domingo, 18 de dezembro de 2011

Carta de (des) amor II

Fernanda,

Eu to cagando pro seu papel bonito e perfumado. Igual a esse eu tenho uma dúzia de rolos no banheiro que me servem pra limpar a bunda.

Sua história? É isso que você quer? Sua história é a de uma menininha burra que nunca tinha saído do mundinho de proteção que os pais criaram. A de uma menina sem vida, sem conhecimento, sem vivência. A virgenzinha que sonhava em casar com o príncipe encantado, ter filhos e cuidar da casa até morrer. Essa ERA a sua história até eu aparecer e te mostrar a vida.

Não fosse por mim você estaria casada com algum daqueles merdas de vizinho que sua mãe tem e vive achando que são os homens ideais pra sua vida. Não fosse eu você teria perdido a virgindade no escuro, com um barrigudo de meia social preta que teria bombado até gozar e saído de você. E você acharia até hoje que isso é sexo. Ou melhor, acharia que isso é amor. Essa é a sua história, “Fê”!

Não fosse eu você não teria estudado, não teria aprendido idiomas, não teria viajado o mundo. Não fosse eu você não teria comprado um carro, não teria um diploma, não teria sonhos. E agora você vem com esse papo de viver a SUA vida?

Quais são os seus desejos? Por que nunca os dividiu comigo? Por que fingiu por tanto tempo que estava tudo bem? Por que aceitou tão passivamente as minhas opiniões e certezas? Não era pra ser assim. Eu sempre te quis independente, mas me parece que você não entendeu assim. Você se livrou da cidade interiorana, mas a cidade interiorana não se livrou de você, né? Seu pensamento mínimo ainda está aí, cravado na sua cabeça. E eu só posso sentir pena.

Os meus sonhos são realmente meus. Os meus sonhos são o que busco realizar. Você estava encaixada em vários deles. Outros muitos foram sonhados pra você. Mas há tempos parece que você se colocou fora de tudo. Dos meus, dos seus e dos nossos sonhos, planos e vidas. E agora quer dizer que vai viver? Viver o quê? Duvido que você dê conta de alugar um apartamento. Até pensei que sim, mas depois disso tudo, duvido.

Mas você que se foda. Você que se vire. Você que busque seja qual for a merda que tiver na cabeça. Eu não to nem aí. Vou é viver minha vida patética com a piranha que acha que sou rico, bonito e poderoso. Ela, pelo menos, não se priva de dizer o que pensa olhando na minha cara.

Boa sorte. Mas quando quebrar a cara no mundo, por favor, não volte chorando. A porta não vai estar aberta.

PS: cheire esta carta. Esfreguei a bunda nela.

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