sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Voyeur

Ele gostava mesmo era de observá-la. Perdia incontáveis minutos, horas, dias, só admirando cada reação dela às coisas do dia-a-dia. Cada traço de admiração por algo novo, de espanto por algo estranho e de felicidade por alguma vitória. Cada sorriso a cada encontro. Cada desânimo a cada despedida.

Ele gostava de vê-la comendo. Pouquinho a cada vez. Mas degustando as garfadas como se fossem as últimas. Lambendo os dedos com vontade. Sentindo o aroma, testando o sabor, em separado, de cada ingrediente.

Ele enlouquecia ao vê-la sorrindo. Principalmente se fosse dele. Ou pra ele. Ou com ele. Ou de qualquer coisa. O importante era que ela sorrisse. E ele fazia muito para que isso acontecesse sempre que possível.

Ele adorava vê-la se arrumando. A toalha molhada enrolada no corpo. O cabelo pingando. Os pés entrando, delicadamente, pela calcinha. A bagunça de suas maquiagens. O olhar compenetrado pro espelho enquanto passa o lápis no olho. O sutiã abraçando os seios. O vestido que, definitivamente, veste seu corpo como se não houvesse nada mais apropriado.

E, ainda, gostava também de vê-la falar, contar suas histórias. Desabafar sobre seu dia. Relembrar um acontecido. Revelar um segredo. Abrir mais uma página do seu livro. Ele gostava de observá-la e, assim, se sentia mais próximo a ela.

Mas, mais que observar, ele gostava mesmo era dela. Todinha.



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