sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pra esquecer

Tu sabes. Eu sou um guardador. Recorte de jornal, revista, tampa de garrafa, caixinha de fósforo, cartão postal, selo, moedas. Uma infinidade de coisas que eu guardo, que eu digo colecionar, mas que na verdade é só um acumular. Preciso daquelas coisas para me sentir preenchido. Como se tudo aquilo fosse a minha história.

Mas há muito fiz algo que você consideraria um pecado: joguei fora as cartas dela. Talvez eu tenha exagerado, mas o tempo passou e não dá para mais recuperá-las. Não sei se aquele sentimento descrito naquelas linhas permanece o mesmo. Nem o dela, muito menos o meu.

Hoje, atendendo a um arroubo de organização, comecei a fazer uma nova limpa em meus armários. Entre muitos objetos sem valor, algumas memórias, recados da Laura em antigos cadernos. Beijos de batom em guardanapos. Listas de compra em que ela me pedia pra trazer leite, feijão, açúcar e afeto, naquela clara menção ao Chico que ouvíamos juntos. Ela ficava linda quando cantava as letras do Chico Buarque.

Pensei em tirar fotos antes de me desfazer de tudo, mas com alguma melancolia eu simplesmente joguei no lixo. E foi como se cada marca de batom daquela fosse tatuada na minha pele e, agora, arrancada. Escalpo. Senti dor.

Os cadernos desfolhados, como se me arrancassem os cabelos. A lista de compras no lixo, como uma completa reciclagem. De embalagens, de sentimentos.

O mundo é duro e exige força da gente. Certas memórias me lembram que sou fraco, então tento esquecê-las.

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