sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Historinhas de avião

A Classe C quer voar, disse certa vez a manchete de uma revista semanal. Você ai, acostumado a viajar com cara de poucos amigos, lendo seu livro (agora o seu tablet), conversando pouco, pedindo água num toque do botãozinho e etc, tem de entender a gloriosa ascensão dessa classe espontânea, cheia de praticidade e sorriso no rosto. Ela é pura alegria.

O que já vi nos últimos anos de voos foi uma transformação que rende histórias, no mínimo, interessantes.

Como no dia em que comecei a sentir um cheiro de tangerina (mexirica, para os brasilienses) no avião. Olhei pra trás e lá estava a moça, descascando na buena e aquele cheiro ácido exalava no ar pressurizado. Ela tirou um saco da bolsa e dentro estava a fruta. Comeu todinha. Confesso: quase peço um pedaço pra ela. Tava bonita.

Outra: certa vez saía do avião quando uma senhora insistia em me dar um fone de ouvido da Tam. Eu recusava, solenemente, e ela não entendia o por que. “Mas a (aero)moça disse que a gente pode levar. É de graça", continuava. "Eu sei, minha senhora, mas eu não quero", retruquei, sorrindo e virando a cara.

Ah! Se há algo perigoso nos dias de hoje é viajar na janela. Os passageiros de primeira têm mania nelas. Uma fissura. Certa vez curtia um cochilo nesses voos da tarde quando acordo com uma cabeça perpassada em minha frente. O corpo do marmanjo quase deitava no meu colo. A testa grudava na janela. E ele, com uma camisa da Diesel azul bebê e uma calça jeans meio esverdeada e cheia de rasgões, sorria como uma criança. Toquei levemente no seu ombro pedindo licença. Ele afastou e, sorrindo, soltou: "Bonito, né?"

Muito. Bonito também foi a cutucada que uma vovó deu na passageira que viajava ao meu lado. A moça, sonolenta, decidiu inclinar o assento. E levou três dedadas na cabeça. "Ei! Tem uma criança aqui atrás". Sim, e ai? A mãe se desculpou pela atitude da vovozona sem noção e a moça, calma, voltou a dormir. Na certa ela pensou que o banco inclinaria igual a carro, ônibus, sei lá, e imprensaria a criança. Vai entender.

Enfim... Antes que me chamem de preconceituoso e etc, quero justificar minha análise comportamental. Tudo isso ai acima são situações cotidianas, fruto de uma admirável ascensão das classes menos abastadas. Muito bom para o país, aliás. Cabe a nós encararmos com leveza esses, digamos, choques sociais.

Fui! Volto em 15 dias...

Um comentário:

  1. Pedroca, acho que histórias de avião (e tudo o que envolvem elas, tipo o despacho de bagagens) dariam um belo livro, né?

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