sexta-feira, 28 de março de 2014

Detalhes tão pequenos de nós dois*

*Por Maria Carolina


Dois personagens protagonizam uma novela do amor que acaba: aquele que tem coragem e aquele que espera o outro ter coragem. A posição deles não faz diferença, ambos sofrem. No nosso caso, calhou de ser eu a pessoa com coragem. Poderia ter sido você.

A trama segue, as coisas vão se ajeitando, a nova rotina toma seu lugar. Às vezes tem ódio, rancor, desilusão, ingratidão. Às vezes tem carinho, afeto, saudade. Esses sentimentos compõem o enredo dessa novela que todos nós vivemos.

O alimento ao ego daquele que esperou é sempre uma notícia, uma carta, um indício que prove que o outro lembra. Tem saudade.

Pois aí vai tua comida: eu lembro. Tenho saudades nas noites de domingo enquanto limpo a casa, vou ao mercado e compro minhas maçãs.

Tem mais: às vezes fico enrolando pra sair do trabalho. Não quero chegar em casa e não te encontrar. A sua não presença, tão necessária à minha vida agora, me incomoda de vez em quando.

Lembro quando decoro a casa, quando ajeito meus sapatos, quando a casa está suja, quando está limpa, quando cozinho. Lembro quando recebo as visitas que você adorava e quando recebo as pessoas que não podia receber porque você odiava.

Nessas horas, o meu refúgio é o quarto. Ao contrário do que cantou o rei Roberto, você não habita a cama. Me desculpe se sua vingança não vai ser completa.

Mas se quer saber, eu realmente duvido que alguém tenha tanto amor.

*O Blog Alguns Momentos publica, uma vez por mês – sempre na última semana –, um texto de um amigo do blog. Tem uma história para contar? Quer escrever também? Mande seu texto para blogalgunsmomentos@gmail.com

sexta-feira, 21 de março de 2014

Escolhas

- Oi, amiga!
- Oi, Lu.
- Você tá com uma cara...
- É. Tô precisando falar sério com você. Papo de melhor amiga.
- Que foi?
- Eu não quero perder sua amizade, Luana. Mas eu to apaixonada pelo Duda. Ele me pediu em namoro e eu recusei, disse que era melhor a gente continuar como estava e só fiz isso porque fiquei com medo da sua reação sobre tudo isso.
- ... Ai, Jana... Nem sei o que dizer...
- Eu sei que você gosta dele. Não é de hoje. A gente já falou sobre isso tantas vezes, né? Mas, eu não sei, de verdade, por que você me incentivou a ficar com ele. Nem por que eu topei, mesmo sabendo de tudo. Mas aconteceu e agora essa é a situação.
-...
- Fala alguma coisa!
- Eu não sei! Eu também tô confusa! Eu também não sei por que botei essa pilha. Eu não sei por que isso passou pela minha cabeça.
- Mas o que eu faço agora?
- Não sei, Jana! A vida é sua. Faz o que você quer!
- Eu quero namorar o Duda.
- Então namora, vai lá! Se entrega pra ele. É o que você quer. É sua vida!
- Mas eu não queria isso. Essa sua reação.
- Eu também gosto dele! Eu também queria estar com ele. Como você quer que eu reaja?
- Por que você me pilhou pra ficar com ele?
- Porque eu sou burra! Porque eu sou medrosa. Porque eu achava que ele era lindo e legal, mas podia beijar mal. E aí queria te usar pra fazer um teste! Queria que você fosse lá, ficasse com ele, dissesse que era bom, mas não se apegasse. NEM VOCÊ, NEM ELE!
- Você tava me usando de isca? É isso? E agora ta me culpando por ter me apaixonado? Eu não tenho controle sobre isso.
- MAS VOCÊ SABIA QUE EU QUERIA FICAR COM ELE! VOCÊ NUNCA QUIS!
- Para de gritar, Luana! Conversa que nem gente. Eu vim aqui pra resolver o problema, não pra criar outro.
- Então tá resolvido. Você vai namorar o Duda. Eu vou seguir sozinha. Pronto. Pode ir embora.
- Eu não quero deixar de ser sua amiga.
- Eu não quero minha amiga namorando o cara que eu gosto. Se sua escolha é namorar, não vou poder ser sua amiga.
- ...
- Não dá. Como você acha que vou me sentir com você contando sobre vocês? Sair com vocês? Ir ao cinema com vocês?
- Do mesmo jeito que foi até agora, ué?
- E você acha que eu não sofri até agora? Você acha que eu me senti bem com você contando que seus pais adoram ele? Que ele até já dormiu na sua casa?
- Não rolou nada do que você tá pensando.
- NÃO INTERESSA! AGORA VAI ROLAR. VOCÊS VÃO NA-MO-RAR!
- Luana, olha só...
- Jana, melhor você ir. Vai lá, namora ele. Me deixa aqui. To nervosa já. Deixa pra lá... deixa eu pensar, absorver.
- Lu, você sempre foi e sempre será minha melhor amiga. Não quero perder você por causa de um cara, por mais que eu esteja apaixonada pelo Duda.
- Jana, é o seu momento. Eu to muito nervosa, chateada. Mas não é só com você. É comigo também. Com as ideias imbecis que eu tenho. E eu não quero que você perca isso. O Duda é muito legal e você merece. Eu vou ficar chateada? Sim. Mas passa. Eu me acostumo. Só me dá um tempo, por favor? Vai embora.
- Lu...
- Vai!

Este texto faz parte da primeira tentativa deste blog de criar uma história longa e não apenas um conto. Acompanhe a continuidade dele pelo marcador #desenvolvimento

sexta-feira, 14 de março de 2014

Pra você ir aprendendo

Oi. Tudo bem? Então, isso aqui é pra te contar algumas coisas que você ainda não sabe, mas tenho certeza que com o tempo vai aprender. Tô só simplificando e jogando logo umas ideias assim pra você ir sacando um pouco do meu jeito e da forma como eu ajo.

A primeira é essa que está aí bem clara: eu sou ansioso. Você podia descobrir tudo sozinha, mas é que eu já estou fazendo planos ao longe e quero que você já tenha noção disso, entende? Pois é. Mas eu to tentando trabalhar isso e ser mais relax. Quem sabe você não me ajuda.

Outra coisa é que comigo acaba quase sempre assim, em escritos. Eu gosto de escrever e você vai receber vários escritos meus no passar do tempo. Uns inspirados, outros bobos, muitos práticos, a maioria sem sentido algum, mas acho que você vai entender.

Acho que também é bom eu ir te dizendo logo que adoro acarinhar. Assim, de ficar quieto, sem fazer nada, só ali no cafuné. Eu mudo de posição, de lugar, mas me deixa ali quietinho te fazendo carinho por um tempo que vai ser bom.

E bem, não sei se ainda preciso dizer isso, mas eu gosto de você. E se você gostar de mim, quem sabe, aí não dá alguma coisa. Nós dois de mãos dadas por aí. Pode acontecer de ser você, né? Então já leva isso com você.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Paz

Hoje me deu uma saudade danada de te sentir deitada no meu peito. Era ali que eu te sentia completamente minha. Não porque você estava adormecida e eu poderia – em tese – fazer qualquer coisa, como se você fosse um objeto. Mas porque eu era, naquele momento, a sua paz. E você a minha.

Você, sempre tão atarefada. Sempre tão cheia de listas de coisas ainda pendentes. Estudar, escrever, ler, limpar, lavar, cozinhar, visitar, ligar, pesquisar, ajudar, encontrar, organizar. E ali, quando, no meio desse tanto de coisa, você tinha um tempo pra nós dois, te sentir relaxada a ponto de dormir no meu colo, meu peito, minha barriga, era muito bom.

Você, feito um bebê, ressoava, no indicativo de sono profundo. Aquele que você não tinha tido na noite anterior na sua cama, no seu quarto, porque lá a lista de coisas estava presente. Comigo você esquecia tudo e descansava. E acordava renovada pra voltar pros seus afazeres.

E a sua renovação me renovava, a sua paz me trazia paz. E me deu uma saudade danada disso.