sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Crônica de uma traição conveniente


Na academia, ela me olha. Com uma laicra indecente, força de vontade e muita sensualidade. Ela é casada. Muito bem casada, segundo dizem por ai. Mas, na verdade, após alguns anos de união ninguém é completamente bem casado. Sempre haverão segredos.

O amor só é bom no cinema. Na vida, só é bom se doer. Mas casamento e amor muitas das vezes não tem nada a ver com sexo. Tornam-se coisas distintas, incapazes de mistura ou influência mútua. Você pode ser casado sem amar e muito menos fazer sexo. Pode fazer sexo sem amar ou ser casado. Ou pode amar sem fazer sexo ou colocar aliança no dedo. Tudo pode, se é que me entendem...

Enfim, lá vem ela. Passa por mim. E me vem o sinal. Canto de olho. Um olhar curioso, depois um sorriso provocante. Um belo indicador de que ali há uma curva para perdição. Eu viro, entro e acelero. Chamo para um papo. Direto, sem cerimônia, nem conquista. Afinal, não temos o que conquistar. Somos casados e pronto. Essa é a condição. Conversa vai, conversa vem, conversa quente.

- Vai fazer a hidro hoje? - pergunto

- Vou.

- E que a horas acaba?

- 10 da noite. Tarde, né?

- Ou cedo. Depende do que a gente queira fazer. Posso, discretamente, assistir a sua aula?

- rsrsrs. O que você quer de mim, hein?

Às 21h30 eu lá estava. Nadando na raia próxima, acompanhando aquelas pernas irem e voltarem debaixa d´água. Às 10 em ponto, ela finalizou os exercícios, mas resolveu nadar um pouco também. Não entendi (ou entendi) porque, mas aprovei, claro, e continuei.

Em 15 minutos, estávamos a sós. A luzes ainda acesas a espera do tratador e vigia. Ela saiu da piscina. Linda, cabelos longos, castanhos. E aquele andar... que andar! Subi também. Fui ao vestiário. Errei a porta e entrei no feminino. E lá estava a moça, inteiramente linda, brilhante.

Silenciosos, sorrimos e nos beijamos. Demoradamente, ardentemente e ilegalmente, nos beijamos. Ali ficamos por mais de 20 minutos. Apertados a mais pura vontade de transar. Simplesmente, trasar. Sem amor, nem pressão. Apenas uma leve e boa preocupação.

Após isso, um até logo e a sensação de praticamente nada mudou em nossas vidas. Só ganhamos alguns instantes a mais de diversão.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Riqueza

Por muito tempo eu busquei dinheiro. Por muito tempo eu quis ter mais e mais coisas. Na maior parte da vida eu fui feliz quando tinha algo novo, quando consumia, quando me tornava dono.

Queria riqueza, queria tesouros, queria luxo. Mas não queria a mim. Não queria ninguém. E aí veio você. Parecia que seria mais uma. Parecia que ia ser só consumo. Parecia que ia chegar e ir embora como as outras. Mas você ficou e eu gostei. Eu vi que tinha algo além do trabalho, do dinheiro e da ostentação.

Eu vi que tinha amor. E minha riqueza mudou. Virou sentimento. Desejo. Paixão. Tesão. Você. Acho que se fosse possível, te compraria. À vista e sem desconto. Porque você vale muito mais do que parece. Porque estar com você não tem dinheiro que pague. Não tem joia que brilhe mais que teus olhos.

E tudo mais que eu tenho ficou pra segundo plano. Ficou de lado. A bolsa de valores da minha vida agora só quer saber das suas ações. Meu cofre quer guardar teu coração. Hoje, você é meu tesouro. Você é minha riqueza. No fim do arco-íris, meu pote de ouro é você.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

E agora que a festa acabou, meu camarada?


Você está há uma semana solteiro após o término de um relacionamento de quatro anos. Numa festa, vai ao bar comprar uma cerveja e lá está ela. Mais bonita do que quando você a deixou. Acompanhada. Quem é o cara? Xis. O frio vai tomando a barriga. Seu sorriso fica amarelo. Lá vem o suor. Reintegrado ao grupo e com a cerveja na mão, você não consegue ouvir nada. Apenas levar a cerveja à boca em um ritmo anormal. Ela passa à sua frente. Finge que não o vê. Está de mãos dadas. Anda e para no meio da pista de dança. Sorri para o acompanhante e, mexendo o corpo com cara de feliz, o beija. Você olha aquilo. A garganta trava. Permanece ali uns 15 minutos, inventa uma desculpa e vai embora. Cai na cama. Irreconhecível.

Essa situação é comum entre os marmanjos. Em relacionamento, arrependimento é mais coisa de homem. As mulheres têm uma capacidade de avaliação bem mais apurada que nós. Se só imaginam que podem se arrepender, pensam, pensam, pensam e só decidem quando estão certas de que o problema é superável sem grandes transtornos.

Nós, homens, não. Somos como animais iludidos. Se a galera toda está solteira, por exemplo, na farra, logo nos sentimos tentados a cair na gandaia. Uma vez certos de que aquele vidão de noite em noite é que é bom, começamos a detonar uma rotina até então tranquila de um relacionamento. Queremos sair mais do que de costume, reclamamos das cobranças mais do que deveríamos e assim abrimos uma crise.

Nossa mente gera, então, uma ideia de que namorar é estar preso. Aquilo se intensifica a medida que se comenta aquele sentimento com os amigos. "É isso mesmo! Não deixe que ela tire a sua vida. Somos novos!", incentiva o amigão. Aquela ideia vira fixação. Em pouco tempo, você está na frente dela dizendo que não aguenta mais, que está se sentindo muito preso e etc e tal. Pede um tempo e vai embora. Tempo? Isso mesmo. Como somos muito inteligentes, escolhemos o "tempo" porque ainda se deixa uma esperançazinha e evita que ela chute o balde de uma vez ou viva na farra também.

Mas, nós, claro, caímos na farra. Bebida, azaração com a galera, liberdade! Ela nunca vai saber mesmo. Afinal, a coitada está em casa, chorando. Mas como a gente não é besta nem nada, damos uma ligadinha de vez em quando pra dizer que estamos com saudades e que o tal "tempo" vai ajudar na busca da felicidade do casal. Na segunda semana, porém, ela começa a se indignar. Já soube que você vive na farra.

Como era questão de tempo, acaba descobrindo sua ficada com uma periguete qualquer. Ai danou-se. A raiva vira decepção. E, ao contrário dos homens, elas sentem desgosto e não ciúmes. É como se ficássemos mais sujos e nojentos após uma pegada aqui outra acolá. Isso destrói o encantamento que existiu nos últimos quatro anos. Ai, bau, bau.

Quando ela resolve aparecer com outro, já era. Você pode até tentar, voltar, chorar, pedir perdão, prometer a Deus e mundo que jamais fará coisa parecida, mas já foi. A ilusão lhe tirou uma ótima e tranquila companhia. Agora terá que encontrar outra. Na farra ou em qualquer lugar.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sem empréstimo

Como assim, menina? Você vem, agora, me pedir emprestada a coleção de vinis do Chico como se não fosse nada? Depois de tanto tempo sumida você reaparece pra pedir um favor, nas suas palavras, “bobo” e não se dá nem ao trabalho de explicar o que aconteceu? Por onde você andou nos últimos 2 anos? Quer meus discos do Chico pra quê? Vai ouvir com quem?

Não, mocinha. Não é assim. Você não pode achar que vai voltar depois de ter me deixado sem nenhuma notícia sua e voltar a viver as coisas como eram antes. Tu não tem mais o prestígio que tinha. Não mesmo. A chave da porta mudou e você não entra mais sozinha pra poder revirar meus armários e prateleiras e levar o que quiser. Mesmo com a promessa de devolver rapidinho.

Eu não te empresto mais nada. Não tem coletânea de Chico, não tem antologia do Bandeira, não tem DVD do Poderoso Chefão. Não te empresto nem mesmo uma camisa pra você usar na manhã seguinte. Nem um filtro de papel pra você ir fazer café em casa. Não te empresto, nem dou mais nada. Principalmente porque você sumiu e até hoje não devolveu meu coração.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Para o ano novo

Eu não tenho grandes planos. Não pensei em nenhum pedido pra fazer quando pular as sete ondas, ou quando comer a colher de lentilha. Aliás, eu nem acredito nessas superstições. O que eu quero mesmo é que as coisas entre nós não mudem. Será que posso pedir isso?

Pedir pra continuar ao teu lado nas horas boas e ruins – na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... e todo aquele papo que o padre ainda não nos disse, mas quem sabe a gente não para pra ouvir isso nesse novo ano? Ou no próximo. Isso não importa, contanto que você esteja aqui. Fosse só por isso, eu mesmo poderia te dizer essas palavras na hora em que você quisesse ouvir. Quer agora? Eu te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te... não é assim?

Eu quero mesmo é continuar acordando com você, nem que seja só aos finais de semana. Nem que seja só um a cada mês. Nem que seja pra te levar pra casa antes do café ou pra ficar de preguiça e levantar já na hora do almoço.

Eu quero receber mais mensagens de bom dia. Quero continuar comprando teu chocolate preferido. Quero te embebedar pra você acordar de ressaca no dia seguinte e eu poder cuidar de você. Quero viajar. Quero comer. Quero sonhar. Pode pedir essas coisas?

Posso pedir pra continuar te desejando todo dia? Posso pedir pra ter um ano cheio de mensagens safadas no e-mail? Posso pedir pra gente brigar, ficar emburrado, mas depois se entender e dar risada juntos?

Por que é isso que quero. Quero você. Quero que as coisas permaneçam, mas que cresçam. Que a gente continue, mas que continue sempre pra frente. E quero te amar. Aqui, aí, lá longe, ao vento, debaixo da chuva, sem luz. Quero tua risada, teu dengo, teu carinho. Te quero rica, pobre, triste, feliz. Não interessa. Contanto que seja você. Posso querer isso pro ano que começa?