- Filho da puta!
- Pára com isso, Cláudia!
- Filho da puta mesmo! Você vai acabar com tudo. Não tem jeito!
- Calma, amor. Vamos conversar...
- Conversar o caralho! Não tenho mais nada o que conversar com você. São 10h da manhã. Você acha que eu sou o quê?
Todo casal briga. Para promover um belo arranca rabo, só precisa ser casal. É assim aqui e na China. Esses dois ai em cima costumam discutir bastante a relação. Sobretudo nos fins de semana. Ela, a Cláudia, até que é bem compreensiva. Mas o cara abusa. Ronaldo realmente não tem jeito. Sai pra tomar cachaça e não tem hora pra voltar.
Nessa manhã, ele chegou às 10h. No dia anterior tinha saído para trabalhar também às 10h. Portanto, 24 horas fora. Quando ela começa a brigar, ele já vai dando a desculpa. “Saí com o pessoal da redação e bebi muito. Não queria voltar dirigindo e dormir lá na casa do Marco”. Muitas vezes colou. Mas não agora.
O motivo da revolta de Cláudia não foi exatamente a noitada desenfreada do marido. “Por que é que você ta falando assim comigo?”, até estranhou ele, depois de alguns minutos discutindo. “Olha essa multa aqui, seu idiota!”, respondeu, irritadíssima.
O sangue subiu a cabeça. Ronaldo não tinha dormido direito. Tudo que ele queria era uma cama. E vem a mulher lhe falar de multa uma hora dessas? Que merda, pensava. Sem nem olhar a multa, ele aliviou a voz, como quem não consegue elevar o tom por puro cansaço, e falou: “Dinha, meu amor, eu vou tomar um banho, dormir e depois a gente resolve isso. Pode deixar que eu pago”, disse.
Ela começou a gargalhar sem parar. Demorou quase trinta segundos rindo. Ele, sem entender nada, aproveitou para soltar umas boas risadas sem graça e virou a cara. “Pega a merda dessa multa e olha a porra dessa foto”, disse ela, fechando a cara, em tom extremamente autoritário. Poucas vezes a mulher usava aquele tom nas discussões domésticas. O negócio era sério, imaginou Ronaldo.
Com a mão direita ele pegou a multa. Sentou na cama e sentiu um imenso frio na barriga. Não conseguiu encarar a mulher e calou-se. O papel trazia um prejuízo de aproximadamente R$ 180. Mas o pior mesmo era a foto.
A imagem em preto e branco mostrava um Celta preto, sujo de barro. Através do pára-brisa nada se via. Afinal, multas não mostram quem está dentro dos carros. O inferno de Ronaldo, porém, começava no banco do passageiro. Daquele lado do Celtinha de guerra dava para se ver um braço feminino para fora, pegando um ventinho, com um cigarro entre os dedos. Era uma mulher, sob um sol de 7h30. Os dois voltavam juntos de algum lugar depois da farra. O local da multa também denunciava o adultério.
- Porra, Ronaldo. Tem uma mulher fumando dentro do nosso carro, falou Cláudia, com a voz embargada e a primeira lágrima descendo pelo nariz.
Ele apenas levantou a cabeça, ainda sem ter o que falar, olhou fixo nos olhos da mulher e pensou: “Tenho que salvar meu casamento”.
E continuou sem falar.
A vida é feita de histórias. Boas e ruins. Surpreendentes ou não. Você nunca estará livre de histórias marcantes.
quarta-feira, 25 de abril de 2007
domingo, 15 de abril de 2007
Devoção ao Santo
Não era dia de São João e muito menos de Santo Antônio, mas foi o dia em que eles se conheceram. E se é que tem graça contar o final da história no começo dela, eu já vou dizendo logo que essa história acaba como gosta o santo padroeiro dos solteiros: em casamento.
E não tinha jeito melhor de acabar. Porque na noite em que se conheceram, durante uma festa junina, a encenação do casório – com direito a noiva casando grávida e o delegado indo buscar o noivo fugido na beira da estrada – já tinha acontecido e a quadrilha se preparava para sair de cena quando o puxador da festa convidou todos os presentes a acompanharem o cortejo de núpcias dos recém-casados. Mas tinha que ser de par. Cada um que arrumasse logo sua dupla, se não ficaria para trás.
Claro que Santo Antônio deu logo um jeito dos dois dançarem juntos e se conhecerem. Mas não passou daquilo e novamente o Santo teve que dar um jeito pros dois se reencontrarem e se gostarem mais e namorarem.
Acabou que também não deu certo, só que não sei se você sabe, mas quando um santo quer uma coisa, não tem jeito. Essa coisa vai acontecer. O bom e velho Antônio, louco pra realizar mais uma união cruzou a estrada dos dois de novo.
Mas como todo romance tem que ter um pouco de sofrimento, num foi dessa vez que o deles deu certo. O romance, não o sofrimento. Porque sofrer, ah, como sofreram os dois. Por saudade, por raiva, por orgulho, por não saber se era realmente aquilo que queriam. Tudo foi motivo de lamento para eles.
E aí foi o fim. Para eles, um fim derradeiro, daqueles que não há reza – e muito menos santo – que desse jeito de voltar. Cada um seguiu seu caminho, viveu sua vida sozinho e, por algum tempo, acompanhado de outro alguém. Mas nada foi tão intenso, quanto o que era entre os dois.
E eles ficaram sós, querendo voltar. Mas um dos dois sempre achava que não devia e por isso acabava desistindo. E foi assim por um longo tempo. Período de dificuldade. De aprender errando e se desesperar a cada vez que batia com a porta na cara. Até que o Santo resolveu aparecer na história novamente.
E não tinha jeito melhor de acabar. Porque na noite em que se conheceram, durante uma festa junina, a encenação do casório – com direito a noiva casando grávida e o delegado indo buscar o noivo fugido na beira da estrada – já tinha acontecido e a quadrilha se preparava para sair de cena quando o puxador da festa convidou todos os presentes a acompanharem o cortejo de núpcias dos recém-casados. Mas tinha que ser de par. Cada um que arrumasse logo sua dupla, se não ficaria para trás.
Claro que Santo Antônio deu logo um jeito dos dois dançarem juntos e se conhecerem. Mas não passou daquilo e novamente o Santo teve que dar um jeito pros dois se reencontrarem e se gostarem mais e namorarem.
Acabou que também não deu certo, só que não sei se você sabe, mas quando um santo quer uma coisa, não tem jeito. Essa coisa vai acontecer. O bom e velho Antônio, louco pra realizar mais uma união cruzou a estrada dos dois de novo.
Mas como todo romance tem que ter um pouco de sofrimento, num foi dessa vez que o deles deu certo. O romance, não o sofrimento. Porque sofrer, ah, como sofreram os dois. Por saudade, por raiva, por orgulho, por não saber se era realmente aquilo que queriam. Tudo foi motivo de lamento para eles.
E aí foi o fim. Para eles, um fim derradeiro, daqueles que não há reza – e muito menos santo – que desse jeito de voltar. Cada um seguiu seu caminho, viveu sua vida sozinho e, por algum tempo, acompanhado de outro alguém. Mas nada foi tão intenso, quanto o que era entre os dois.
E eles ficaram sós, querendo voltar. Mas um dos dois sempre achava que não devia e por isso acabava desistindo. E foi assim por um longo tempo. Período de dificuldade. De aprender errando e se desesperar a cada vez que batia com a porta na cara. Até que o Santo resolveu aparecer na história novamente.
E aí, na quarta vez que se encontraram, se acertaram. E aí sim, foi uma felicidade. Encontraram o amor, a amizade e a companhia perfeita para o resto de suas vidas. Namoraram, se amaram, riram das bobagens do passado e, como já era sabido, casaram. Graças a Santo Antônio!
quinta-feira, 5 de abril de 2007
Silêncio, olhar, frustração
Se por um lado a gente sente que tudo se acabou, contando até três podemos retomar a medida da vida. Primeiro, o silêncio. Depois, um olhar sem graça, transpassado, sem rumo. Mais além, a vontade vetada de falar. Frustração e, agora, uma constelação de idéias. Vou sair dessa, se pensa. E a gente sai mesmo. É só manter a calma.
Outro dia, a menina de olhos azuis entrou numa festa qualquer e sentiu na garganta o peso de uma surpresa. Olhou seu primeiro namorado. Ela tinha 23. Ele também. Os dois viveram alguma coisa além de um primeiro amor quando fazia lá a segunda série.
A jovem ficou surpresa por dois motivos. Primeiro: estava admirada por conseguir lembrar daquele cidadão. Fazia, pelo menos, uns 10 anos que não se encontravam. Por onde andava aquele rapaz?, chegou a se perguntar por diversas vezes ao longo da adolescência. E agora ele estava ali, na sua cidade, feito um andarilho desgovernado a sorrir e conversar com os amigos.
A segunda coisa que a impressionou foi o fato de ter ficado realmente balançada com aquele encontro. Ela não gostava dele, tinha certeza. Mas sentiu uma sensação inexplicável ao vê-lo. Voltou no tempo. Sentiu até frio na barriga. E olha que frio na barriga só acontece com os melhores amores. Enfim...
Passou a noite olhando o rapaz. Ele, embora flertasse com ela, nem ameaça uma aproximação. Aquilo causou um certo incômodo na menina dos olhos azuis bonita, decerto, porém, atrevida. Depois de duas horas de balada, o que antes incomodava lhe deixava agora furiosa. As quatro doses de vodka com suco e uma talagada de tequila ajudaram o sangue subir à cabeça.
Incentivada por amigas, lá vai ela ao encontro do moço. A conversa que se seguiu – e quero deixar bem claro que eu realmente não queria que fosse assim – tomou rumo inusitado. Veja só:
- Oi
- Ei, tudo bem?, disse o rapaz, abrindo o sorriso.
- Tudo. E você?, continuou ela.
- Bem também. A festa tá boa, né?, puxou assunto o cidadão
- Tá sim. Você ta morando aqui?
- Não. Mas... você me conhece?
Primeiro, o silêncio. Depois, um olhar sem graça, transpassado, sem rumo. Mais além, a vontade vetada de falar. Frustração e, agora, uma constelação de idéias.
- Conheço tanto que você nem imagina, respondeu ela.
- Como assim?
- Sou Melissa. Estudei com você no Colégio São Bernardo. Fizemos a 1ª e 2º série juntos.
- Melissa? Não lembro...
- Como assim não lembra? Você não é o Gustavo?
- Sou.
- A gente namorou, não lembra?
- Acho que... como é seu nome mesmo? Melissa, né? Pois é, acho que você está viajando...
- Que viajando droga nenhuma. (o clima esquentou!) Você tinha uma lancheira preta do Batman e levava comida pra gente trocar. Você machucou o pé no pátio no dia da apresentação da peça. Não é você?
- Sim, eu machuquei o pé quando era pequeno. Mas eu não lembro de você. Pode ser?
O silêncio. Um olhar sem graça, sem rumo. Mais além, a vontade vetada de falar, indignação.. só indignação.
Ela ficou sem idéias
Outro dia, a menina de olhos azuis entrou numa festa qualquer e sentiu na garganta o peso de uma surpresa. Olhou seu primeiro namorado. Ela tinha 23. Ele também. Os dois viveram alguma coisa além de um primeiro amor quando fazia lá a segunda série.
A jovem ficou surpresa por dois motivos. Primeiro: estava admirada por conseguir lembrar daquele cidadão. Fazia, pelo menos, uns 10 anos que não se encontravam. Por onde andava aquele rapaz?, chegou a se perguntar por diversas vezes ao longo da adolescência. E agora ele estava ali, na sua cidade, feito um andarilho desgovernado a sorrir e conversar com os amigos.
A segunda coisa que a impressionou foi o fato de ter ficado realmente balançada com aquele encontro. Ela não gostava dele, tinha certeza. Mas sentiu uma sensação inexplicável ao vê-lo. Voltou no tempo. Sentiu até frio na barriga. E olha que frio na barriga só acontece com os melhores amores. Enfim...
Passou a noite olhando o rapaz. Ele, embora flertasse com ela, nem ameaça uma aproximação. Aquilo causou um certo incômodo na menina dos olhos azuis bonita, decerto, porém, atrevida. Depois de duas horas de balada, o que antes incomodava lhe deixava agora furiosa. As quatro doses de vodka com suco e uma talagada de tequila ajudaram o sangue subir à cabeça.
Incentivada por amigas, lá vai ela ao encontro do moço. A conversa que se seguiu – e quero deixar bem claro que eu realmente não queria que fosse assim – tomou rumo inusitado. Veja só:
- Oi
- Ei, tudo bem?, disse o rapaz, abrindo o sorriso.
- Tudo. E você?, continuou ela.
- Bem também. A festa tá boa, né?, puxou assunto o cidadão
- Tá sim. Você ta morando aqui?
- Não. Mas... você me conhece?
Primeiro, o silêncio. Depois, um olhar sem graça, transpassado, sem rumo. Mais além, a vontade vetada de falar. Frustração e, agora, uma constelação de idéias.
- Conheço tanto que você nem imagina, respondeu ela.
- Como assim?
- Sou Melissa. Estudei com você no Colégio São Bernardo. Fizemos a 1ª e 2º série juntos.
- Melissa? Não lembro...
- Como assim não lembra? Você não é o Gustavo?
- Sou.
- A gente namorou, não lembra?
- Acho que... como é seu nome mesmo? Melissa, né? Pois é, acho que você está viajando...
- Que viajando droga nenhuma. (o clima esquentou!) Você tinha uma lancheira preta do Batman e levava comida pra gente trocar. Você machucou o pé no pátio no dia da apresentação da peça. Não é você?
- Sim, eu machuquei o pé quando era pequeno. Mas eu não lembro de você. Pode ser?
O silêncio. Um olhar sem graça, sem rumo. Mais além, a vontade vetada de falar, indignação.. só indignação.
Ela ficou sem idéias
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