sexta-feira, 26 de julho de 2013

E se eu não acordasse amanhã...*

*Por Maya Belle

E se eu jogasse tudo para o alto? E se eu decidisse que amanhã eu não devo abrir os olhos? Nem depois, nem depois, nem depois... E se eu entendesse que o fim chegou? E se nada mais valesse a pena? E se eu simplesmente desistisse?

Nada. Nada aconteceria. Você não descobriria repentinamente que fui o amor da sua vida. Meu grande amor não apareceria... Até porque, caso aparecesse, eu nunca iria vê-lo. A não ser que existisse vida após a morte. Mas se eu acreditasse nisso mesmo, não estaria fazendo isso agora.

Se eu ainda acreditasse em qualquer coisa, sequer pensaria nisso agora.

Acreditei um dia... Mas aquilo que um dia me fez crer em algo dilacerou meu coração, roubou minha alma, esfarelou minha mente. Então, por que eu deveria querer abrir os olhos amanhã? Pra ver um mundo do qual não sou mais parte? Já dizia o Mika – aquele cantor que um outro me ensinou a gostar, mas que pra você não faz diferença: no hope, no love, no glory.

Talvez um ou outro pense “que os lábios atraentes não mais estarão lá para uma satisfação carnal”. Quem sabe um amigo questione o que me levou a fazer isso. Alguns devem chorar e se perguntar como não perceberam isso antes. Os pais... Ah! Os pais! Eles sentirão. Pais foram feitos para sentir. Por outro lado, sentirão alívio de um peso que não precisam mais carregar: ela vai ser feliz? Vai se casar? Vai ter filhos? Quem cuidará dela quando não mais estivermos aqui?

No fim, nada faz sentido mesmo. E ninguém vai perceber que o fim foi a soma de todos os começos e meios que estiveram lá para lhe trazer simplesmente nada. No fim, é só a cinza. É só o amor que ela nunca soube explicar. O sentimento que ela nunca sentiu de verdade. É tudo lindo. É tudo tão distante da sua realidade. No fim, não há razão. E viver sem sentido é o mesmo que estar morto pela eternidade.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Segunda-feira

Ela achava graça de como as pessoas reclamavam das intermináveis e solitárias tardes de domingo. Sempre aparecia alguém por aí, seja ao vivo, ou pelas redes sociais, reclamando do quanto é dolorido esperar pelo fim daquele domingo que não acaba nunca, em que a programação na TV é vazia e entediante, e nem aquele filme que todo mundo adora tem graça ao ser visto sozinho, sem nenhum colo para te aconchegar na cama.

Mas ela mesma não se importava com os domingos. Seus domingos são cheios, repletos. Seus domingos têm amigos, sol, clube, cerveja, futebol, cinema. Seus domingos acabam tarde, com vontade de que pudessem ser eternos. Eternos domingos, seguidos de outros domingos, e mais outros domingos. Porque o que dói mesmo são as segundas-feiras. Essas são as que partem seu coração.

É na segunda-feira que ela se coloca de volta à rotina. A rotina solitária. É na segunda que levanta cedo e percebe que não ganhou aquele boa noite antes de dormir e nem vai receber aquele beijo de bom dia. É ao acordar para dar início a mais uma semana que ela percebe que, na verdade, essa será mais uma semana que começa sem tê-lo.

E é aí que dói e ela falta implorar para o tempo correr e chegar logo o próximo domingo. E com ele, aquela esperança renovada de que outra semana pode começar e, quem sabe, ela acorde na segunda-feira com aquela mensagem desejando um bom dia. Ainda que seja à distância.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ali tem um coração

Ela diz que não tem. Mas sabe que tem. Ela diz que é frio. Mas sabe que queima. Ela chega até a dizer que é de pedra. Mas é, nitidamente, de manteiga o coração daquela menina. Não há outra hipótese. Só ela mesma acredita em seus contos, naquela pose de durona, nos palavrões que solta como vírgulas pra afirmar que ali tem dureza.

De resto, o mundo e, principalmente, ele veem, ali, só amor. Veem aquele coração que ela teima em castigar. Veem aqueles olhos cheios de ternura, aquela cabeça cheia de boas intenções e o coração – sim, ele existe – cheio de amor pra dar. Um amor derretido, feito a manteiga. Um amor meloso. Um amor carinhoso.

Era tão visível pra ele – e pro resto do mundo – que quase sempre não consegue entender por que ela mantem a pose. Talvez ela realmente ache que não tem um coração ali. Foi roubado por um ex amor, vai saber. Ou que antigas pancadas o tenham calejado e por isso, hoje era duro. Ou tanta falta de carinho, de calor humano, o tenham deixado mesmo congelado. Não dá pra saber.

Mas ele sabe que ali tem um coração. Ele sabe que na hora que ela deixar pra trás esse papo de menina de gelo tudo vai aflorar. O amor vai surgir, a manteiga vai derreter, as lágrimas vão rolar. E ele vai estar ali, ao lado dela, segurando sua mão e dizendo que ele sempre soube da verdade, enquanto os dois corações se aquecem.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Pantone

Quero comer teu batom. Servido na boca. Da tua pra minha. E sentir teu gosto de vermelho. De sangue nas veias, de vontade, de desejo. Teu gosto de cereja, doce até enjoar. Teu cheiro de flor, de rosa vermelha roubada no jardim do vizinho.

Quero nadar na piscina dos teus olhos. Verdes. E me afogar na imensidão dessas águas e pensamentos. E descobrir teus segredos. E ouvir tuas histórias. E sonhar teus sonhos junto com você. E imaginar o que cabe de você em mim. O que cabe de mim em você.

Quero me embaralhar nas cores do teu corpo. O amarelo do teu cabelo. O azul, o vermelho, o preto, das tuas tatuagens. E ler. E reler. E entender cada frase que você carrega escrita em sua pele. Seja qual for a língua. Seja lá qual for o contexto.

Quero sim. Quero tudo. Ainda que amanhã o branco pinte tua memória e você me esqueça por completo.