! Devo nada a ninguém. Você por acaso é algum psicopata? Está tendo prazer com isso seu desgraçado? Larga esse telefone! Vira gente! Fala alguma coisa!
Cada noite que passava ele parecia estar mais perto dela. Relembrava vários momentos dos seus anos de amor. O primeiro beijo, a primeira transa, os presentes, as viagens, os passeios, as festas, as flores, as brigas, as reconciliações. Agora era tudo o que ele queria, uma reconciliação. Pensou em dizer alguma coisa. Segurou-se. Afinal, tinha ido embora porque não agüentava mais brigar no domingo, voltar na segunda. Brigar na terça, voltar na quarta. Desligou.
- Olha aqui. A partir de amanhã meu telefone estará cortado. Vou mudar de número e colocar um bina aqui. Quero ver você continuar ligando! Seu louco! Maldito! Me deixa em paz! Ou então se mostra logo... covarde!
Ela nunca faria aquilo que estava dizendo. Era só uma ameaça para ver se alguma voz vinha do outro lado. Cortar o telefone sem saber quem ligava não fazia parte dos seus planos. Ela precisava saber.
- Olha aqui. A partir de amanhã meu telefone estará cortado. Vou mudar de número e colocar um bina aqui. Quero ver você continuar ligando! Seu louco! Maldito! Me deixa em paz! Ou então se mostra logo... covarde!
Ele não podia perder aquele contato. Era tudo o que ele tinha. Era tudo o que o motivava a passar o dia correndo para chegar logo a madrugada e poder telefonar para ela. Ele precisava reagir, mesmo sabendo que ela nunca cortaria a linha sem saber quem estava falando. Mas ele também precisava falar o que vinha ensaiando.
- Desculpa. Eu te amo!
E desligou. Nem se lembrava mais porque tinha ido embora.