*Por Diego Amorim
Eu não sou o seu pai. Não fui eu quem trai sua mãe, por mais de uma vez e com mais de uma mulher. Não fui eu quem chegou a sua casa de madrugada, bêbado, gritou com você, empurrou seu irmão e quebrou o vaso mais caro da sala de estar. Não sou eu aquele homem estúpido e, coitado, inconsequente. Aprenda isso de uma vez por todas, meu bem.
Sei que ele não é o exemplo de homem que você gostaria de ter tido em casa. Sei que ele não é o pai que você merece nem o esposo que sua mãe sempre desejou. Mas ele é ele. E eu sou eu. Não venha descontar em mim seus traumas e suas revoltas familiares. Procure um psicólogo, um pastor, um padre, cinco amigas, vá comer chocolate, ver filmes repetidos, mas não me atormente nem coloque nossa relação em risco por conta de sua raivazinha reprimida.
Alguns problemas seus serão nossos, benzinho. Mas esse, me perdoe, é problema seu, somente seu. Pare com essa nóia de me comparar com seu pai, de cuspir em mim os olhares odiosos e as palavras ácidas que você nunca teve nem terá coragem de dirigir a ele. Chega de jogar indiretas para cima de mim. Chega de viver amedrontada, de fantasiar traições que nunca cometi, de atribuir a mim um caráter duvidoso que nunca lhe transpareci.
Meu bem, sou homem. Coisa que seu pai não pareceu ser para você. Dizem por aí que as mulheres acabam – mesmo que inconscientemente – procurando parceiros parecidos com os pais. Se é verdade, não sei. Mas se for, tenho certeza de que, no nosso caso, você errou na procura. Sou bem diferente do seu pai. Você sabe disso. Só precisa se convencer.
*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com