Porque desde que me reconheço como alguém que se relaciona com outras pessoas, as coisas são assim. É preciso que o outro tenha algo de interessante para me oferecer.
Era o chocolate que a tia dava em troca do aperto na bochecha. “Coisa fofa da tia! Toma aqui esse bombom!” Era a metade da mesada que a irmã oferecia em troca de silêncio. “Não fala nada pra mamãe!” Era o jogo novo de megadrive que o vizinho chato deixava você jogar. “Ah, não! Agora é minha vez. O jogo é meu, você não pode zerar antes de mim!”
Depois, quando as coisas mudam na nossa cabeça, os interesses passam a ser outros, as moedas também trocam.
Aí vale que a Martinha era a mais gata do colégio. Vale que a Larissa tinha a maior bunda ou que alguém disse que a Camila deixava passar a mão nos peitos. Não importava quão chata fosse a Martinha, nem o bafo da Larissa. Tampouco a cara espinhenta da Camila. Era uma troca justa.
Mais tarde, e com mais experiência, passamos a analisar melhor. É claro que beleza continua sendo um grande atrativo. Mas além dela passamos a ver outras coisas: bom papo, vida interessante, bom humor, condição de nos proporcionar algo mais... Uma série de coisas que você viu em mim e eu vi em você. Por isso seguimos em frente.
O que me assusta agora é teu papo de não calcular mais nada. Como assim? Você vai achar alguém na rua e dizer: você agora é meu namorado! E pronto? Sem saber nada sobre a pessoa? Sem saber se o beijo é bom? Sem saber se ele sabe te fazer gozar, se ele gosta de viajar, de futebol, de vinho? Se ele sabe te ouvir e dar conselho? Se ele vai ser educado com você, com o porteiro, com sua família?
Eu não entendo, mas desejo boa sorte. Você vai precisar. Porque de duas uma: ou vai perder tempo com um monte de gente doida, ou vai eliminar um monte de gente quando perceber que não dá pra ser desse jeito que você diz. “Não quero que as coisas aconteçam de forma planejada, pensada.” Pois aí, sim, você vai ter percebido que ele beija mal. Que aquele outro usa perfume doce. E ainda tem aquele que usa camisa jeans. Pior, o outro que era lindo e fofo. Aí te comeu e virou um babaca porque só queria mesmo te comer.
Enfim, sorte. Você vai precisar.
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