- PORRA moleque! Já falei pra tu parar com isso, velho!
- Me deixa em paz. To aqui na minha. Fazendo mal pra
ninguém.
- Faz mal pra tu mesmo oreia. Onde tu acha que tu vai parar
com isso?
- Onde eu vou parar, não sei. Mas sei que não vou parar no
sutiã.
- Prestenção Duda, já te falei isso mil vezes. Cara, se a
mulher quiser te dar vai ser com ou sem sutiã. Se brincar, nem a calcinha ela
tira.
- Mas EU quero tirar o sutiã. Eu quero os peitos. Posso? Que
graça tem sem brincar com eles?
- Pode, mas se você quer peitos, vá atrás deles. Não fica aí
com essa porra desse sutiã preso na cadeira treinando como vai abrir. Já
treinou demais, vai praticar! Sabe o que tu parece? Aqueles caras que fazem
truques de se libertar... como é mesmo o nome? Eu já li um livro sobre isso.
Eram uns moleques que eram fãs do Houdini e desenhavam um quadrinho de super-herói.
Tu leu também, né?
- Prestidigitação. O livro é As Incríveis Aventuras de
Kavalier e Clay. Não apenas li, como fui eu quem te emprestou pra ler e você
não devolveu até hoje, né Teta?
- Isso!! Você é o Houdini do sutiã, Dudinha. To te
imaginando dentro de uma caixa, cara. Toda presa com sutiãs e você só sai de lá
depois de abrir todos, com os olhos vendados. Hahaha!
- Vai tirando sarro... Quero ver tu travado na hora H,
porque não conseguiu tirar o sutiã da menina. Aquele momento constrangedor, tu
vai ficar sem graça e broxar. Aí vai vir aqui pedir emprestado pra treinar
também.
- Mas nem a pau que eu peço esse sutiã nojento emprestado.
Cara, sério. Tu roubou o sutiã da dona Márcia. Mó velha! Que tesão tu tem
nisso?
- Primeiro que não preciso de tesão, Teta. Preciso de concentração
e técnica. Segundo que a Dona Márcia não é mó velha. Ela é uma mulher de, no
máximo, 35 anos. Tá super em forma e se me desse mole eu ia.
- Duda, suponhamos que ela tenha 35...
- No máximo, mas acho que tem menos.
- Ok. Mas fiquemos com os 35. A gente tem 16. Quando tu
nasceu ela já tinha 19. E, provavelmente, muitos caras já tinham tirado o sutiã
dela. Enquanto tu tá aí, treinando com isso e virgem.
- Falou o experiente.
- Pois é. Vim aqui te contar uma parada, te vi nessa cena bisonha
e até esqueci...
- Que foi?
- Dei um pega forte ontem. Ganhei até uma semipunhetinha...
- Com quem?
- Luaninha delícia.
- Se foder, Teta. Tu fala isso só porque sabe que eu sou
afim dela.
- Ahahahahaha! To de sacanagem. Foi com a Verônica, po!
Passei a mão nela toda, moleque. TO-DA!
- E que mais?
- Só.
- E que porra é uma semipunhetinha?
- Ah, ela pegou no meu pau.
- ?
- Por cima da calça.
- ?
- Assim, acho que foi meio sem querer. Eu peguei no peito
dela e ela foi me “empurrar” pra eu parar e deu uma passada. De leve.
- Ou seja, não foi porra nenhuma.
- Como não? Eu quase gozei nas calças!
- Caralho, Teta. Tu fala que eu sou cabaço porque treino
abrir sutiã, mas tu pega a menina, força pra passar a mão, toma uma relada, SEM
QUERER, no pau e quase goza? Cabaço é você, moleque!
- Pelo menos to pegando alguém.
- Eu vou pegar. Amanhã.
- Quem?
- Não interessa.
- Ah, não! Interessa, sim! É a Luana?
- Claro que não. Ela é um sonho. Platônico.
- Só porque tu não toma atitude. Te falei que ela ficou te
secando na aula de Educação Física.
- Não. Ela tava me olhando por outro motivo.
- Qual?
- A Janaína.
- ?
- A Janaína quer ficar comigo. A Luana me ligou pra dizer. E
me disse que elas vão estar na festa da Paty amanhã. E deixou bem claro que se
eu chegar, pego.
- E tu falou o quê?
- Nada.
- Como nada?
- Tu sabe que eu travo com essas merdas. Tu acha que treino
com o sutiã por quê?
- Mas tu nem disse um “beleza”?
- Porra, Teta! Era a Luana! Eu quero pegar ela, não a
Janaína. Eu ia dizer o quê? “Ah, não Luana, obrigado. Na verdade eu tava
pensando em pegar você e te trazer pra minha casa depois. Meus pais vão estar
viajando. Que tal? Já comprei até umas camisinhas.”
- Eu pegava a Janaína fácil.
- Ela é bonita. Mas eu vou pegar a amiga da mina que eu to
afim? Pra ela nunca mais querer ficar comigo? Vir com aquele papinho de “ah,
Duda, mas você ficou com a Jana, minha amigona, não posso fazer isso...”? Me
fode, né?
- Sabe o Carlos, meu primo?
- Han...
- Ele me diz que mulher fala isso só de onda. Mas que se tu
pega uma amiga com muito gosto. A mina faz propaganda e deixa as outras todas
afim de te pegar. Só pra saber se aquilo que a outra disse era mesmo verdade.
- Será?
- É a hora de testar a teoria.
- Porra, não sei.
- Vem cá, teus pais vão viajar mesmo?
- Vão, mas nem começa a viajar. Já vi minha mãe falando com
a Terezinha papo dela ficar aqui.
- Porra, nem pra Terê ser gostosinha, né?
- Calaboca, idiota. Terê foi babá do Jota, da Nina e depois minha.
Nem na época do Jota bebê ela devia ser gostosa. Que o diga hoje.
- Hahahaha. Será que o Jotinha brincou ali? Ele não perdoava
ninguém antes de casar.
- Véi, para de falar merda. Concentra aqui no principal. Eu
pego a Jana?
- Dudinha, mulher a mais nunca é problema, irmão. Problema é
quando elas faltam!
- E tá faltando aqui pra mim, viu? Vou mentir não.
- Então pronto. Pega a Jana. Se fosse pra pegar a Luana, ela
não tinha ligado com esse papo.
- Mas e se ela gostar de mim também e estiver só me
testando. Pra ver se eu pego outras e não ela.
- Mas e se a Sabrina Sato vier dormir aqui contigo amanhã?
- Quê?
- Mas e se todas as panicats da história resolvessem vir
aqui te desvirginar?
- Tá viajando?
- Tô só te mostrando que “mas e se” pode ser muita coisa.
Esquece isso e pega a Jana. Mas capricha. Ela tem que te achar o melhor cara da
história.
- Flores?
- Não, mané! To falando de pegada. Não de romance. Se ela se
apaixonar, aí é que tu se fodeu mesmo. Porque a Luaninha delícia não vai pegar
o namorado da amiga. Isso não.
- Caralho, Teta. Tu só piora as coisas.
- Relaxa, Dudinha. Vamos pra festinha amanhã, tu chega
junto, pega, capricha e deixa ver como as coisas rolam. Na pior das hipóteses tu soma mais uma. Pronto.
- Na melhor?
- Na melhor a Terezinha não vem dormir aqui e tu termina a
night desvirginado.
- Com a Jana?
- Não, comigo. Compra KY também.
- Tomar no cu.
- Ahahahahaha!
- Com essa bunda murcha acho que nem o professor Miguel ia
querer te comer.
- Deus me livre daquela bichona.
- Mas se tudo der muito certo, sim. Tu acaba a noite comendo
a Jana. Quer melhor?
- Quero. A Luana. Nem precisava comer. Se abrisse o sutiã
tava satisfeito por hora.
- Então treina aí, Houdini. Treina e continua sentado aí
treinando. Quem sabe um dia a Luana cai de paraquedas aqui no teu quarto e tu
realiza esse desejo.
- (respira fundo)
- Vou nessa. Ligar pra Verônica e ver se rola de pegar ela
hoje de novo. Vou até roubar uma camisinha sua. Vai que...
- Vai porra nenhuma. Tu já tá é apaixonadinho pela
Veroniquinha tesão. Ahahahaha!
- Ainda vai demorar muito pra eu cair nessa de apaixonar.
Não sou feito você.
- Falou André “Teta” Guedes, o homem sem coração.
- Fui. Treina aí com teu sutiã. Vai passar a noite aí mesmo?
- Vou jantar. Família. A Nina disse que tem novidades. Acho
que vou ser tio.
- Opa! Tomara que seja sobrinha pra eu pegar quando ela
crescer.
- No seu cu.
- Falou. A gente se fala amanhã. Prepare-se pro grande dia!
Ele nunca tinha reparado no sutiã da Janaína. Não sabia se
era daqueles com a tira fina, feito os da Luana. Ele não sabia se eram
delicados. E começou a pensar que talvez fosse uma boa ideia se ela estivesse
sem sutiã.
Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento