sexta-feira, 25 de julho de 2014

Passou...*

*Por Aninha Ulhôa

Morro quantas vezes achar necessário. Pra depurar a alma, pra esmiuçar a dor. Mas por você não morro mais.

A transitoriedade de tudo, que sempre me causou certa angústia, hoje me consola...bom saber que tudo passa. Apesar de ter certeza que certas coisas duraram mais do que deveriam.

Se bem que é irônico falar que você passou. Porque a palavra é essa mesma...você PASSOU pela minha vida, nem se dignou a entrar. Como alguém que passa pela porta da sua casa e lhe acena um cumprimento de bom dia que não denuncia a cumplicidade que ali existe.

Existe? Já não sei se existe mesmo...se algum dia existiu. Outro capricho da transitoriedade é que quando se finda um ciclo você olha pro passado e se questiona se aquilo tudo foi fato ou invenção. A mente da gente prega peças...o coração então, pff...

Eu tenho um código rígido. As pessoas que fazem parte da minha vida têm que me fazer me sentir melhor. Porque sozinha eu estou ótima, de má companhia já me vacinei. O bom de você ter infringido minha lei básica de auto proteção é que finalmente conseguiu a atenção que cobrava. Sim...eu prestei atenção no tanto que você me fez mal.

Contrariando Paulo Leminski decreto que você, na minha vida, passou...basta. E pra evitar a saudade burra, que só se lembra das coisas boas, resolvi passar para o papel tudo que remoí o dia inteiro. O papel, diferente da saudade, registra a mágoa. E eu, diferente de você, sou fiel a mim mesma e me prometi que por você não morro mais.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Buffet

Já provei diversos corações. Degustei como as maiores iguarias que existem no mundo.

Alguns vieram bem temperados, com bons acompanhamentos, mas que serviram apenas para esconder a má qualidade da carne. Outros, bons, porém em pequenas porções, não me serviram nem de entrada.

Outros, servidos em bandeja e fatiados com talheres de prata, me foram apresentados com tanta pompa que me empolguei. Mas não passaram de mero confete. Espuminha de canapé. Muita pompa pra pouca sustância.

Muitos foram doces. Saborosos, daqueles que dão vontade de não parar nunca de provar. Derretiam na boca. Borbulhavam o estômago ao sentir o cheiro. Acalentavam a alma depois de comê-lo. Mas acabaram-se, sem direito a repetir, tampouco a sobremesa.

Também vieram os corações surpresa (ruim). Uma bela e apetitosa casca, mas um horrível e amargo recheio. Desses não cheguei nem a terminar de comer a casca. Na primeira garfada do recheio já senti que era melhor trocar de prato.

Mas agora, o que me farta, o que me satisfaz é devorar você. O seu coração, cru, carne viva, sangrando. É dele que eu quero mais. É ele que me deixa satisfeito. Entrada, prato principal, sobremesa. Assim mesmo, sem tempero, sem preparo, sem criação. Puro, limpo, simples. Servido ao natural, como uma fruta arrancada do pé e mordida no mesmo instante.

Não quero prato. Não quero talher. Não quero guardanapo. Vou te comer com as mãos e me lambuzar.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dia dos Namorados – Parte II

- Oi.
- Oi. Que bom que você chegou! Entra...
- Você tá linda!
- Ah, bobo! Para! Tô normal, calça jeans blusinha. Nada de demais.
- Mas é isso que é mais lindo. Você não precisa de muito.
- Nossa, melhor presente de dia dos namorados que eu podia ganhar!
- Ah, é? Então deixa eu jogar fora essa sacolinha aqui.
- Não! Eu quero. O que é?
- Abre...
- Ah, que ursinho lindo. Eu adoro ursinhos!
- É, percebi. Aquele dia que acordei no seu quarto foi a primeira coisa que eu vi. Aliás, as primeiras!
- Ele vai pra lá, junto dos outros. Obrigada!
- Eu também tenho um presente pra você. Tá lá no meu quarto, depois eu pego. Vamos comer primeiro? Tô morrendo de fome.
- Vamos!
- Minha mãe deixou uma lasanha aqui... e tem refri na geladeira. E sorvete!
- Huuumm!
- Que filme você quer ver? Eu aluguei uns 4 dvds na locadora.
- Quais são? Deixa eu ver!
- Me dá um beijo antes?
- Só um.
- Só. Mas um daqueles!
Beijo (quente!)
- Você nunca tinha passado a mão na minha bunda... Assim, sóbrio. Tirando o dia do porre!
- Desculpa. Me empolguei! Não queria...
- Ei! Desculpa o quê? Quem disse que eu não gostei?
- Sério?
- Claro. Inclusive, vem cá apertar mais!
- Você não tava com fome?
- Duda...
- Eu sou bem trouxa na maioria do tempo, né?
- Não. Você é lindo. Um lindo que vai, agora, me beijar e apertar minha bunda.

CONTINUA

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Aos prantos

Diziam que ela era chorona. Manteiga derretida, frágil, facilmente abalável. Várias expressões eram usadas para defini-la. Mas ela não se importava. Ela chorava mesmo. Sem constrangimento ou qualquer tipo de vergonha. E fazia porque sabe que cada vez que a gente segura o nosso choro, um pedacinho da gente morre afogado em mágoas.

Então, que molhasse o rosto, a camisa, o lenço. Que ficasse com olhos vermelhos, inchados. Antes qualquer uma dessas coisas a se afogar naquelas dores. Ele foi embora porque quis. Ela sentia falta. Não ia esconder de ninguém.

Melhor botar pra fora e deixar que o choro escorra. Que as lágrimas se esvaiam. O que ela não quer é matar afogado, dentro dela, um pedacinho do seu coração. Ele tem que estar inteiro, pronto para um novo amor.