quarta-feira, 25 de abril de 2007

Morto pelo braço

- Filho da puta!
- Pára com isso, Cláudia!
- Filho da puta mesmo! Você vai acabar com tudo. Não tem jeito!
- Calma, amor. Vamos conversar...
- Conversar o caralho! Não tenho mais nada o que conversar com você. São 10h da manhã. Você acha que eu sou o quê?

Todo casal briga. Para promover um belo arranca rabo, só precisa ser casal. É assim aqui e na China. Esses dois ai em cima costumam discutir bastante a relação. Sobretudo nos fins de semana. Ela, a Cláudia, até que é bem compreensiva. Mas o cara abusa. Ronaldo realmente não tem jeito. Sai pra tomar cachaça e não tem hora pra voltar.

Nessa manhã, ele chegou às 10h. No dia anterior tinha saído para trabalhar também às 10h. Portanto, 24 horas fora. Quando ela começa a brigar, ele já vai dando a desculpa. “Saí com o pessoal da redação e bebi muito. Não queria voltar dirigindo e dormir lá na casa do Marco”. Muitas vezes colou. Mas não agora.

O motivo da revolta de Cláudia não foi exatamente a noitada desenfreada do marido. “Por que é que você ta falando assim comigo?”, até estranhou ele, depois de alguns minutos discutindo. “Olha essa multa aqui, seu idiota!”, respondeu, irritadíssima.

O sangue subiu a cabeça. Ronaldo não tinha dormido direito. Tudo que ele queria era uma cama. E vem a mulher lhe falar de multa uma hora dessas? Que merda, pensava. Sem nem olhar a multa, ele aliviou a voz, como quem não consegue elevar o tom por puro cansaço, e falou: “Dinha, meu amor, eu vou tomar um banho, dormir e depois a gente resolve isso. Pode deixar que eu pago”, disse.

Ela começou a gargalhar sem parar. Demorou quase trinta segundos rindo. Ele, sem entender nada, aproveitou para soltar umas boas risadas sem graça e virou a cara. “Pega a merda dessa multa e olha a porra dessa foto”, disse ela, fechando a cara, em tom extremamente autoritário. Poucas vezes a mulher usava aquele tom nas discussões domésticas. O negócio era sério, imaginou Ronaldo.

Com a mão direita ele pegou a multa. Sentou na cama e sentiu um imenso frio na barriga. Não conseguiu encarar a mulher e calou-se. O papel trazia um prejuízo de aproximadamente R$ 180. Mas o pior mesmo era a foto.

A imagem em preto e branco mostrava um Celta preto, sujo de barro. Através do pára-brisa nada se via. Afinal, multas não mostram quem está dentro dos carros. O inferno de Ronaldo, porém, começava no banco do passageiro. Daquele lado do Celtinha de guerra dava para se ver um braço feminino para fora, pegando um ventinho, com um cigarro entre os dedos. Era uma mulher, sob um sol de 7h30. Os dois voltavam juntos de algum lugar depois da farra. O local da multa também denunciava o adultério.

- Porra, Ronaldo. Tem uma mulher fumando dentro do nosso carro, falou Cláudia, com a voz embargada e a primeira lágrima descendo pelo nariz.

Ele apenas levantou a cabeça, ainda sem ter o que falar, olhou fixo nos olhos da mulher e pensou: “Tenho que salvar meu casamento”.

E continuou sem falar.

4 comentários:

  1. Salvar?
    Chora amigo... esse morreu mesmo!!

    Muito boa pedroca!!

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  2. Salve, salve, escritor! Bom demais meu querido... Quanto ao Ronaldão, é... melhor continuar sem falar nada.

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  3. salvar n sei se é possível. Mas o melhor é ficar calado heheheh

    Muito boa

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  4. É!
    Assim são os homens!
    Ai que raiva!
    hahahahahahaha

    Beijos

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