sexta-feira, 27 de junho de 2014

Pra ler você*

Por Priscila Sales*

Ah, menino...Se soubesse que entre tantos papéis ainda tenho tempo de pensar em você! Que uma promessa me fez ter vontade de escrever para você ler. Que de tão longe se faz presente e que, em poucos detalhes - como um comercial de tv - me dá vontade de conversar e ouvir sua risada!

Menino, se soubesse o quanto sou irônica e destemida, não tinha me jogado nesse mundo tão distante de escrever. Meu mundo são os números e eles vão aparecer aqui quando eu contar há quanto tempo não te vejo.

De tão distante, o que me resta é esperar para poder ler você.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Ele sempre volta

E quem foi que te disse isso, menino? Quem foi que te botou tamanha ilusão dentro do peito? Quem te fez acreditar numa tremenda besteira dessa? Espero que você não tenha, nem por um minuto, pensado em espalhá-la por aí. Acreditar é, certas vezes, até aceitável. Mas você é a prova viva de que tudo não passa de uma mentira.

Por que ele volta. Sempre volta. Às vezes demora mais, outras vezes menos. Um dia, dois. Uma semana, um mês, dois anos. Quem sabe? Ninguém. Talvez teu coração. Ele é o real relógio. O Cronômetro que corre reverso para definir o tempo certo pra ele voltar. Mas é certo que ele volta.

Teu cronômetro zera e o amor volta. E te enche de novo de alegria. Te enche de novo de vontade. De planos, sonhos, novidades. Te deixa louco de paixão e esperança.

Ele voltou. Viu como ele voltou? O amor voltou. Aproveite, garoto. E nunca, jamais, acredite no que dizem por aí. Atravesse os desafios e confie. O amor volta. Ele sempre volta.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Dia dos namorados

- E aí, Dudinha! Qual a boa de hoje moleque?
- Pô, Teta. Dia dos namorados. Vou ver um filme com a Jana.
- Huuuummmm... mas tá muito pau mandado mesmo, hein?
- Cala a boca, véi. Nada a ver.
- Hahahaha! Tá certo moleque. Aproveita e vê se come ela logo. Fica namorando e não come ninguém, nunca vi isso!
- Como se tu comesse alguém, né?
- Não comi. Mas tô mais perto que você, que namora e num passa a mão nem na bunda dela.
- Tu não vai namorar nunca com essas ideias, tá ligado, né?
- E quem disse que eu quero? Eu quero é trepar! Hahahahahahaha!
- Mané!
- Sério, Duda... não tá rolando uns amasso forte, não?
- Teta, não vou ficar falando disso.
- Porra! Eu sou teu melhor amigo e tu não vai falar disso?
- Não vou expor minha namorada, porra!
- Eu não quero saber se ela depila a porra da buceta! Só quero saber se vocês tão esquentando, porra! Se, pelo menos, parece que ela tá animando em transar com você.
- Tá. Tá sim.
- Aaaahhhh!! Agora eu vi vantagem, moleque! Já rolou aquela mão boba e tal?
- Já.
- Porra nenhuma. Tivesse rolado tu não tava nesse desânimo.
- Não tô com desânimo nenhum. Tô nervoso!
- Por quê?
- Porque ela chamou pra ver o filme. Mas não é no cinema. É na casa dela. E eu acho que vamos estar só nós dois!
- CARALHO!! Então, hoje tem!!!!
- Não sei se tem. Mas tô nervoso!
- Aaaahhh Dudinhaaa, vai rolar demais, moleque!
- Eu preciso treinar a abertura do sutiã.
- Moleque! Cala a boca. Tu não esqueceu essa bosta ainda? Tu vai transar. T-R-A-N-S-A-R! Esquece esse sutiã.
- E eu vou transar sem tirar o sutiã dela?
- Velho, deixa que ela tira...
- Eu quero tirar!
- Então vai se foder. Relaxa, que na hora dá certo.
- Tomara.
- Vai sim. Relaxa.
- Tá.
- Tu tem camisinha?
- Não!
- Porra! Tu é burro? Toma essa aqui.
- Tu nunca ia usar mesmo, né?
- Vai se foder.
- Valeu, moleque.
- Se joga, Dudinha. Mete rola!
- Tu é um escroto mesmo.
- E tu um viadinho apaixonado.

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Difícil odiar

Eu estava pensando aqui um dia desses, entre uma rajada de vento e outra de fumaça de ônibus que recebia na cara, enquanto observava da janela, o quanto deve ser difícil pra você me odiar assim, né? Porque você poderia ter mil motivos pra me detestar depois que fui embora. Seria muito simples ter raiva do cara que te deixou só por este fato.

Mais fácil, ainda, seria se tudo aquilo que você imaginava que eu fosse, acontecesse de verdade. É simples detestar um homem rico, bonito, cheio de futuro e que te deixou, assim, ao que parece, sem motivo algum, né? Você poderia estar, agora mesmo, usufruindo de toda essa riqueza, beleza e sendo parte do futuro brilhante que eu teria pela frente, segundo você mesma.

E é por isso que pensei que deve estar sendo complicado, né? Detestar um cara pobre, jogado na sarjeta, morando de favor na casa de um primo que nunca nem foi muito próximo, mas era o alento e o teto que lhe sobraram. Detestar um cara sem emprego, magro-esquálido-amarelo, porque mal come de tanta vergonha de si mesmo. Não é simples ter ódio de alguém assim.

Mas, mesmo assim, consegui ver, por trás do azul cintilante dos teus olhos, o vermelho brasa da raiva. A tua vontade de agarrar minha barba por fazer e encher minha cara de tapas. O teu peito inchando de vontade de gritar um sonoro FILHODAPUTA! Sim. Eu percebi tudo isso. Você sabe que desde o primeiro momento eu sempre soube ler você.

Mas olha, fica com raiva não. Eu tô aqui, assim. Desse jeito que você viu na esquina. Eu não tô nem perto do brilho que você esperava de mim. Então, nem vale a pena guardar esse ódio por algo que nunca aconteceu ou vai acontecer.

Aliás, pra sanar sua dúvida de vez, foi por isso que fui embora. Pensando bem, eu prefiro até tua raiva que a tua decepção. Prefiro que você queira me bater e cuspir na minha cara a se desiludir com o tempo e virar uma sombra daquela mulher viva com quem eu tive o prazer de conviver.

Então, vem cá. Bate. Descarrega a raiva toda e segue em frente. Que você continua linda e não merece um fracassado feito eu.