sexta-feira, 22 de março de 2013

Cuidado


É fácil dizer “se cuida”. Difícil é ouvir. Principalmente quando você está caindo no abismo, precisando de uma corda pra se segurar e é o dono da corda quem diz: Se cuida! E vira as costas, andando com o que te salvaria pendurado no ombro.

É claro que sei me cuidar. É claro que não vou morrer. Lá em baixo, no fim da queda tem um colchão de ar pra me amortecer. Mas pra que me deixar cair, é o que pergunto. Por que me deixar nessa queda longa, me debatendo entre pedras e galhos que tento agarrar no meio do caminho? Por que me deixar nessa viagem que parece interminável e que toma meu ar?

Qual tua necessidade de me ver sofrer? E sabendo que vou passar por tudo isso ainda vir me dizer “se cuida”. Porra! É claro que eu me cuido. Não vou deixar de tomar o remédio pra tosse. Não vou deixar de limpar as orelhas com cotonete. Nunca vou trocar as três refeições e os lanches saudáveis entre elas por porcaria e fritura. Não vou tomar refrigerante também. Sim, eu sei e vou me cuidar.

Mas adianta de quê? Eu não quero esse cuidado que me dou. Eu quero o seu cuidado. A tua ligação só pra saber se tá tudo bem, o teu e-mail com aquela promoção da loja que eu mais curto e você descobriu que tá em liquidação. Eu quero o teu colo. Teu peito pra me aninhar no domingo à tarde enquanto passa qualquer bobagem na tv. Eu sei me cuidar, mas eu quero que você cuide de mim.

Um comentário:

  1. O "se cuida" já é um sinônimo de "oi, tudo bem", e tu nunca responde se tá bem, se não tá, é um descaso implicito em três palavras....

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