Era incrível como acontecia sempre. Mas só dentro do carro. Tudo bem em todos os lugares. Tudo certo na frente das pessoas. Entre os amigos passava-se despercebido. Na fila do banco ninguém notava nada, tampouco no self-service na hora do almoço. Era capaz até que “quem o visse lendo o jornal na fila do pão” achasse que ele estava apaixonado.
Não que não estivesse. Sim, estava apaixonado. Continuava apaixonado. Mas aquele comportamento, aquela situação era sempre quando dava partida no motor e engatava a primeira marcha. Não acontecia em meio aos outros. E era um momento de tristeza, apesar da paixão.
Sabe aquele personagem do Maurício de Souza que vive com uma nuvem em cima da cabeça e chove o tempo todo sobre ele? Ele se transformava nesse personagem quando entrava no carro. E chovia, chovia muito. Mas não molhava a cabeça. Chovia só na face. Chovia só sua dor. Eram gotas de saudade, chuvisco de falta.
Era o único momento que ele tinha pra chorar sem parecer um fraco. Sem querer parar tudo que estava fazendo para ir até ela e dizer que não fizesse aquilo. Era só ali, dentro do carro, que ele podia chorar, mas se manter firme no trajeto que tinha sido traçado antes de sair.
Passa a segunda. Acelera e vai. Liga o limpador do pára-brisa se for preciso. Terceira. Quarta. Quinta.Chora, inunda, alaga. Mas quando chegar, para. Para e segue vivendo.
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